30.6.06

O listão da Embr... quer dizer, Petrobras!

Saiu enfim o listão anual de patrocínio da Petrobras, e esse ano tem uma notícia especialmente feliz para nós aqui da redação da Contra: nosso ex-editor Valentón teve seu projeto Vórtice escolhido para receber apoio, junto com outros 26 longas (além de outros tantos curtas em película e vídeo digital).
Há alguns outros nomes que nos deixam felizes ao encontrar nessas listas além do Valente, como acontece todo ano. Hoje em dia tem cota pra tudo, não tem? Pois então, essas listas de patrocínio têm sempre uma cota de projetos maneiros. E ainda bem, né?
Enquanto isso, na sala de justiça, o barco vai sendo tocado com a presença dos velhos suspeitos de sempre. É o esquema que nos resta enquanto não há modo de fazer os filmes serem realmente exibidos e vistos e enquanto não há o menor risco do sucesso obtido por alguns filmes gerar novos filmes.
Agora vamos torcer pro filme do Valentoni ficar pronto logo (e da minha parte, ainda no reino das amizades, o Jobim do Nelson, o Tainá 3, o curta do Kleber....)
Daniel Caetano

23.6.06

Aïnouz no Rio e nos EUA

Na expectativa da finalização de Rifa-me, seu novo filme, chegam duas notícias legais sobre Karim Aïnouz. A primeira é de um evento que acontece aqui no Rio de Janeiro: o cineclube da ABD vai apresentar três filmes seus na sessão de amanhã, sábado, dia 24/06. É na sala de exibição da Casa de Ruy Barbosa, em Botafogo, às 16hs, e vai exibir os filmes Paixão Nacional, Seams e Sertão de Acrílico Azul Piscina.
A outra notícia está publicada numa matéria da Revista de Cinema que nos conta da estratégia escolhida e do bom público que Madame Satã vem obtendo nos EUA. Se vista como sinal de algo mais do que uma mera curiosidade do tipo "vencendo na América", a notícia pode sugerir algumas perspectivas otimistas com relação a uma troca de idéias interessante entre alguns cinemas brasileiros e americanos. Vamos ver no que isso vai dar, né?
Daniel Caetano

16.6.06

Gustavo Dahl na Folha

A Folha publicou hoje uma entrevista com o diretor da Ancine feita pela Silvana Arantes. As perguntas foram precisas - já as respostas parecem procurar o equilíbrio de quem pisa em ovos. Afinal, não é muito fácil defender um projeto de lei que mantém uma situação cujos problemas há tanto tempo vêm sendo apontados pelo próprio entrevistado...
Daniel Caetano

13.6.06

Para melhorar o projeto de lei

Bem, lá vou eu postar uma nota mal-humorada em pleno dia de estréia da seleção brasileira na Copa.
Mas volto ao assunto do novo projeto do governo para a Lei do Audiovisual, que já motivou uma nota aqui embaixo e algumas matérias - muito poucas, na verdade: o Calil apontou na Nominimo o aspecto das relações com as redes de TV, a Silvana Arantes publicou a matéria que eu citei na nota anterior e, bem, mais nada. No Rio de Janeiro, nem um pio sobre o assunto.
Mas ninguém aqui é contra a existência de leis de incentivo, o que a gente defende é que elas sejam reestruturadas, pra corrigir erros já bastante conhecidos. Como o projeto de lei já foi remetido ao congresso, a melhor das hipóteses é que algum deputado iluminado tenha a disposição de propor algumas emendas razoáveis a ele.
Acho que a mais óbvia (pelo menos para quem costuma ler o que a gente publica aqui) é a de que todos os filmes produzidos com incentivo público devem ser exibidos na rede de televisão pública após um certo período de comercialização (algo como três, quatro anos). Caso isso tivesse sido feito em 2002, hoje o governo do Lula poderia se orgulhar de ser o primeiro governo a exibir na rede pública, como TVE e Cultura, filmes brasileiros que foram grandes sucessos de público (como foi o caso de, por exemplo, Cidade de Deus) ou de crítica (O Invasor, por exemplo). Quando será que isso vai acontecer? Nunca na história desse país?
Outra seria a de propor que a renda dos filmes incentivados tivesse que ser reinvestida em novos filmes ou repassada ao Fundo Nacional de Cultura - nem que fosse parcialmente. Assim, o dinheiro de incentivos não teria que ser inteiramente renovado ano a ano, pois continuaria estimulando novos filmes.
E cineastas cujos filmes não fizessem grande público, não apresentando o retorno financeiro, precisariam fazer seus filmes seguintes com orçamento mais reduzido. Não faz sentido nenhum culpar um filme ou um cineasta pelo fracasso nas bilheterias - isso seria uma ditadura burra do mercado, e a verdade é que o mercado é completamente distorcido e desigual, sobretudo por falta de legislação e, quando há legislação, por inação do Estado. Mas uma coisa é não culpar, outra é fingir que não há nada de errado em filmes caros não terem público. Filme com pouca garantia de público tem que ter orçamento baixo, isso é o óbvio. Como dizia o Roberto Santos e vive repetindo o Carlão Reichenbach, o cinema brasileiro precisa saber transformar a falta de recursos em elemento criativo. Encher de recursos financeiros nem sempre ajuda os filmes, ao contrário do que sugere a lógica empresarial.

