25.6.08

Esse blog não será atualizado.

Ele foi feito pra evitar que se perca o que foi escrito no contra-blog do Plano Geral da Contracampo. Tudo que foi publicado lá fica aqui, acessível para consulta.

Outros textos do redator que manteve esse blog podem ser encontrados em http://passarim.zip.net/

22.5.08

Mostra Nas Bordas do Cinema Brasileiro, em SP

Começa na semana que vem uma mostra bastante singular num campus da universidade Anhembi-Morumbi: esta Nas Bordas do Cinema Brasileiro, que reune filmes brasileiros de orçamento zero, frequentemente chamados de trash. Segue abaixo a programação:

27/05, 19hs30
Recuerdos da República (2002), de Marcos Bertoni, São Paulo/SP, 6 min.
Gringo não perdoa, mata (1995), de Afonso Brazza, Brasília/DF, 78 min.

28/05, 11hs00 às 14hs00 e 19hs00 às 23hs00
Rambú III, o rapto do Jaraqui Dourado (2007), de Manoel Freitas, Junior Castro & Adilamar Halley, Manaus/AM, 32 min.
A bruxa do cemitério (2004), de Semi Salomão Neto, Apucarana/PR, 45 min.
A rede maldita (1991), de Simião Martiniano, Recife/PE, 123 min.

29/05, 11hs00 às 14hs00 e 19hs00 às 23hs00
O homem sem lei (2006), de Manoel Loreno, Mantenópolis/ES, 72 min.
Canibais & solidão (2006), de Felipe M. Guerra, Carlos Barbosa/RS, 100 min.

30/05, 11hs00 às 14hs00 e 19hs00 às 23hs00
Zombio (1999), de Petter Baierstorf, Palmital/SC, 45 min.
Minha esposa é um zumbi (2006), de Joel Caetano, São Paulo/SP, 24 min.
O suicídio (2007), de Pedro Onofre, Maceió/AL, 100 min.

Como se pode ver, estão incluídos alguns filmes realmente lendários entre os cultores de filmes mais malucos. De certa forma, estes filmes todos têm a coragem (o desplante? a cara de pau?) de explicitar a indigência como forma de dar personalidade a este cinema.
Fica então a dica para quem é de Sampa e puder conferir a programação.
Daniel Caetano

14.5.08

Trailer do novo Mojica

Como o pessoal já sabe, a chave de ouro que fechou a primeira edição do Riofan foi uma homenagem ao grande Mojica - e, nessa homenagem, foi apresentado pela primeira vez o trailer do seu novo filme, A Encarnação do Demônio, que deve estrear no início do segundo semestre.
Pois bem, o trailer já está disponível na web. Quem me conhece sabe que não sou muito de trailers, mas esse está nota dez. Cumpre o papel fundamental que cabe a um trailer: impressiona e dá vontade de ver o filme. Que venha logo, então!
Daniel Caetano

19.4.08

Dica

O Jornal do Brasil publicou hoje um bate-bola entre Carlão Reichenbach e Andrea Tonacci, por conta das estréias de seus filmes aqui no Rio de Janeiro. Para quem quiser conferir na web, Carlão publicou a conversa na íntegra no seu blog.
Daniel Caetano

19.3.08

Retratos documentais na Caixa

Começou hoje na Caixa Cultural daqui do Rio de Janeiro a mostra de filmes Eu É Um Outro, organizada pelo pessoal da Cinética, com curadoria dos camaradas Valente e Cléber e produção do Léo Mecchi.
É uma seleção de filmes que vale acompanhar - trata-se de um panorama bastante ambicioso da produção documental brasileira recente, enfocando os filmes que procuram traçar retratos de diversas pessoas: personalidades, gente desconhecida, grupos sociais ou regionais. A apresentação do conceito e a programação da mostra podem ser acessadas no site da revista.
De quebra, além dos filmes rolarão vários debates bem promissores. O de hoje, 19 de março, conta com as presenças de Eduardo Coutinho e dos redatores da Cinética (e também realizadores) Cléber Eduardo e Ilana Feldman.
Daniel Caetano

28.2.08

Um ano de Polvos, com crítica e realização

Cheguei hoje em Belo Horizonte para participar da 1ª Mostra Filmes Polvo de Cinema e Crítica, organizada pelo pessoal para comemorar um ano de existência do site. A idéia da mostra é juntar filmes realizados por críticos de cinema e trazer o pessoal para debater - vão juntar a gente com figuras incríveis como Geraldo Veloso, realizador do mítico Perdidos e Malditos. Para quem estiver em BH e proximidades, o programa é imperdível. O filme de abertura não poderia ser mais adequado: é Crítico, o documentário do Kleber Mendonça Filho sobre as relações entre cineastas e críticos - isso acontece hoje na Sala Humberto Mauro, às 20hs.
E, claro, os polvos merecem parabéns pelo aniversário. Que seja o primeiro de muitos.
Daniel Caetano

26.2.08

Macalé no Odeon

Outra dica: amanhã, quarta-feira, às 21hs, Jards Macalé vai tomar conta do Odeon - como convidado especial do Cachaça Cinema Clube. Vai rolar a primeira exibição pública do curta-metragem Tira os óculos e recolhe o homem, do bróder André Sampaio, em que Macalé tem dois papéis - ele é o ator que intepreta tanto a si mesmo, Macalé, como ao grande Moreira da Silva (em que ele parece mais convincente). Depois do curta, show do grande Jards.
Noite imperdível, portanto. Isso acontece amanhã, 27/02, a partir das 21hs no Odeon.
Daniel Caetano

Som na Caixa!

