28.6.05

Feminices

O Femina, festival de cinema dedicado a filmes de mulheres, convida hoje para sua abertura, lá no Armazém Digital, em Botafogo, às 20h30. A partir de amanhã, diversos filmes vão ser exibidos por lá - a programação pode ser conferida no site do festival.
O grande risco desse tipo de festival dedicado a "minorias" (ainda que mulheres, graças a Deus, não sejam minoria no mundo, elas o são na realização de filmes) é agir de forma contrária à sua proposta - ao tentar dar relevo a uma produção específica, arrisca-se a criar um gueto para esta mesma produção. Isto se torna óbvio se pensarmos que, afinal, a força de um filme depende de si, não do sexo ou cor de quem o faz - ainda mais porque, com esse critério de escolha, valoriza-se em excesso a pessoa que assina a direção em detrimento de outras funções. Este erro, vale notar, o Femina soube evitar - tanto que já exibiu e homenageou atrizes e produtoras.
E este ano a homenageada pelo Festival é a maior atriz: Helena Ignez. O Festival vai exibir seu filme A Reinvenção da Rua (montado pelo seu falecido marido Rogério Sganzerla) - desde já sessão imperdível. Além disso, vão rolar outras sessões bem bacanas com filmes premiados.
Daniel Caetano

21.6.05

Cartas retidas

Só um aviso pros amigos, sempre algo de bom tom. A correspondência parisiense está temporariamente suspensa, uma vez que o escriba encontra-se realmente atolado com muitas coisas, entre elas simplesmente ir ao cinema mesmo. No entanto, já tenho aqui temas pra pelo menos mais quatro - que, asseguro, serão escritas. Porém, muito provavelmente, só depois de ter voltado pro Rio mesmo - de onde devem rolar então como "Lembranças de Paris". Aguardem.
Eduardo Valente

13.6.05

Cinema Brasileiro no Canal 5!

Este mês de junho nos proporcionou um evento singular - clássicos do cinema brasileiro sendo exibidos na televisão aberta!
Ok, há um certo exagero na afirmação acima: a rede de televisão que exibirá, entre várias outras produções brasileiras, Terra Em Transe, Deus e o Diabo na Terra do Sol e curtas de Joaquim Pedro de Andrade (inclusive filmes bem raros como Linguagem da Persuasão) é aberta sim, mas... na França!
Aqui no Brasil, só está disponível para quem tem TV a cabo...

Trata-se da Tv5, que vai exibir um monte de filmes brasileiros por conta do tal "Ano do Brasil" lá na França - o que motivou o comentário do Valentoni de que "é o ano cultural do Brasil na França, mas certamente não é o ano cultural do Brasil no... Brasil".
Pois é.
Enfim, noves fora o ridículo da situação, pra quem puder, certamente vale a pena acompanhar
(e, só pra fazer coro à nota aí embaixo: Alô alô, Rede Brasil, quando é que a gente vai ter coisa parecida nas TVs Educativas?)
Daniel Caetano

O choque dos capetalistas

Legal a gente poder rever uma opinião. O Globo publicou uma matéria neste domingo chamada "Polêmica Divisão de Bens", escrita pelo mesmo Mauro Ventura que tinha entrevistado o Barreto alguns dias atrás, motivando uma outra notinha aqui embaixo. Bem, dessa vez não faltou disposição ao repórter - ao contrário, agora tivemos uma matéria de duas páginas em torno da movimentação de Barreto e associados em torno de uma graninha básica que está pra receber destinação. Legal, legal mesmo.
Mas é preciso apontar um problema, o ponto crucial da questão, que fica um pouco oculto no texto. O problema não se trata de "qualidade", "capacidade competitiva" ou outras cascatas - trata-se de retorno, contrapartida ou seja lá o nome que se dê.

A questão fica bem clara numa contradição do diretor Paulo Thiago, quando ele diz concordar com Barreto que é preciso patrocinar "filmes competitivos" e completa dizendo que "dar R$ 60 mil para duzentos produtores ao invés de dar R$ 200 mil para sessenta não cria democracia alguma" - e a reportagem chama atenção para o fato de que o filme mais recente de Thiago fez pouco mais de trinta mil espectadores.
Mais à frente, Leonardo Monteiro de Barros, produtor da Conspiração, sintetiza o problema ao dizer assim: "Não existe auto-sustentabilidade quando se tem apenas de 15% a 30% do mercado".
No entanto, nossos grandes produtores não pedem que o Estado aja de modo a fazer seus filmes serem vistos, que aja para aumentar sua participação através da regulação do mercado - pedem esmola para fazer mais um filminho, tentando tomar o lugar de quem ainda precisa dessa graninha.
Aí vem uma questão. Peguemos o exemplo de Barreto: desde o início do uso de leis de incentivo, o maior produtor de cinema do país já fez O Quatrilho, O Que É Isso, Companheiro?, Bella Donna, Bossa Nova, O Caminho das Nuvens, A Paixão de Jacobina, entre outros. A despeito de discussões sobre qualidade, é preciso notar um fato evidente - estes filmes foram exibidos nos cinemas, foram lançados em vídeo. Por menor que seja, tiveram retorno comercial. Onde esse dinheiro foi parar?