Caso nenhuma dessas propostas mereça atenção de nossos legisladores, há ainda uma última, sugerida pelo compadre Remier: um Curso de Atualização Cultural para alguns de nossos cineastas (inclusive da jovem guarda). O MinC não promove Oficinas nos seus concursos de roteiro e de documentário? Pois bem, que façam o mesmo com os projetos das leis de incentivo! Seria uma espécie de curso de reciclagem. O que vocês acham? Faz sentido, não?
(Bem, antes que perguntem, é óbvio que a gente admira muito alguns dos realizadores brasileiros, que certamente não precisam de reciclagem nenhuma, precisam é ter condições pra fazer mais filmes. Já alguns outros, por sua vez... Acho que nem preciso dizer nomes - basta acompanhar nossa seção de críticas pra perceber o que a gente considera joio e o que é trigo).
Daniel Caetano

12.6.06

Premiação do FBCU

Os jovens cineastas Júlia Zakia e Álvaro Furloni foram os grandes vencedores do 10º Festival Brasileiro de Cinema Universitário, que terminou ontem, numa sessão de premiação lotada e algo atribulada no Centro Cultural dos Correios. A Estória da Figueira levou dois dos seis prêmios de destaque em película, numa forma de evidenciar uma preferência maior entre os filmes premiados por parte do júri. Além disso, o filme de Júlia Zakia foi segundo lugar na votação do público e foi um dos três filmes selecionados no informal prêmio dado pelas curadoras do Cachaça Cinema Clube. Já Furloni teve seu Frio premiado entre os destaques de vídeo do júri oficial, seu filme Quem Vai Chorar Quando Eu Morrer? eleito com o prêmio do público e teve seu roteiro "Esconde Esconde" selecionado para ser o próximo filme do Projeto Sal Grosso, a ser produzido e finalizado nos próximos 365 dias e ser exibido ao final do próximo FBCU. Quanto a A Goiabeira, mais novo rebento do projeto, pode-se dizer com alguma tranqüilidade que é o mais fraco da família, tecnicamente deficiente e expressivamente nulo. Sobre o resto dos filmes, comentaremos mais nos próximos dias. Abaixo, a premiação completa do Festival:

Película
Contribuição artística: A Estória da Figueira, de Júlia Zakia
Contribuição técnica: Alice, de Rafael Gomes & Ímpar Par, de Esmir Filho
Expressão poética: Luzia Passou por Aqui, de Letícia Paiva e Paulo Mendel
Expressão cultural: A Estória da Figueira, de Júlia Zakia
Pesquisa de linguagem: O Latido do Cachorro Altera o Percurso das Nuvens, de Camila Márquez, Estevão Garcia, Pedro Urano, Raul Fernando e Rebeca Ramos
Retrato da realidade nacional: Rap, o Canto da Ceilândia, de Adirley Queirós
Menção honrosa: [Opus.(Nôumeno)], de Filipe Moura
Prêmio ABD&C: [Opus.(Nôumeno)], de Filipe Moura & O Latido do Cachorro Altera o Percurso das Nuvens, de Camila Márquez, Estevão Garcia, Pedro Urano, Raul Fernando e Rebeca Ramos, com menção honrosa para Rap, o Canto da Ceilândia, de Adirley Queirós
Prêmio de público: Quem Vai Chorar Quando Eu Morrer?, de Álvaro Furloni (e, até o décimo lugar, em ordem decrescente de pontos: A Estória da Figueira, Velha História, Alice, Ímpar Par, Rap, o Canto da Ceilândia, Mar de Memórias, A Vingança da Bibliotecária, Arraiada, Tempo Real)