Está rolando desde a semana passada em São Paulo a mostra O Som No Cinema, que já foi apresentada na Caixa Cultural daqui do Rio e nasceu da pesquisa de doutoramento do Fernando Morais. O programa é coisa fina: estão reunidos na mostra alguns dos filmes mais representativos da evolução das técnicas de som no cinema e, além das sessões de filmes, também estão acontecendo palestras com algumas figuras tarimbadas. Os horários da programação podem ser conferidos na página da mostra - e os organizadores avisam que, após São Paulo, a mostra seguirá para Salvador, sempre nos centros culturais da Caixa.
Daniel Caetano

18.2.08

Última semana de inscrições para o Riofan!

Logo aqui embaixo eu contei que estava abertas as inscrições para o Festival de Cinema Fantástico do Rio de Janeiro, o Riofan, que vai acontecer aqui no Rio a partir do final de abril. Pois bem, vale avisar que o período de inscrição foi prorrogado até a próxima sexta-feira, dia 22/02.
Portanto, quem tiver um filme fantástico debaixo do armário que trate de ir ao site, preencher a ficha e correr para uma agência de correio com o DVD.
E logo logo vai chegar a hora de juntar os espíritos de todos esses filmes em certas salas de cinema.
Daniel Caetano

5.1.08

Helena

O ano cinematográfico de 2008 começa forte aqui no Rio de Janeiro: com uma homenagem à maior das atrizes de cinema, Helena Ignez. Isso vai acontecer na Caixa Cultural a partir de terça-feira, 8 de janeiro, com exibição de vários filmes até o dia 20 - a entrada é franca. No programa ao longo destes dias, obras de Julio Bressane (Cara a Cara, A Família do Barulho, Barão Olavo, o Horrível, São Jerônimo), Glauber Rocha (O Pátio), Olney São Paulo ( O Grito da terra), Joaquim Pedro de Andrade (O Padre e a Moça), Elyseu Visconti (Os Monstros de Babaloo) e, claro, muitos filmes de Rogério Sganzerla, entre outros.
Toda a programação é imperdível, mas vale ressaltar que no dia 17, uma quinta-feira, às 18h30, vai rolar a primeira exibição pública do curta Almas Passantes, realizado pelos cinéticos Ilana Feldman e Cléber Eduardo, numa sessão conjunta com o bonito Helena Zero, do Joel Pizzini, e com a versão que Helena remontou em 2005 de A Miss e o Dinossauro - essa sessão vai ser seguida de debate com mediação do nosso editor Ruygard e com a presença de Joel Pizzini, Ivana Bentes, Maria Gladys e, claro, da própria Helena.
Além de ser uma atriz com uma carreira imensa, cheia de desempenhos realmente impressionantes, Helena Ignez tem uma lucidez e uma clareza raras de se ver e ouvir (e que sempre estiveram presentes no seu trabalho, inclusive nos momentos de maior risco e criação). Além de estar nos filmes, isso pôde ser conferido aqui na Contra em duas entrevistas que publicamos: uma vez na edição sobre a versão carioca da mostra sobre Cinema Marginal (com direito a pauta "Helena Ignez, atriz de todas"); outra vez na edição sobre o filme O Padre e a Moça .
Enfim, a festa vai ser bonita. A programação pode ser conferida no site da Caixa.
Daniel Caetano

12.12.07

A constelação do Cinema de Estrelas

Começa hoje no CCBB de São Paulo a mostra Cinema de Estrelas, que reúne filmes protagonizados por grandes astros musicais, representando a si mesmos ou alter-egos (ou seja, seus personagens também são astros da música), todos eles realizados entre os anos 60 e 80. Foi uma produção um pouco inspirada pelos filmes dos Beatles, com aquelas figuras reais sendo envolvidas em tramas de ficção - e, assim, mexendo com o imaginário dos seus fãs.
Na lista da mostra, temos desde o caso dos filmes do Roberto Carlos dirigidos pelo Roberto Farias, que até hoje são bastante lembrados, assim como Estrada Da Vida, dirigido pelo Nelson Pereira e protagonizado por Milionário e Zé Rico (já escrevi sobre o filme aqui na revista), chegando a filmes hoje muito pouco lembrados e exibidos, como Amante Latino, dirigido pelo Pedro Rovai e estrelado pelo Sidnei Magal, e Vamos Cantar Disco Baby, dirigido pelo veteraníssimo J.B. Tanko e estrelado pelas Melindrosas - há ainda filmes com figuras como Agnaldo Rayol e Tonico e Tinoco, sem falar no nosso ministro Gilberto Gil em plena turnê de lançamento de um disco em Corações a Mil, dirigido pelo Jom Tob Azulay.
Essa mostra está sendo produzida pelo Rapha Mesquita e pelo Léo Levis e tem curadoria assinada por mim - fica em cartaz no CCBB de São Paulo até dia 23 de dezembro e a programação pode ser vista no site do CCBB. Fica aqui então o convite para os paulistanos irem curtir e sacolejar com os filmes.
Daniel Caetano

6.12.07

Premiação do 40o Festival de Brasilia

Terminou, na terça feira dia 27 de novembro, o 40o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O festival tem, nestes últimos 42 anos, se firmado como um dos mais importantes, não pelo número de filmes exibidos, mas pela sua repercussão e destaque. Conseguindo abranger o cinema além do objeto fílmico, o festival mantém a importante postura de abrigar lançamentos de livros, debates sobre os filmes e importantes workshops e seminários - ano passado teve o Seminário de Crítica, e, nesta edição, seminários de roteiros, discussão sobre o mercado para audiovisual, sobre a importância da preservação fílmica e todo um ciclo de mesas sobre Paulo Emílio Salles Gomes. Apesar disso, o festival continua mantendo um forte grau de conservadorismo ao negligenciar a maciça produção em vídeo e a nova crítica, como a Contracampo, Paisá e Cinética, veículos de crescente repercussão e discussão situados fora da grande mídia. Assim, não fazendo parte da cobertura do festival, e, em alguns casos, até tendo dificuldade no acesso aos filmes, me limito a comentar os poucos que vi.

