30.10.04

Distorção digital na 28ª Mostra

Depois de uma excelente projeção digital do filme Tormento/Tarnation (um filme feito em suporte digital, com saída final em digital), eis que somos brindados com um dos frutos podres das facilidades digitais. Ninguém Pode Saber, que não foi rodado em digital e tampouco tem saída final no formato numérico (foi filmado em 35mm), foi exibido numa estranha cópia digital legendada. Até aí nada demais? Até aí muita coisa, pois isso deveria vir discriminado na sala de cinema, como já discutíamos há algum tempo atrás neste mesmo contra-blog. Mas, pior que isso, o filme, originalmente rodado no formato 1,66:1, foi comprimido para 1:33 (o 4/3 da televisão) e tudo na tela ficou verticalizado (para não falar de coisas como definição de imagens, matiz, contrastes), tornando absolutamente impossível a visão do filme para quem tem o mínimo cuidado de ver cinema.
Atenção aos espectadores, atenção aos exibidores: exibir um filme em tamanhas condições adversas é um desrespeito a quem faz e a quem gosta de cinema, e a longo prazo só cria descrédito naqueles para quem é feito o cinema, os admiradores e o público em geral. Avisar é o mínimo. Que a distribuidora Imovision, que vem nos brindando com algumas das escolhas de lançamento mais audaciosas dos últimos anos, nos brinde também com boas cópias, que são necessárias para se ver bons filmes.
Ruy Gardnier

18.10.04

Cachaça e a volta do Cine-Buraco!

Hoje, segunda-feira, o Cine-Buraco retoma a programação da Sessão Jiguê, comandada pelo Márcio Melges, com a exibição em 16mm de Dersu Uzala, de Akira Kurosawa, às 20hs. Depois rola um show com a banda Paraphernalia.
Já há alguma semanas o Cine-Buraco vem voltando a realizar eventos, sem a ampla divulgação de antes. Agora não tem mais entrada paga - as sessões e eventuais festas serão só para sócios e convidados (por razões de alvará e afins). Para saber como virar sócio, basta dar uma passada por lá, na galeria do número 336 da Rua das Laranjeiras.

E quarta-feira, dia 20, tem Cachaça no Odeon! Começa às 21hs, vai ter os curtas Crack do Futuro (do Nilson Primitivo Gonzales), Imprescindíveis (de Carlos Magno), Vinil Verde (do Kleber Mendonça Filho), Felicidade (de Emerson Schmidlin) e Heliorama, filme mais recente do homenageado da noite, Ivan Cardoso. Depois, clássica festinha no Odeon. Imperdível, portanto.
Daniel Caetano

17.10.04

Maldita

Para descansar de uma maratona recém-terminada (a do Festival do Rio) ou para se preparar para uma vindoura já nesta semana (a Mostra de SP), nada melhor que uma festa, né? Pois então, os amigos (e mesmo os que nem o sejam ainda) cariocas estão convidados pra mais uma noite de contracampistas colocando o som na pista 2 da Casa da Matriz, durante a festa A Maldita (que tem blog, fotolog, comunidade do Orkut, etc). Como já é tradicional, a única coisa a se esperar da noite é não saber exatamente o que esperar - a não ser muita diversão. Afinal, os três redatores daqui que se revezam nas picapes são famosos, acima de tudo, por gostarem dos mais diferentes tipos e estilos de (único ponto em comum) música boa. Então tá combinado, né? Todo mundo lá.
Eduardo Valente

10.10.04

da série "O Festival é mesmo um evento muito estranho"...

Como se não bastasse a extrema facilidade para arranjar ingressos na "última chance" do Festival, quase provando o sabido - que a média do público não gosta dos filmes e sim "do festival" - ainda fui ver hoje o Kill Bill 2 no Estação, com pouquíssimas pessoas na sala em sessão noturna do sábado de estréia. No Festival, só faltava assassinato por um ingresso... tudo muito, muito estranho.
Eduardo Valente

8.10.04

O Festival do Rio acabou oficialmente, mas a atualização da cobertura da Contracampo vai até o final da chamada "Última Chance", com textos sobre os filmes que passam esta semana na repescagem do Espaço Unibanco e sobre os que não houve tempo de terminar durante o Festival. Confiram - e preparem-se para o início, em duas semanas, da cobertura da Mostra de SP.
Eduardo Valente

3.10.04

Tanto riso, tanta alegria...

Aparentemente, ou jogaram uma bomba de riso ou andam misturando gás hilariante no bebedouro do Espaço Unibanco do Rio de Janeiro. Esta semana, no Festival do Rio, quatro bizarras sessões comprovam a tese: em Tarnation, risadas até tímidas, mas sempre presentes, ecoavam a cada plano de uma avó com derrame cerebral ou de um avô com evidentes distúrbios comportamentais; logo a seguir, mesma sala, Gosto de Sangue dos irmãos Coen pareceu ser assistido como filme de outros irmãos, os Farrelly - gargalhadas incessantes e altíssimas pela sala toda (não me entendam mal, o filme tem aspectos engraçados, sem dúvida, mas está longe, mas muito longe, de ser uma comédia). Nos dois filmes, o mais estranho é que a platéia parecia querer estar rindo COM o filme, ou seja, imaginando estar comprando a proposta dos cineastas de serem risíveis (o que a tela claramente negava).
É de outra ordem o riso que veio em Anatomia do Inferno, de Catherine Breillat, e Falo!, de Tinto Brass - ali, claramente, ria-se DO filme, e não COM ele (de novo é bom esclarecer: o segundo filme é sim muito engraçado, mas não se ria só das piadas). Fenômeno duplamente fascinante e revelador: primeiro, da extrema dificuldade desta platéia educada de ver o sexo e suas variantes menos tradicionais expostas na tela do cinema, resultando em evidente processo de regressão infantil
("hehehehe, ele disse xoxota... hehehehe"); segundo, da ditadura do middle brow: do filme de Breillat ria-se por ser cabeça demais (vamos apelar ao vernáculo do nosso querido jornal campeão de circulação, que faz a cabeça da maioria da galera presente), enquanto do de Brass ria-se por ser "popular" demais - inadequados a "nosso bom gosto anti-reflexivo", portanto. Em miúdos: não mexam com o nosso sexo e, se mexerem, que seja papai-e-mamãe com lençóis brancos - e luz apagada!
Ou aceito a tese acima, ou vou ter que aceitar que definitivamente convencionou-se que só se pode divertir rindo - não importando de quê: "saí de casa esta noite, enfrentei a selva urbana e as filas, paguei caro o ingresso, mas também ninguém me impede de dar umas boas gargalhadas hoje!! HAHAHAHA - olha só a cabecinha cortada daquela criança meu amor!!".
Eduardo Valente