30.9.07

Moviola no ar

Entrou no ar a Revista Moviola, iniciativa de quatro amigos vindos da UFF - entre eles Paulo Ricardo de Almeida, o PR, que, como os leitores sabem, escreveu aqui na Contra por alguns anos. E site sério sobre cinema é sempre uma iniciativa mais que bem-vinda, já que a imprensa escrita aqui no Rio é esse negócio aí que a gente vê. A primeira edição da revista tem uma entrevista comigo e com Gui Sarmiento sobre Conceição e também tem, é claro, uma cobertura do Festival do Rio ora em andamento. Mas o destaque maior é uma entrevista com Eduardo Coutinho, acessível não para ler mas para ver - está disponível em vídeo, numa boa sacada da turma do site, sobretudo porque Coutinho falando é uma figura curiosíssima. Dada a dica aos leitores, boa sorte pra turma do site!
Daniel Caetano

19.9.07

Top 1 - Festival do Rio

Só pra completar a notinha do Ruy aí embaixo, há ainda um título que eu adicionaria: chama-se A Etnografia da Amizade, foi realizado por Ricardo Miranda e é sobre o cineasta Paulo César Saraceni. Tive a oportunidade de ver os primeiros minutos do filme numa telinha de computador e posso dizer que o que vi é muito bonito.
Aqui no meu exílio semanal em Rio das Ostras, onde dou aula, já estou me acostumando à idéia de que vou ter que perder boa parte dos filmes considerados obrigatórios que vão ser exibidos. É pena, mas faz parte do jogo e eu tenho que manter meu ganha-pão dando aulas durante a semana, a 200 km do Rio.
De todo jeito, há algumas coisas que não dá pra perder de jeito nenhum. Os filmes do Lynch e do Tarantino eu estava incluindo nesse pacote, mas agora já foi anunciado que estão comprados e vão estrear, então não bate mais aquele desespero pra encaixar no horário de qualquer jeito - o mesmo se dá com o filme do Coutinho, que logo vai estrear também. O filme do Van Sant, que naturalmente já não me provocaria empolgação, vai ser exibido em digital, apesar de ter sido feito em película, e por isso foi lá pro fim da fila. Além dele, também toda a mostra de filmes chineses no Palácio será composta de cópias digitais - no caso dos chineses, é DVDzão mesmo.
Então, no fim das contas, tem uns filmes orientais contemporâneos que tem que ver agora ou corre-se o risco de não ter mais chance (a não ser pela web), tem o do Rivette cuja presença ainda é incerta - e tem A Etnografia da Amizade, que ficou pronto depois de mais de vinte anos de trabalho e agora vou ter a oportunidade de assistir por inteiro. Serviço: vai ser exibido no Odeon no dia 27 e no CCJF no dia 29.
Daniel Caetano

18.9.07

Top 35 - Festival do Rio 2007

Como sempre, a terceira semana de setembro é o momento de colocar em segundo plano tudo que não for cinema para se atualizar com alguns dos filmes mais interessantes dos últimos anos. Há lacunas, como sempre (e uma particularmente sentida é Hou Hsiao-hsien e seu A Viagem do Balão Vermelho, mas há mais: Wong Kar-wai, Brian De Palma, Cronenberg...), mas esse ano vem com uma seleção internacional de dar água na boca. É verdade que as retrospectivas deixaram muito a desejar (para quem não sabe, John Wayne passará todo em dvd, o que fará com que justificadamente passemos todo o festival sem sequer mencionar a homenagem), merecendo destaque especial apenas os filmes da China nos anos 30 e 40, considerado um período de ouro na tradição cinematográfica do país. Dos que serão exibidos, o filme mais comentado é Primavera numa Cidadezinha, clássico maior do cinema chinês, que chegou a ter uma refilmagem rodada por Tian Zhuangzhuang (que o próprio Festival do Rio exibiu em 2002). Mas os principais destaques são mesmo os filmes contemporâneos.
Como sempre, cabe lembrar que essa é uma lista de apostas, não de certezas (afinal, a maioria dos filmes ainda não foi vista por ninguém da redação), e que corresponde à curiosidade que temos pela carreira do diretor, pela repercussão que os filmes tiveram nos festivais pelos quais passaram, pelo boca-a-boca ou mesmo por alguma outra coisa que chame a atenção. Também não são escolhas individuais do redator (que, por exemplo, não gosta do último filme de Tsai Ming-liang): a lista representa, em linhas gerais, parte da expectativa da equipe de Contracampo com os filmes mais recentes de seus autores favoritos e alguns realizadores promissores que talvez venham dar o que falar. Mais uma vez, a lista vai dividida em três partes distintas.