A premiação de Melhor Filme a Julio Bressane e seu Cleópatra talvez não tenha sido tão surpreendente assim, apesar do filme ser. Já desde o início cotado como um dos favoritos, ser premiado como Melhor Filme demonstra a continuidade de um júri em tempo não fechado a filmes de "fácil acesso" - na edição de 2006 o prêmio ficou com Baixio das Bestas, de Claudio Assis, e em 2005, com Eu Me Lembro, de Edgar Navarro. Mais curiosa foi a premiação de Walter Carvalho com Melhor Fotografia pelo mesmo Cleópatra. Não pela sua valorização, que não é recente, mas pelo fato do prêmio ter sido dado por seu trabalho em Cleópatra, tão desconstrutivo sobre sua própria trajetória, enquanto Chega de Saudade, de Laís Bodansky, trazia, digamos, uma fotografia e um trabalho de câmera mais reconhecíveis. Aliás, o prêmio de Júri Popular de Melhor Filme ter ficado com Chega de Saudade sustenta a boa comunicação que o filme mantém com o público (consegui vê-lo apenas numa espécie de repescagem, longe da sala oficial e com um público bem diferente do que se encontra em festivais, que recebeu o filme como pouco tem acontecido com o cinema brasileiro).

Infelizmente, Falsa Loura, de Carlão Reichenbach, ficou apenas com Melhor Atriz Coadjuvante (Djin Sganzerla), e sua estonteante direção e o belíssimo trabalho de Rosanne Mulholland ficaram sem seu devido reconhecimento. Não consegui ver o novo de Belmonte (O Meu mundo em Perigo), nem o Anabasys, de Paloma Rocha e Pizzini, mas espero que a montagem do último realmente seja merecedora do prêmio (Ricardo Miranda), para ter desbancado a puta montagem de Paulo Sacramento em Chega de Saudade.

Em materia de curta-metragens, o Melhor Filme em 35mm ficou com Trópico das Cabras, de Fernando Coimbra, um belo road movie que ainda levou Prêmio de Atriz e Fotografia. A fotografia de Lula Carvalho, algo realmente revelador, consegue desfilar entre duas tendências caras aos novos fotógrafos, algo entre um formalismo preciso e um naturalismo arrebatador. O Melhor Filme e Direção em 16 mm ficou com o mineiro Ricardo Alves Junior, com Convite para Jantar com o Camarada Stalin, que já havia vencido Melhor Filme Experimental no Curta Cinema. E vale lembrar que o Melhor Roteiro ficou com Álvaro Furloni, por Esconde-Esconde, filme produzido graças à oficina de roteiro do Projeto Sal Grosso, e que também levou Melhor Ator e Atriz.

Veja a lista completa dos premiados aqui.
Lucas Barbi

18.11.07

Inscrições abertas para o RioFan - Festival de Cinema Fantástico do Rio de Janeiro

Entre 29 de abril e 11 de maio de 2008, vai acontecer aqui na cidade a primeira edição do RioFan, o Festival de Cinema Fantástico do Rio de Janeiro. Para esse primeiro ano já estão confirmadas uma homenagem ao José Mojica Marins e uma mostra internacional competitiva de longas, além de mostras de curtas e de vídeos de até um minuto. As inscrições já estão abertas e todas as informações podem ser vistas no site do RioFan - que também já tem blog.
Eu e mais um contracampista (o Léo) estamos envolvidos com o projeto, além de dois ex-contracampistas (o Fernando e o Felipe) e outras figuras próximas. Portanto, fica o convite para que se inscrevam todos que tiverem seus filmes fantásticos debaixo do braço.
E o pessoal já pode reservar um espaço na agenda de 2008, entre o final de abril e meados de maio, para entrar na sintonia do RioFan e deixar o imaginário tomar conta das telas de cinema.
Daniel Caetano

13.11.07

Curso no Tempo Glauber

Este mês, a Contracampo oferecerá em parceria com o Tempo Glauber o curso Panorama do Cinema Contemporâneo. Partindo de dez grandes cineastas em atividade hoje, buscaremos criar um painel diversificado dos caminhos que o cinema contemporâneo nos tem apresentado. O curso tem início no dia 19 de novembro e soma dez encontros, um para cada cineasta. As aulas serão de 19h às 22h, sempre às segundas e quartas no Tempo Glauber. Mais detalhes em: http://www.tempoglauber.com.br/curso_contracampo.html.
Tatiana Monassa

11.11.07

O Mundo de Um Filme na Mostra Internacional do Filme Etnográfico

Os amigos leitores aqui da Contra devem se lembrar da nossa edição 42, em que publicamos as transcrições integrais de entrevistas feitas com os membros da equipe do filme O Padre E A Moça (Helena Ignez, Mario Carneiro, Paulo José, L.C. Barreto, Eduardo Escorel e Mário Lago). Essas entrevistas, como os leitores foram informados na época, foram feitas para um documentário - e, após esse tempo todo, o documentário está pronto e vai ser exibido na Mostra Internacional do Filme Etnográfico amanhã, segunda-feira, dia 12/11, às 18hs no Museu da República. Ele ganhou o nome de O Mundo de Um Filme, é dirigido e produzido por mim e duas amigas, Clara Linhart e Camila Maroja, e vai ser exibido em sessão dupla com um documentário sobre o sambista baiano Batatinha, Batatinha e o samba oculto da Bahia.
Vale dar uma boa olhada na programação da Mostra do Filme Etnográfico. Além do Museu da República, há filmes sendo exibidos também na Caixa Cultural e tem algumas coisas bastante interessantes - já foi exibido na semana passada o A Etnografia da Amizade, do Ricardo Miranda sobre o Saraceni (sobre o qual já escrevi aqui na Contra) e amanhã mesmo, lá no Museu, às 20hs, logo em seguida à sessão de O Mundo de um Filme, vai rolar a primeira exibição de um filme feito em parceria pelo Cláudio Assis e pelo Camilo Cavalcanti, Eu Vou De Volta. Ou seja, vale dar uma boa conferida - e, é bom avisar, a programação é gratuita, com distribuição de senhas.
Daniel Caetano

