12.12.07

A constelação do Cinema de Estrelas

Começa hoje no CCBB de São Paulo a mostra Cinema de Estrelas, que reúne filmes protagonizados por grandes astros musicais, representando a si mesmos ou alter-egos (ou seja, seus personagens também são astros da música), todos eles realizados entre os anos 60 e 80. Foi uma produção um pouco inspirada pelos filmes dos Beatles, com aquelas figuras reais sendo envolvidas em tramas de ficção - e, assim, mexendo com o imaginário dos seus fãs.
Na lista da mostra, temos desde o caso dos filmes do Roberto Carlos dirigidos pelo Roberto Farias, que até hoje são bastante lembrados, assim como Estrada Da Vida, dirigido pelo Nelson Pereira e protagonizado por Milionário e Zé Rico (já escrevi sobre o filme aqui na revista), chegando a filmes hoje muito pouco lembrados e exibidos, como Amante Latino, dirigido pelo Pedro Rovai e estrelado pelo Sidnei Magal, e Vamos Cantar Disco Baby, dirigido pelo veteraníssimo J.B. Tanko e estrelado pelas Melindrosas - há ainda filmes com figuras como Agnaldo Rayol e Tonico e Tinoco, sem falar no nosso ministro Gilberto Gil em plena turnê de lançamento de um disco em Corações a Mil, dirigido pelo Jom Tob Azulay.
Essa mostra está sendo produzida pelo Rapha Mesquita e pelo Léo Levis e tem curadoria assinada por mim - fica em cartaz no CCBB de São Paulo até dia 23 de dezembro e a programação pode ser vista no site do CCBB. Fica aqui então o convite para os paulistanos irem curtir e sacolejar com os filmes.
Daniel Caetano

6.12.07

Premiação do 40o Festival de Brasilia

Terminou, na terça feira dia 27 de novembro, o 40o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O festival tem, nestes últimos 42 anos, se firmado como um dos mais importantes, não pelo número de filmes exibidos, mas pela sua repercussão e destaque. Conseguindo abranger o cinema além do objeto fílmico, o festival mantém a importante postura de abrigar lançamentos de livros, debates sobre os filmes e importantes workshops e seminários - ano passado teve o Seminário de Crítica, e, nesta edição, seminários de roteiros, discussão sobre o mercado para audiovisual, sobre a importância da preservação fílmica e todo um ciclo de mesas sobre Paulo Emílio Salles Gomes. Apesar disso, o festival continua mantendo um forte grau de conservadorismo ao negligenciar a maciça produção em vídeo e a nova crítica, como a Contracampo, Paisá e Cinética, veículos de crescente repercussão e discussão situados fora da grande mídia. Assim, não fazendo parte da cobertura do festival, e, em alguns casos, até tendo dificuldade no acesso aos filmes, me limito a comentar os poucos que vi.

A premiação de Melhor Filme a Julio Bressane e seu Cleópatra talvez não tenha sido tão surpreendente assim, apesar do filme ser. Já desde o início cotado como um dos favoritos, ser premiado como Melhor Filme demonstra a continuidade de um júri em tempo não fechado a filmes de "fácil acesso" - na edição de 2006 o prêmio ficou com Baixio das Bestas, de Claudio Assis, e em 2005, com Eu Me Lembro, de Edgar Navarro. Mais curiosa foi a premiação de Walter Carvalho com Melhor Fotografia pelo mesmo Cleópatra. Não pela sua valorização, que não é recente, mas pelo fato do prêmio ter sido dado por seu trabalho em Cleópatra, tão desconstrutivo sobre sua própria trajetória, enquanto Chega de Saudade, de Laís Bodansky, trazia, digamos, uma fotografia e um trabalho de câmera mais reconhecíveis. Aliás, o prêmio de Júri Popular de Melhor Filme ter ficado com Chega de Saudade sustenta a boa comunicação que o filme mantém com o público (consegui vê-lo apenas numa espécie de repescagem, longe da sala oficial e com um público bem diferente do que se encontra em festivais, que recebeu o filme como pouco tem acontecido com o cinema brasileiro).

Infelizmente, Falsa Loura, de Carlão Reichenbach, ficou apenas com Melhor Atriz Coadjuvante (Djin Sganzerla), e sua estonteante direção e o belíssimo trabalho de Rosanne Mulholland ficaram sem seu devido reconhecimento. Não consegui ver o novo de Belmonte (O Meu mundo em Perigo), nem o Anabasys, de Paloma Rocha e Pizzini, mas espero que a montagem do último realmente seja merecedora do prêmio (Ricardo Miranda), para ter desbancado a puta montagem de Paulo Sacramento em Chega de Saudade.

Em materia de curta-metragens, o Melhor Filme em 35mm ficou com Trópico das Cabras, de Fernando Coimbra, um belo road movie que ainda levou Prêmio de Atriz e Fotografia. A fotografia de Lula Carvalho, algo realmente revelador, consegue desfilar entre duas tendências caras aos novos fotógrafos, algo entre um formalismo preciso e um naturalismo arrebatador. O Melhor Filme e Direção em 16 mm ficou com o mineiro Ricardo Alves Junior, com Convite para Jantar com o Camarada Stalin, que já havia vencido Melhor Filme Experimental no Curta Cinema. E vale lembrar que o Melhor Roteiro ficou com Álvaro Furloni, por Esconde-Esconde, filme produzido graças à oficina de roteiro do Projeto Sal Grosso, e que também levou Melhor Ator e Atriz.

Veja a lista completa dos premiados aqui.
Lucas Barbi