Os obrigatórios
Síndromes e um Século, de Apichatpong Weerasethakul
O Estado do Mundo, de Wang Bing, Pedro Costa, Apichatpong Weerasethakul, Chantal Akerman, Vicente Ferraz e Ayisha Abraham
Cristóvão Colombo – O Enigma, de Manoel de Oliveira
Sempre Bela, de Manoel de Oliveira
Floresta dos Lamentos, de Naomi Kawase
Império dos Sonhos, de David Lynch
Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho
Paranoid Park, de Gus Van Sant
A Prova de Morte, de Quentin Tarantino
Não Toque no Machado, de Jacques Rivette
Go Go Tales, de Abel Ferrara
I'm Not There, de Todd Haynes
Mulher na Praia, de Hong Sang-Soo

Fortíssima expectativa
Nascido e Criado, de Pablo Trapero
Lady Chatterley, de Pascale Ferran
Eu Não Quero Dormir Sozinho, de Tsai Ming-liang
4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, de Cristian Mungiu
Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto, de Sidney Lumet
Uma Moça Dividida em Dois, de Claude Chabrol
Une vieille maîtresse, de Catherine Breillat
O Sol, de Aleksandr Sokurov
As Testemunhas, de André Techiné
Papel Não Embrulha Brasas, de Rithy Panh
Andarilho, de Cao Guimarães

Grande curiosidade
A Cada um seu Cinema, de Theo Angelopoulos, Olivier Assayas, Billie August, Jane Campion, Youssef Chahine, Chen Kaige, Michael Cimino, Joel e Ethan Coen, David Cronenber, Luc e Jean-Pierre Dardenne, Manoel de Oliveira, Raymond Depardon, Atom Egoyan, Amos Gitai, Alejandro González Iñarrítu, Hou Hsiao-hsien, Aki Kaurismaki, Abbas Kiarostami, Takeshi Kitano, Andrei Konchalovski, Claude Lelouch, Ken Loach, Nanni Moretti, Roman Polanski, Raul Ruiz, Elia Suleiman, Walter Salles, Tsai Ming-liang, Gus Van Sant, Lars von Trier, Wim Wenders, Wong Kar-wai e Zhang Yimou
Armênia, de Robert Guédiguian
Em Paris, de Christophe Honoré
Lust, Caution, de Ang Lee
Planeta Terror, de Robert Rodriguez
Smiley Face, de Gregg Araki
Antiga Alegria, de Kelly Reichard
O Expresso Darjeering, de Wes Anderson
De Volta à Normandia, de Nicolas Philibert
Paprika, de Satoshi Kon
Silenciosa Luz, de Carlos Reygadas

E ainda tem nomes que podem surpreender, como Im Sang-Soo, Goro Miyazaki... Mas, enfim, aposta é aposta e essas aí são as nossas... Bom Festival.
Ruy Gardnier

10.9.07

Duas sobre o BOPE (ainda)

1) No Extra Online, há uma entrevista com Capitão Storani, "preparador de elenco" do Tropa de Elite. Recomendo destaque na parte "Criou-se um novo herói nacional".

2) "É nisso que a cultura popular tem sempre uma base, um apelo de mitologia, porque a mitologia é independente dos suportes, é uma caixa preta, não é um processo. Cada sociedade tem imagens, cenas que ela quer ver a não importa qual preço (...) há imagens que veremos em não importam quais condições." (Serge Daney, Persévérance, Paris: POL, 1994)
Luiz Carlos Oliveira Jr.

5.9.07

BOPE ao nosso redor

Não importa se o "vazamento" do Tropa de Elite foi ou não foi uma jogada de marketing. O que interessa é que o alastramento do filme pelas ruas do Brasil - e especialmente aqui do Rio - tornou-se possivelmente o mais importante acontecimento cultural dos últimos anos. Andem pelas ruas. Olhem para os lados. O "Bope" está em todos os lugares. Os camelôs colocam uma televisãozinha no meio da calçada, improvisando uma "sessão urbana". As cópias piratas circulam de mão em mão, nos escritórios, nas academias e inclusive nas redações (sim, sim, sou testemunha). Ontem mesmo, sábado à noite, me surpreendi passando em frente a uma lanchonete que exibia o filme para os seus clientes. Era como uma sessão fechada, uma pré-estréia de gala - mas, felizmente, ninguém estava vestido a rigor.