Mojica integral

O CCBB-SP e a Cinemateca recebem a partir de hoje uma mostra impressionante dedicada a José Mojica Marins. São mais de 40 filmes, alguns deles raríssimos, como A Sina do aventureiro, e até um inédito, o recém-finalizado A Praga. Organizada por Eugênio Puppo - uma garantia em termos de organização e qualidade - a mostra dedicada a Mojica permite uma viagem nunca antes possível por sua carreira. Pode-se dizer que ninguém mais no cinema brasileiro representa a inventividade como ele em seu cinema, que é ainda mais fundamental do que a fama do personagem mais conhecido, Zé do Caixão, pode dar a entender. A retrospectiva segue até o dia 25 - no site da produtora de Puppo está a programação. A mostra traz ainda um certamente imperdível livro (porque sabemos que não será um mero catálogo), que possui artigos do nosso editor Ruy Gardnier e também do sempre imprescindível Inácio Araújo, além de Carlão Reichenbach, Carlos Primati e outros. Há ainda uma exposição de fotografias, que será certamente de extremo interesse, e os debates, sempre interessantes. A mostra de Puppo nos permite questionar um pouco a associação imediata da imagem de Mojica com a do Zé do Caixão, trazendo para o centro das atenções o cineasta, autor de obras incontornáveis como Finis Hominis e O Despertar da Besta.
Guilherme Martins

1.11.07

Jairo Ferreira em dose dupla + Nuevo Cine Argentino

Atualmente dois cineclubes desenvolvem as suas atividades na histórica Cinemateca do MAM. São eles o cineclube Tela Brasilis, especializado em filmes brasileiros clássicos, e o cineclube Sala Escura Sessão Latina, dedicado ao cinema latino-americano de todas as épocas. Nesta quinta-feira, às 18:30, na Cinemateca do MAM, esses dois cineclubes promoverão a sua primeira sessão conjunta depois de 4 anos compartilhando o mesmo espaço. A sessão que celebra a união do Sala Escura e do Tela fará a junção Jairo Ferreira/Nuevo Cine Argentino. O Sala Escura projetará o primeiro filme de Pablo Trapero, o curta Mocoso Mal Criado (1993) e o mais festejado curta de Lucrecia Martel, Rey Muerto (1995). O Tela Brasilis exibirá, depois de muitos anos sem ser exibido no Rio, o único longa de Jairo Ferreira, O Vampiro da Cinemateca.

E o programa não acaba por aí, pois o mesmo Jairo Ferreira terá uma sessão de curtas no Odeon, às 21:30, organizada pelo Curta Cinema. Não custa lembrar que o falecido Jairo é um dos principais críticos nacionais já existentes, e sua fama de cineasta talvez só não seja maior pois seus filmes raramente são vistos. Em São Paulo, uma sessão muito parecida foi tão elogiada por nossa redação paulista que até gerou um texto entusiasmado do Filipe.

Nessa véspera de feriado, então, é dever cívico do carioca rumar ao MAM e ao Odeon, que raramente os cinemas cariocas estão acompanhados de eventos (e filmes) tão interessantes.
Estevão Garcia e Leonardo Levis

31.10.07

Zé Pereira #3

Nessa próxima quarta-feira, dia 31 de outubro de 2007 vai rolar a festa de lançamento da Revista Zé Pereira número 3. A parte de cinema dessa edição da Zé Pereira está caprichada: temos o perfil de ninguém mais ninguém menos do que o grande montador do cinema brasileiro Severino Dada. A matéria, fotografada por Michael Ende e escrita pelo contracampista Rodrigo de Oliveira, apresenta o sugestivo título "Não existe cinema sem um botequim". Sabemos que muitos filmes, ideais, criações surgem sim a partir de um bom copo de cerveja com os amigos, e por isso o lançamento, que terá cerveja de graça, é uma boa pedida para a gente pensar sobre o que de novo se está fazendo por aí.

A festa será no Puebla Café, na Rua Voluntários da Pátria, 448, loja 23. Quem pintar por lá ganha um exemplar.
Estevão Garcia

16.10.07

Jabor no Rio, Khouri em SP e Polvos em BH

Nesse meio-tempo entre o Festival do Rio e a Mostra de SP, seguem três destaques:

No CCBB do Rio, começa hoje uma mostra em homenagem ao Arnaldo Jabor, 40 anos de Opinião Pública. Vale a atenção pelo menos por dois motivos: primeiro porque os filmes do Jabor são bons; segundo e em decorrência disso, porque vê-los em retrospectiva e ter a oportunidade de debates sobre os filmes e sobre a própria figura do Jabor permite que a gente reflita sobre esse percurso que ele fez, tanto de cineasta a comentarista de jornal e televisão quanto de integrante de uma geração inconformada a essa figura que a gente vê hoje... Enfim, o que eu acho mais esquisito nisso é que costumo gostar muito dos filmes do Jabor, mas confesso que sempre fico preocupado quando ouço falar que ele vai voltar a filmar. Enfim, espero que volte mesmo e que se saia bem, porque o Jabor se saía bem melhor como cineasta do que como comentarista de TV e jornal.