Quando a Lei do Audiovisual foi criada, usou-se como justificativa lógica que ela estimularia investidores a usar o lucro em novos filmes - o lucro fica com o patrocinador. Na Rouanet, o lucro fica com a empresa produtora. Por que, ao invés de ficar tentando manter seu quinhão na repartição das verbas de cultura e marketing da Petrobras (que, todo mundo já sabe, virou uma versão terceirizada da Embrafilme), Barreto não usa o lucro de filmes anteriores para financiar seus novos projetos?
É preciso que um grande produtor aposte em seus próprios projetos - ele não acha que faz filmes "competitivos", afinal?

Outra questão, nem mencionada, a gente já falou muito aqui: qual é o sentido de discutir bilheteria de centenas de milhares, no máximo, esquecendo a audiência televisiva de possíveis milhões? Como seguir com a discussão de acesso ao público sem falar de filmes nacionais recentes na TV? E como entender um sistema de financiamento de filmes que, feito por um Estado que mantém uma rede de televisão pública, não define que estes filmes devam ser exibidos nessa rede pública?

(Infelizmente, a versão on-line do Globo esconde seus links depois da edição diária - mas dá pra ler a matéria catando no arquivo. Ainda vamos tentar achar o link dela e botar nos comments, mas se alguém conseguir antes...)
Daniel Caetano

8.6.05

Premiações 10º Festival Brasileiro de Cinema Universitário

Entregues neste domingo passado no Cine-Arte UFF, as premiações do 10º Festival Brasileiro de Cinema Universitário foram as mais "justas" em bastante tempo. A competição de curtas também revelou-se, no seu conjunto de filmes, acima da média dos anos anteriores. Os grandes premiados da noite foram os excelentes O Nome Dele (O Clóvis) (dos nossos queridos contracampistas Felipe Bragança e Marina Meliande) e Quando um burro fala... (de Roberto Robalinho e Aurélio Aragão), ambos da UFF, levando cada um três prêmios.
Seguem as premiações:

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS
Destaque em Retrato da Realidade Nacional: Veja e Ouça - Maria Baderna no Brasil, de André Francioli
Destaque em Expressão Poética: Id, de Indira Dominici
Destaque em Contribuição Artística: O Nome Dele (O Clóvis)
Destaque em Pesquisa de Linguagem: Quando um burro fala... e Desordem, de Ana Priscila Freire
Destaque em Contribuição Técnica: Noturno, de Daniel Salaroli
Destaque em Expressão Cultural: O Homem da Mata, de Antônio Luiz Carrilho de Souza Leão
Menções Honrosas:
Produtora Lumiô (que apresentou os filmes Papá, Seqüestramos Augusto César e Maria Morango)
Inferno 5:17, de Christian Keramidas
Onde a Noite Acaba, de Poliana Paiva

MOSTRA COMPETITIVA DE VÍDEOS
Destaque em Retrato da Realidade Nacional: O Rangú do Tatu, de Diego Lisboa
Destaque em Expressão Poética: O chapéu do meu avô, de Julia Zakia
Destaque em Contribuição Artística: 02.Conjunto Residencial, de Adams Carvalho e Olívia Brenga
Destaque em Pesquisa de Linguagem: série Elevador, de André Scucato
Destaque em Contribuição Técnica: Terceira Pele, de Julieta Roitman e Joana Vargens
Destaque em Expressão Cultural: Maniçoba, de Paulo Hermida

MOSTRA COMPETITIVA INTERNACIONAL
Destaque em Retrato da Realidade Nacional: Hi8 Raport (Relatório do Movimento), de Verica Patrnogic, Sérvia e Montenegro
Destaque em Expressão Poética: Playing Dead (Fingindo-se de Morto), de David Hunt, Reino Unido
Destaque em Contribuição Artística: Roomservice (Serviço de Quarto), de Emil Graffman, Polônia
Destaque em Pesquisa de Linguagem: Cuibul Salbatic (O Ninho Selvagem), de Geanina Grigoras, Romênia
Destaque em Contribuição Técnica: Undertage (Dias nas Profundezas), de Jiska Rickels, Holanda
Destaque em Expressão Cultural: Jeste Tam (Você está lá), de Anna Kazejak, Polônia

PRÊMIO ABD&C-RJ
Quando um burro fala...
O Nome Dele (O Clóvis)
Menções Honrosas:
Veja e Ouça - Maria Baderna no Brasil
Dalva, de Caroline Leone
Prêmio de Vídeo:
O chapéu do meu avô
Menções Honrosas:
O Rangú do Tatu
Gregório Bezerra: Feito de Ferro e de Flor, de Anna Paula Novaes