Vídeo
Contribuição artística: Sem Título, de Caio Polesi
Contribuição técnica: Estertor, de Davi Moori, Diogo Dias e Victor Reis & Revés, de Christian Schneider
Expressão poética: Frio, de Alvaro Furloni
Expressão cultural: Bitola Cabeça Super 8, de Gabriela Barreto e Vitória Araújo
Pesquisa de linguagem: Vídeo para Camila, de Luiz Paulo Iazzetti
Retrato da realidade nacional: A Sentinela, de Michelle de Paula
Menções honrosas: A Cena Perfeita, de Ricardo Rodrigues; 1964: Encontro com a Memória, de Marcelo Santos, Raphaella Vieira e Michel Bamps; Chorume, de Hélio Villela Nunes & Marionetes, de Wesley Rodrigues de Oliveira
Prêmio ABD&C: Chá das Cinco, de Raphael Lemos da Fonseca
Prêmio de público: Chá das Cinco, de Raphael Lemos da Fonseca (e, até o décimo lugar, em ordem decrescente de pontos: Chorume, Estertor, Frio, Jonas e a Baleia, A Outra Filha de Francisco, Dias Úteis, O Perdedor, Fim de Expediente, O Jogo)

Internacional
Contribuição artística: Melodramat, de Filip Marczewski (Polônia)
Contribuição técnica: Our Man in Nirvana, de Jan Koester (Alemanha)
Expressão poética: La Plaine, de Roland Edzard (França)
Expressão cultural: Mast Qalandar, de Till Passow (Alemanha/Paquistão)
Pesquisa de linguagem: Os 30 Piratas de Mariko, de Mariko Tetsuya (Japão)
Retrato da realidade nacional: Be Quiet!, de Sameh Zoabi (França/EUA/Palestina)
Prêmio de público: Premium, de Alexandru Ionescu (Romênia)

Outros prêmios:
O cineclube Cachaça Cinema Clube premiou os seguintes filmes com uma garrafa de cachaça e os selecionou para exibição na próxima edição do evento: Luzia Passou por Aqui, de Letícia Paiva e Paulo Mendel (como "melhor filme importante"), O Latido do Cachorro Altera o Percurso das Nuvens, de Camila Márquez, Estevão Garcia, Pedro Urano, Raul Fernando e Rebeca Ramos (como "melhor filme-exposição") e A Estória da Figueira, de Júlia Zakia.
O site Curta o Curta premiou o belo (e injustamente esquecido pelo júri oficial) Saba, de Thereza Menezes e Gregorio Graziosi, com exibição pela internet e distribuição para dez festivais nacionais.
Ruy Gardnier

8.6.06

Não se mexe em time que está ganhando!

Está disponível na internet o Projeto de Lei que contém o que o Secretário Orlando Senna chamou de "pacote de bondades".
Nele, o governo, a partir de um documento assinado por Gilberto Gil, Dilma Roussef e Guido Mantega, apresenta ao Congresso a proposta de prorrogação e ampliação da Lei do Audiovisual. O mecanismo mais conhecido da Lei (o de investimento através de cotas negociadas na bolsa de valores, com desconto no imposto de renda) é prorrogado até 2010. O mecanismo usado na Lei Rouanet (o de patrocínio direto, com desconto no imposto de renda) passa a fazer parte da Lei do Audiovisual, com validade até 2016.
Como é sabido, há cineastas que defendem que o mecanismo seja prorrogado por mais uns mil anos, até o ano de 3016. Bem, quem sabe se reelegerem Lula até lá... Ou FHC, já que não faz a menor diferença mesmo...
É de fato curioso perceber que o governo atual demorou três anos e meio para decidir que o melhor a fazer é repetir todos os passos do antecessor. E assim segue a vida no Planalto.
Cá na planície, uma curiosidade: o boletim da Filme B (disponível só para assinantes) nos informa que não há sequer um filme brasileiro entre as vinte maiores bilheterias da semana passada. A vigésima maior bilheteria ficou com 16 Quadras, de Richard Donner, que em sua sétima semana em cartaz obteve 1.559 espectadores. Os filmes brasileiros em cartaz tiveram bilheteria abaixo desse número na semana passada, todos eles. Pudera: as pessoas vão pouco ao cinema hoje em dia - quando vão, têm comportamento de manada, indo em sua imensa maioria ver os mesmos blockbusters. Os outros filmes são vistos em casa.
Há alguma referência no Projeto de Lei a maneiras de fazer os filmes serem acessíveis através de DVDs ou da televisão? Pago um jantar pra quem me apontar.