Em SP, o Museu da Imagem e do Som apresenta a partir de amanhã uma mostra de filmes do Walter Hugo
Khouri. Aqui na Contra há bastante divergência com relação ao valor dado aos filmes do Khouri. Bem, eu gosto muito de alguns, não de todos. Gosto especialmente de As Amorosas, o filme com Paulo José, Jacqueline Myrna e Anecy Rocha que Khouri fez em resposta a todo o contexto do final dos anos 60. É um filme egóico, melancólico e pessimista, como quase todos os do Khouri (alguns são mais bem-humorados, outros são mais sombrios), mas de certa maneira nos conduz a esse sentimento e nos faz partilhar dele, e só por isso já seria um filmaço. Vão exibir outros filmes bastante interessantes, como os clássicos Noite Vazia e Corpo Ardentes, assim como o seu último filme a entrar em circuito, As Feras. Isso rola de 17 a 21 de outubro, com sessões às 19hs e 21hs.

Por fim, o destaque maior vai não para uma mostra, que já acabou, e sim para a cobertura feita a ela. Nós aqui do eixão ficamos imersos nos Festival do Rio, mas na semana passada rolou em BH o festival Indie, que é organizado pelo pessoal da Zeta Filmes e, além de ter apresentado um panorama internacional como todo ano, em 2007 fez uma mostra com quase todos os filmes do Hong Sang-Soo (foram exibidos seis dos sete que ele já fez). Como os leitores devem lembrar, há algum tempo a Contracampo já dedicou uma pauta aos seus filmes. E, tendo em vista isso e a recente exibição dos seus filmes em BH, aproveito a ocasião para passar o link do Filmes Polvo, site feito por um pessoal de Minas que tem uma cobertura do Indie 2007 a se conferir - além de todo o panorama, há mais de um texto para cada filme exibido do Hong Sang-Soo. Vale dar uma boa olhada - os textos do site são sempre bem legais. E os polvos já são parte da turma (de quebra, recentemente ganharam o reforço do Marcelo Miranda).
Daniel Caetano

6.10.07

Prêmio Jairo Ferreira: Edição Especial Festival do Rio 2007

Reunidos no bar da Voluntários da Pátria que abrigou boa parte das conversas pós-filme ao longo destas duas últimas semanas (e que ontem, entre outras coisas, nos recebeu ainda siderados pelo refrão da música "Bed, Bath & Beyond", berrada por Sylvia Miles nos créditos finais de Go Go Tales), críticos divididos entre as revistas Contracampo, Cinética e Paisà participaram desta edição especial do Prêmio Jairo Ferreira. Chance de recordar os filmes mais queridos a que assistimos neste belo Festival do Rio, a mesa lembrou muito a primeira iniciativa deste mesmo grupo, na Mostra de São Paulo do ano passado, quando ainda atendíamos pela insígnia de "crítica independente", e premiamos Juventude em Marcha e Serras da Desordem como nossos preferidos daquele evento. De lá para cá, a oficialização do nome desta congregação de companheiros de jornada, a adoção de Jairo Ferreira como símbolo de uma geração de novos pensadores de cinema no Brasil, e a bela cerimônia de entrega dos prêmios de melhores do ano realizada no Cinesesc paulistano em maio último.

Chegamos ao Rio com 15 críticos votantes, e depois de dois turnos, num triplo empate bastante emblemático da força da programação deste festival, elegemos como os MELHORES FILMES DO FESTIVAL DO RIO 2007:

Síndromes e um Século, de Apichatpong Weerasethakul
Paranoid Park, de Gus Van Sant
I’m Not There, de Todd Haynes

Todos estes filmes foram bastante comentados pelas três revistas participantes da votação, e aqui na Contracampo não só mereceram textos bastante encantados com o que vimos (sobre o filme de Haynes até tivemos duas críticas a respeito), como foram extensamente comentados no diário dos editores. E, de resto, são três filmes que representam de maneira expressiva aqueles outros que acabaram ficando de fora da premiação final, mas que não foram menos entusiasmadamente discutidos e reverberados por nós e pelos nossos parceiros cinéticos e paisàticos. Se para cada Síndromes existiu um Silenciosa Luz e um Império dos Sonhos, para cada Paranoid outro Floresta dos Lamentos ou Mulher na Praia, e ainda um Lady Chatterley e a dupla presença de Manoel de Oliveira para todo I’m Not There, nem assim, com meia dúzia de exemplos, conseguimos ignorar que existiu outra meia dúzia igualmente encantadora: Ferrara e Chabrol, De Volta à Normandia e O Sol, Tarantino e Rodriguez. E ainda muitos outros unânimes, e mais todas aquelas idiossincrasias de cada um de nós, os filmes que amamos sozinhos (mas nunca em segredo: escrevemos sobre eles também!).

Repletos de bom cinema e com uma reserva memorial que nos bastaria pelos próximos 6 meses, ainda assim não nos damos por satisfeitos. Em menos de duas semanas começa a 31ª Mostra de São Paulo, e no fim dela uma nova edição especial do Prêmio Jairo Ferreira, numa nova mesa de bar. E torcemos para que a programação paulistana torne nosso trabalho de votação tão deliciosamente complicado quanto a programação do Rio, de que agora nos despedimos.

Até São Paulo!
Rodrigo de Oliveira

30.9.07

Moviola no ar

Entrou no ar a Revista Moviola, iniciativa de quatro amigos vindos da UFF - entre eles Paulo Ricardo de Almeida, o PR, que, como os leitores sabem, escreveu aqui na Contra por alguns anos. E site sério sobre cinema é sempre uma iniciativa mais que bem-vinda, já que a imprensa escrita aqui no Rio é esse negócio aí que a gente vê. A primeira edição da revista tem uma entrevista comigo e com Gui Sarmiento sobre Conceição e também tem, é claro, uma cobertura do Festival do Rio ora em andamento. Mas o destaque maior é uma entrevista com Eduardo Coutinho, acessível não para ler mas para ver - está disponível em vídeo, numa boa sacada da turma do site, sobretudo porque Coutinho falando é uma figura curiosíssima. Dada a dica aos leitores, boa sorte pra turma do site!
Daniel Caetano