PRÊMIO CACHAÇA CINEMA CLUBE
Homens Pequenos no Ocaso Projetam Grandes Sombras, de Tim Gerlach (Filme Estrangeiro)
Cio Gasoline, de Thiago C. Domingos (Filme Deprê)
O Nome Dele (O Clóvis) (Melhor Filme Contemplativo)

PRÊMIO DO PÚBLICO
Mostra Competitiva de Curtas:
Quando um burro fala...
Mostra Competitiva de Vídeos:
Gregório Bezerra: Feito de Ferro e de Flor
Mostra Competitiva Internacional:
Meine Eltern (Meus Pais), de Neele Leana Vollmar
Tatiana Monassa

2.6.05

Capitalista em estado de choque

Chora tua tristeza, cinema brasileiro, como na velha canção. Ontem o Globo publicou uma nova matéria com Luiz Carlos e Lucy Barreto. Verdade seja dita, essas matérias com os dois são tão habituais e parecidas umas com as outras que parecem ter sido guardadas em velhas gavetas. Mas tudo bem - só que, se essa tem algo de diferente, é um troço bem triste. No final da matéria, há um comentário que deveria provocar lágrimas de esguicho, pra usar a expressão do outro, em todo mundo que gosta de cinema brasileiro. Cito aqui o que disse a matéria:

"Segundo Barretão, de 2002 para cá os recursos foram pulverizados e se voltaram para primeiros filmes, produções experimentais e regionais.
- São filmes que devem ser feitos, sim, mas com outras formas de financiamento. É função da Secretaria do Audiovisual botar debaixo do seu guarda-chuva toda a produção de investigação de linguagem. Do jeito que está vamos bater o recorde de produção de filmes inéditos, que não chegam ao mercado. Estão sendo feitos menos filmes competitivos
"

Olha, é triste pra cacete ler um negócio desses. Não apenas pelo comprometimento dela, nem apenas pelo engodo que pretende criar. É triste sobretudo pela trajetória de vida de Luiz Carlos Barreto.
Barreto, pra quem ainda não sabe, é o maior produtor de cinema da história do país. Produziu filmes excelentes e filmes péssimos, grandes sucessos e alguns fracassos. Nos últimos anos, dedicou-se principalmente a fazer filmes dirigidos por seus filhos Bruno e Fábio, mas também participou de outros projetos.
E esta frase é uma admissão de fracasso. O maior produtor de cinema brasileiro admitiu que perdeu a guerra. Não é capaz de manter sua produção se não tiver a ajuda financeira de empresas estatais, mantida através de incentivo fiscal, ou seja, usando dinheiro público. Barreto prega um cinema de altas bilheterias, mas nem mesmo considera a hipótese de que este cinema se sustente através destas mesmas bilheterias - é preciso ter a ajuda estatal. Ajuda estatal para fazer produtos comerciais, "filmes competitivos", seja lá o que ele pretenda dizer com isso.
Isto é profundamente triste. Parece que nosso cinema comercial não pode alçar vôo - não confia em suas próprias asas. Barreto não pede regulação para que seus filmes sejam bem distribuídos e sejam vistos por muita gente - pede ajuda apenas para que sejam feitos, mesmo que depois esses filmes competitivos tenham resultados semelhantes aos do Julio Bressane. Barreto, assim, confessa ao cinema brasileiro: "Fracassamos miseravelmente". Que os deuses do cinema lhe protejam.

No mais, vale lamentar profundamente a falta de disposição do repórter do jornal, Mauro Ventura. Com todo respeito, faltou-lhe vontade de entrevistar. Não era tão difícil: "Senhor Barreto, mas o senhor não considera que um filme comercial, por natureza, deve se sustentar através de sua bilheteria?". Ok, talvez fosse um pouco difícil - mas este seria o trabalho de um repórter. Ao não fazer esta pergunta, a reportagem omitiu-se e comprou a versão sem prestar atenção. Azar dos leitores, que eventualmente podem não perceber o jogo sendo jogado.
Daniel Caetano

Programação

Hoje, quinta-feira, tem um programa e tanto lá na sessão tela Brasilis, no MAM - vão exibir O Padre e a Moça no cinema, tendo como complemento A Hora Vagabunda, do Rafael Conde.
Alguns argumentos pra ir assistir a O Padre e a Moça no cinema: interpretação de Helena Ignez e Paulo José, fotografia de Mário Carneiro, música de Carlos Lyra e enredo criado pelo diretor Joaquim Pedro a partir de um poema do Drummond. Imperdível.
Daniel Caetano

1.6.05

Sem comentários!

Pois é, talvez fosse assunto que desse pra se dar conta nos comentários deste blog, mas enquanto o queridíssimo ennetation nos boicota com o sumiço dos nossos comentários (coisa que já aconteceu antes, e cuja volta é tão misteriosa quanto o desaparecimento), não custa destacar: como a Quinzena dos Realizadores e a Un Certain Regard têm repetição na semana seguinte aqui em Paris, a cobertura de Cannes ainda não tinha acabado junto com o Festival em si não - atualizações aí do lado, como de hábito.
Eduardo Valente