Antes do fenômeno ganhar o asfalto, começou no morro. A primeira vez que vi as cópias do vídeo foi subindo a Rocinha. As pessoas se apertavam em torno das barraquinhas, ansiosas. Convenhamos: ver a Rocinha se apropriando do tão preparado evento midiático Tropa de Elite antes dos grandes shoppings, antes dos Estações e dos Arteplexes, para fazer seu próprio "evento midiático", com suas arenas improvisadas, é sempre um fato curioso. Outra grande cena que tive o prazer de me tornar testemunha aconteceu no Morro da Providência, dentro de uma lanchonete. Eu tomava uma sopa de ervilha quando entrou um garotão segurando uma pistola numa mão e uma cópia do "Tropa" na outra. Chegou dizendo para a dona do lugar: "Quero ver esse filme!" Ao que a Dona logo respondeu: "Não é pornográfico, não, né?" E ele: "Não, não. Só tem umas cenas... sensuais". Estava ali, o garotão com uma pistola e um dvd pirata. O representado segurando a representação. Sem dúvida, queria se ver. Só que não havia mais o respeito cerimonioso ao retrato. Tropa de Elite já não era um evento imposto, limitado para alguns escassos possíveis consumidores - tornara-se simplesmente algo aberto, flexível, em plena mutação dentro do imaginário popular.

Com as cópias piratas circulando, com a capacidade do público em organizar seu próprio lançamento e distribuição (especialmente um público normalmente marginalizado do atual sistema de distribuição do cinema, um espetáculo, vamos admitir, CARO DEMAIS), o mundo, definitivamente, não é mais tlön. E, note-se que estamos falando da multiplicação de uma cópia que, dizem, não é a versão "correta". Aí está o melhor de tudo: não importa o quanto se esforcem para dizer que este não é o evento certo, que o "verdadeiro" evento está para vir, o oficial, o prestigiado ("consumam o produto cultural correto", dizem eles), porque ninguém quer saber. As pessoas fizeram seu próprio evento cultural e estão felizes com ele.

Antes que me acusem de fazer apologia à pirataria. Antes que me acusem de irresponsável e criminoso. Antes que me acusem de querer acabar com a indústria cinematográfica brasileira - vou fazer uma previsão: o Tropa de Elite será um sucesso TAMBÉM nos cinemas. É compreensível a preocupação daqueles que colocaram dinheiro, daqueles que deram tudo de si para realizar um filme. São compreensíveis as recentes reações indignadas daqueles que temem perder o esforço do seu trabalho. Mas todos podem ficar tranqüilos: tenho certeza de que quando fizerem o lançamento oficial do filme nós já sabemos aonde, com suas roupas de gala, seus coquetéis, seus repórteres, todos que podem (os poucos que tanto se orgulham disso) não vão deixar de comparecer ao maravilhoso Espetáculo Oficial. O verdadeiro e correto evento cultural "Tropa de Elite" reinará triunfante - e sempre haverá mais alguém querendo fazer parte dele.

Mas, independente do que ocorrer, há razões de sobra para todos que fizeram Tropa de Elite se orgulhar. O filme ganhou vida própria - e eu imagino que essa deva ser a maior alegria de um artista. De forma espontânea, natural, rica e vibrante, ganhou as ruas, as casas, as padarias e os bares. Até um novo nome o filme já tem, um apelido carinhoso, informal e generoso: BOPE. Sintético ao extremo, como todos os bons apelidos.
Bolívar Torres

3.9.07

Mario Carneiro (1930-2007)


























2.9.07

Cineclube na ABI

Muita gente não sabe, mas um dos primeiros locais de convivência do grupo cinemanovista, no final dos anos 50 e início dos 60, foi o cineclube que era mantido na Associação Brasileira de Imprensa, a ABI, no Centro do Rio de Janeiro. Pois bem, nessa onda de cineclubes pipocando Brasil afora, um lugar com esse histórico não podia ficar de fora - assim, lá na ABI estão sendo promovidas sessões semanais gratuitas. Na semana passada foi exibido pela primeira vez no Rio o filme de Ricardo Miranda sobre Paulo César Saraceni, A Etnografia da Amizade - infelizmente a gente ficou sabendo em cima da hora e não deu para avisar aqui, mas fica o registro. E amanhã, segunda-feira, o nível e o estilo da sessão se mantêm: o filme a ser exibido é Joaquim.doc, o filme sobre Joaquim Pedro de Andrade feito por seu velho parceiro Mario Carneiro junto com Antonio Andrade, filho de Joaquim. É um filme que traça um retrato delicado e carinhoso do realizador, como não poderia deixar de ser, contando algumas das boas histórias que envolvem Joaquim e a feitura de seus filmes.
Isso vai acontecer amanhã, segunda-feira 3/09, às 18h30, no 9º andar do edifício da ABI (Rua Araújo Porto Alegre, 71, perto do Teatro Municipal e do Palácio Gustavo Capanema). A entrada é franca.
Daniel Caetano