19.9.07

Top 1 - Festival do Rio

Só pra completar a notinha do Ruy aí embaixo, há ainda um título que eu adicionaria: chama-se A Etnografia da Amizade, foi realizado por Ricardo Miranda e é sobre o cineasta Paulo César Saraceni. Tive a oportunidade de ver os primeiros minutos do filme numa telinha de computador e posso dizer que o que vi é muito bonito.
Aqui no meu exílio semanal em Rio das Ostras, onde dou aula, já estou me acostumando à idéia de que vou ter que perder boa parte dos filmes considerados obrigatórios que vão ser exibidos. É pena, mas faz parte do jogo e eu tenho que manter meu ganha-pão dando aulas durante a semana, a 200 km do Rio.
De todo jeito, há algumas coisas que não dá pra perder de jeito nenhum. Os filmes do Lynch e do Tarantino eu estava incluindo nesse pacote, mas agora já foi anunciado que estão comprados e vão estrear, então não bate mais aquele desespero pra encaixar no horário de qualquer jeito - o mesmo se dá com o filme do Coutinho, que logo vai estrear também. O filme do Van Sant, que naturalmente já não me provocaria empolgação, vai ser exibido em digital, apesar de ter sido feito em película, e por isso foi lá pro fim da fila. Além dele, também toda a mostra de filmes chineses no Palácio será composta de cópias digitais - no caso dos chineses, é DVDzão mesmo.
Então, no fim das contas, tem uns filmes orientais contemporâneos que tem que ver agora ou corre-se o risco de não ter mais chance (a não ser pela web), tem o do Rivette cuja presença ainda é incerta - e tem A Etnografia da Amizade, que ficou pronto depois de mais de vinte anos de trabalho e agora vou ter a oportunidade de assistir por inteiro. Serviço: vai ser exibido no Odeon no dia 27 e no CCJF no dia 29.
Daniel Caetano

18.9.07

Top 35 - Festival do Rio 2007

Como sempre, a terceira semana de setembro é o momento de colocar em segundo plano tudo que não for cinema para se atualizar com alguns dos filmes mais interessantes dos últimos anos. Há lacunas, como sempre (e uma particularmente sentida é Hou Hsiao-hsien e seu A Viagem do Balão Vermelho, mas há mais: Wong Kar-wai, Brian De Palma, Cronenberg...), mas esse ano vem com uma seleção internacional de dar água na boca. É verdade que as retrospectivas deixaram muito a desejar (para quem não sabe, John Wayne passará todo em dvd, o que fará com que justificadamente passemos todo o festival sem sequer mencionar a homenagem), merecendo destaque especial apenas os filmes da China nos anos 30 e 40, considerado um período de ouro na tradição cinematográfica do país. Dos que serão exibidos, o filme mais comentado é Primavera numa Cidadezinha, clássico maior do cinema chinês, que chegou a ter uma refilmagem rodada por Tian Zhuangzhuang (que o próprio Festival do Rio exibiu em 2002). Mas os principais destaques são mesmo os filmes contemporâneos.
Como sempre, cabe lembrar que essa é uma lista de apostas, não de certezas (afinal, a maioria dos filmes ainda não foi vista por ninguém da redação), e que corresponde à curiosidade que temos pela carreira do diretor, pela repercussão que os filmes tiveram nos festivais pelos quais passaram, pelo boca-a-boca ou mesmo por alguma outra coisa que chame a atenção. Também não são escolhas individuais do redator (que, por exemplo, não gosta do último filme de Tsai Ming-liang): a lista representa, em linhas gerais, parte da expectativa da equipe de Contracampo com os filmes mais recentes de seus autores favoritos e alguns realizadores promissores que talvez venham dar o que falar. Mais uma vez, a lista vai dividida em três partes distintas.

Os obrigatórios
Síndromes e um Século, de Apichatpong Weerasethakul
O Estado do Mundo, de Wang Bing, Pedro Costa, Apichatpong Weerasethakul, Chantal Akerman, Vicente Ferraz e Ayisha Abraham
Cristóvão Colombo – O Enigma, de Manoel de Oliveira
Sempre Bela, de Manoel de Oliveira
Floresta dos Lamentos, de Naomi Kawase
Império dos Sonhos, de David Lynch
Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho
Paranoid Park, de Gus Van Sant
A Prova de Morte, de Quentin Tarantino
Não Toque no Machado, de Jacques Rivette
Go Go Tales, de Abel Ferrara
I'm Not There, de Todd Haynes
Mulher na Praia, de Hong Sang-Soo

Fortíssima expectativa
Nascido e Criado, de Pablo Trapero
Lady Chatterley, de Pascale Ferran
Eu Não Quero Dormir Sozinho, de Tsai Ming-liang
4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, de Cristian Mungiu
Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto, de Sidney Lumet
Uma Moça Dividida em Dois, de Claude Chabrol
Une vieille maîtresse, de Catherine Breillat
O Sol, de Aleksandr Sokurov
As Testemunhas, de André Techiné
Papel Não Embrulha Brasas, de Rithy Panh
Andarilho, de Cao Guimarães

Grande curiosidade
A Cada um seu Cinema, de Theo Angelopoulos, Olivier Assayas, Billie August, Jane Campion, Youssef Chahine, Chen Kaige, Michael Cimino, Joel e Ethan Coen, David Cronenber, Luc e Jean-Pierre Dardenne, Manoel de Oliveira, Raymond Depardon, Atom Egoyan, Amos Gitai, Alejandro González Iñarrítu, Hou Hsiao-hsien, Aki Kaurismaki, Abbas Kiarostami, Takeshi Kitano, Andrei Konchalovski, Claude Lelouch, Ken Loach, Nanni Moretti, Roman Polanski, Raul Ruiz, Elia Suleiman, Walter Salles, Tsai Ming-liang, Gus Van Sant, Lars von Trier, Wim Wenders, Wong Kar-wai e Zhang Yimou
Armênia, de Robert Guédiguian
Em Paris, de Christophe Honoré
Lust, Caution, de Ang Lee
Planeta Terror, de Robert Rodriguez
Smiley Face, de Gregg Araki
Antiga Alegria, de Kelly Reichard
O Expresso Darjeering, de Wes Anderson
De Volta à Normandia, de Nicolas Philibert
Paprika, de Satoshi Kon
Silenciosa Luz, de Carlos Reygadas