Mas tudo bem. Com Kaká, Ronaldinho, Ronaldo e Adriano, somados a uma boa aliança com o PMDB, um partido jovem e cheio de propostas, não vai ter quem segure esse país!

Olha, não sei se sou só eu, mas, sinceramente, nessas horas eu fico com saudade do futuro.
Daniel Caetano

3.6.06

Ilha das Flores (mal) plagiado

Está disponível no Youtube Dance, Monkeys, Dance, um curta assinado por Ernest Cline. Nunca ouvi falar de outros trabalhos dele, mas esse aqui, como o início logo deixa evidente, é bastante "influenciado" pelo filme do Jorge Furtado, o já clássico Ilha das Flores.
Vale contar uma curiosidade acerca de influências: o Bruno Andrade (que fez parte da Contra por bastante tempo) sempre apontou uma forte semelhança entre o curta do Jorge Furtado e um filme chamado Chronique D'Un Repas (que se poderia traduzir para "Crônica de uma refeição"), do Luc Moullet. Na verdade, isso se misturava à implicância do Bruno com os trabalhos do Furtado, talvez por causa da rivalidade regional (Bruno é catarinense, Furtado é gaúcho...). Bem, até que um belo dia, há poucos meses, apareceu um artigo na Cahiers du Cinéma fazendo um longo elogio ao trabalho do Furtado, sobretudo Ilha das Flores, escrito por... Luc Moullet! O resultado é que até hoje eu sacaneio o Bruno por isso.
De todo modo, não vi o filme do Moullet (é uma pena, gostaria de ver), mas vi o filme do Cline. A "influência" de Ilha das Flores não é discreta - o início é praticamente idêntico (apesar de, curiosamente, o filme americano ter uma produção bem mais pobre). No entanto, afora questões meio velhas e talvez ultrapassadas sobre originalidade e cópia, o filme de Cline me pareceu bastante inferior pelo seguinte motivo: ele todo parece ser uma declaração de nojo e desprezo pela humanidade - atitude absolutamente contrária à do filme do Furtado e, de resto, uma perspectiva lamentável para qualquer filme.
De todo modo, para quem quiser tirar suas próprias conclusões, fica o link ali no alto dessa nota.
Daniel Caetano

2.6.06

Humor à Francesa

Dessa mini-mostra de comédias francesas que começa hoje no Odeon-BR, a maioria da lista é de comédia populares - a exceção é o filme do Bruno Podalydès.
Os Bronzeados e Papai noel é um picareta são filmes cult, desses que o pessoal vê e revê e a galera comenta em reuniãozinha quando rola sessão nostalgia. Ambos foram escritos e são interpretados por uma trupe que ficou famosa: La Troupe du Splendid (Josiane Balasko, Michel Blanc, Thierry Lhermite, Gérard Jugnot,Christian Clavier e Marie Anne Chazel). Todo mundo na França conhece motes e frases desses filmes. Eu diria que são bem interessantes, satíricos. Os Bronzeados, do Patrice Leconte, caricatura a classe média dos anos 70. O Papai noel é um picareta vai no estilo 'Feios, sujos e malvados'.
O Asterix e Obelix: Missão Cleópatra é uma bela tentativa de adaptar e atualizar o humor do gaulês. Tem algumas boas sacadas. O diretor é oriundo da tv, onde era humorista.
Os Visitantes é uma comédia bem clássica (tipo Rabi Jacó). Quando eu vi, achei bem divertido. O Poiré é um especialista de comédias da velha guarda, com altos e baixos.
O filme do Bruno Podalydès me decepcionou um pouco, até porque o Dieu seul me voit, primeiro filme dele,
é do caralho e esse ficou aquém. Mas é filme que vale a pena ver.
Os outros filmes da mostra eu não vi, só posso contar que o da Balasko é em cima do tema da homosexualidade feminina, não garanto a sutileza da abordagem; e o Bernie vai na onda da comédia trash, gore. O Dupontel começou com sketches muito engraçados em que o personagem principal era invariavelmente drogado, imbecil, tarado, etc. Tipo um Geraldão ainda mais trash...
Carim Azeddine