E ainda tem nomes que podem surpreender, como Im Sang-Soo, Goro Miyazaki... Mas, enfim, aposta é aposta e essas aí são as nossas... Bom Festival.
Ruy Gardnier

10.9.07

Duas sobre o BOPE (ainda)

1) No Extra Online, há uma entrevista com Capitão Storani, "preparador de elenco" do Tropa de Elite. Recomendo destaque na parte "Criou-se um novo herói nacional".

2) "É nisso que a cultura popular tem sempre uma base, um apelo de mitologia, porque a mitologia é independente dos suportes, é uma caixa preta, não é um processo. Cada sociedade tem imagens, cenas que ela quer ver a não importa qual preço (...) há imagens que veremos em não importam quais condições." (Serge Daney, Persévérance, Paris: POL, 1994)
Luiz Carlos Oliveira Jr.

5.9.07

BOPE ao nosso redor

Não importa se o "vazamento" do Tropa de Elite foi ou não foi uma jogada de marketing. O que interessa é que o alastramento do filme pelas ruas do Brasil - e especialmente aqui do Rio - tornou-se possivelmente o mais importante acontecimento cultural dos últimos anos. Andem pelas ruas. Olhem para os lados. O "Bope" está em todos os lugares. Os camelôs colocam uma televisãozinha no meio da calçada, improvisando uma "sessão urbana". As cópias piratas circulam de mão em mão, nos escritórios, nas academias e inclusive nas redações (sim, sim, sou testemunha). Ontem mesmo, sábado à noite, me surpreendi passando em frente a uma lanchonete que exibia o filme para os seus clientes. Era como uma sessão fechada, uma pré-estréia de gala - mas, felizmente, ninguém estava vestido a rigor.

Antes do fenômeno ganhar o asfalto, começou no morro. A primeira vez que vi as cópias do vídeo foi subindo a Rocinha. As pessoas se apertavam em torno das barraquinhas, ansiosas. Convenhamos: ver a Rocinha se apropriando do tão preparado evento midiático Tropa de Elite antes dos grandes shoppings, antes dos Estações e dos Arteplexes, para fazer seu próprio "evento midiático", com suas arenas improvisadas, é sempre um fato curioso. Outra grande cena que tive o prazer de me tornar testemunha aconteceu no Morro da Providência, dentro de uma lanchonete. Eu tomava uma sopa de ervilha quando entrou um garotão segurando uma pistola numa mão e uma cópia do "Tropa" na outra. Chegou dizendo para a dona do lugar: "Quero ver esse filme!" Ao que a Dona logo respondeu: "Não é pornográfico, não, né?" E ele: "Não, não. Só tem umas cenas... sensuais". Estava ali, o garotão com uma pistola e um dvd pirata. O representado segurando a representação. Sem dúvida, queria se ver. Só que não havia mais o respeito cerimonioso ao retrato. Tropa de Elite já não era um evento imposto, limitado para alguns escassos possíveis consumidores - tornara-se simplesmente algo aberto, flexível, em plena mutação dentro do imaginário popular.

Com as cópias piratas circulando, com a capacidade do público em organizar seu próprio lançamento e distribuição (especialmente um público normalmente marginalizado do atual sistema de distribuição do cinema, um espetáculo, vamos admitir, CARO DEMAIS), o mundo, definitivamente, não é mais tlön. E, note-se que estamos falando da multiplicação de uma cópia que, dizem, não é a versão "correta". Aí está o melhor de tudo: não importa o quanto se esforcem para dizer que este não é o evento certo, que o "verdadeiro" evento está para vir, o oficial, o prestigiado ("consumam o produto cultural correto", dizem eles), porque ninguém quer saber. As pessoas fizeram seu próprio evento cultural e estão felizes com ele.

Antes que me acusem de fazer apologia à pirataria. Antes que me acusem de irresponsável e criminoso. Antes que me acusem de querer acabar com a indústria cinematográfica brasileira - vou fazer uma previsão: o Tropa de Elite será um sucesso TAMBÉM nos cinemas. É compreensível a preocupação daqueles que colocaram dinheiro, daqueles que deram tudo de si para realizar um filme. São compreensíveis as recentes reações indignadas daqueles que temem perder o esforço do seu trabalho. Mas todos podem ficar tranqüilos: tenho certeza de que quando fizerem o lançamento oficial do filme nós já sabemos aonde, com suas roupas de gala, seus coquetéis, seus repórteres, todos que podem (os poucos que tanto se orgulham disso) não vão deixar de comparecer ao maravilhoso Espetáculo Oficial. O verdadeiro e correto evento cultural "Tropa de Elite" reinará triunfante - e sempre haverá mais alguém querendo fazer parte dele.

Mas, independente do que ocorrer, há razões de sobra para todos que fizeram Tropa de Elite se orgulhar. O filme ganhou vida própria - e eu imagino que essa deva ser a maior alegria de um artista. De forma espontânea, natural, rica e vibrante, ganhou as ruas, as casas, as padarias e os bares. Até um novo nome o filme já tem, um apelido carinhoso, informal e generoso: BOPE. Sintético ao extremo, como todos os bons apelidos.
Bolívar Torres

3.9.07

Mario Carneiro (1930-2007)


























2.9.07

Cineclube na ABI

Muita gente não sabe, mas um dos primeiros locais de convivência do grupo cinemanovista, no final dos anos 50 e início dos 60, foi o cineclube que era mantido na Associação Brasileira de Imprensa, a ABI, no Centro do Rio de Janeiro. Pois bem, nessa onda de cineclubes pipocando Brasil afora, um lugar com esse histórico não podia ficar de fora - assim, lá na ABI estão sendo promovidas sessões semanais gratuitas. Na semana passada foi exibido pela primeira vez no Rio o filme de Ricardo Miranda sobre Paulo César Saraceni, A Etnografia da Amizade - infelizmente a gente ficou sabendo em cima da hora e não deu para avisar aqui, mas fica o registro. E amanhã, segunda-feira, o nível e o estilo da sessão se mantêm: o filme a ser exibido é Joaquim.doc, o filme sobre Joaquim Pedro de Andrade feito por seu velho parceiro Mario Carneiro junto com Antonio Andrade, filho de Joaquim. É um filme que traça um retrato delicado e carinhoso do realizador, como não poderia deixar de ser, contando algumas das boas histórias que envolvem Joaquim e a feitura de seus filmes.
Isso vai acontecer amanhã, segunda-feira 3/09, às 18h30, no 9º andar do edifício da ABI (Rua Araújo Porto Alegre, 71, perto do Teatro Municipal e do Palácio Gustavo Capanema). A entrada é franca.
Daniel Caetano

28.8.07

Ah, essa hipocrisia!...

Pois é, estava eu lendo o Globo na web, coisas do meu cotidiano em Rio das Ostras... E eis que leio um texto escrito por José Padilha, diretor de Tropa de Elite, publicado hoje no Segundo Caderno, em que o realizador condena a pirataria que vem dando popularidade ao seu filme, nega com veemência que a distribuição pirata seja uma jogada de marketing ("acredito que a Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial encontrará quem pirateou o meu filme, e confirmará assim o absurdo dessas alegações") e ataca violentamente os que compraram os DVDs piratas, reservando maior rigor para jornalistas e policiais que tecem comentários sobre o filme, mas não assumem ter visto cópias piratas e usam o subterfúgio de dizer "me contaram". Estes, segundo Padilha, protegem-se da acusação de violação a direitos autorais "ao custo de revelar a sua hipocrisia".
Aí o link que está logo abaixo do que nos remete ao texto irado de Padilha é do Blog do Bonequinho, em que a redatora faz uma reportagem sobre um dos atores de Tropa de Elite. Ela conta que os passantes nas ruas elogiam o desempenho do sujeito - com razão, segundo ela, porque ele "arrebenta" no filme.
Daniel Caetano

Jairo Ferreira em São Paulo

Entre os destaques da Mostra Internacional de Curtas de São Paulo, vale a pena destacar um: é a exibição dos filmes de Jairo Ferreira, e o dia apropriado para assistir é hoje, dia 28, na Sala Cinemateca, às 18h, porque há filme-bônus e minidebate depois. A sessão regular, já exibida no CCSP e no Cinusp, apresenta os filmes Antes Que Eu Me Esqueça (1977), Ecos Caóticos (1975), Horror Palace Hotel (1978), O Ataque das Araras (1975) e O Guru e os Guris (1973). Todos os filmes passam em Beta. O filme extra, que só passa hoje, é Nem Verdade Nem Mentira, de 1979. Para aqueles que não podem se deslocar até a Vila Mariana nessa terça-feira, a sessão passa, sem os mimos de filme-bônus e debate, no Espaço Unibanco de Cinema, amanhã (quarta 29) às 19h. Para mais detalhes e imagens dos filmes, vale a pena visitar o blog Cinema de Invenção, capitaneado por Juliano Tosi, em homenagem à obra de JF.
Todo mundo sabe, mas não custa ratificar: imperdível.
Ruy Gardnier

27.8.07

700 cópias significa força ou o prenúncio da agonia?

Essa nota do Rapha aí embaixo nos obriga a chamar a atenção para outra consequência da pirataria de filmes: o aumento do número de cópias dos chamados blockbusters nos anos recentes. Mesmo quando o país tinha cinco mil cinemas, não havia tantas cópias para a estréia de um único filme como vem acontecendo com investimentos nem tão vultuosos das empresas gringas que compõem a Motion Pictures. Será que o fato de Homem-Aranha 3 ter estreado com tantas cópias é apenas consequência da casa-de-mãe-joana que é o mercado de salas de cinema? Se é assim, por que antes a invasão não era ainda maior, quando havia mais salas?
Me parece evidente que esse imenso número de cópias é consequência de um punhado de razões - o retorno para publicidade maciça e a necessidade de encurtar a janela para DVD e TV - mas o diferencial é justamente essa pirataria que obriga os filmes a serem acessíveis o mais rapidamente possível nas salas.
Basta fazer as contas, porque Hollywood não gosta de jogar dinheiro fora - qual seria o motivo para gastar mais dinheiro fazendo o dobro de cópias do que se fazia anteas? Porque é assim que dá lucro. A médio prazo, com o aumento (inevitável?) da pirataria de DVDs e de downloads, como é que os investimentos nesses filmes carésimos vão obter retorno?
Há décadas se fala no fim do cinema, e no entanto a produção de filmes continua, mesmo que os conceitos e significados sociais dos filmes tenham mudado muito. Mas blockbusters não são uma invenção imprescindível para o cinema e não existem desde o início dos tempos - ao contrário, há um período claro em que começam a ser feitos, no final dos anos 70. Isso ainda pode demorar anos, mas, assim como surgiram, eles podem um dia se tornar inviáveis e acabar. Ou serem reduzidos a espaços similares aos que seus produtores tentam reduzir o resto dos filmes. Um espaço marginal e circense, circense como são estes filmes que representam o auge da indústria.
(Ok, alguém poderá dizer que essa profecia está mais próxima de uma praga rogada. Pode ser...)
Daniel Caetano