25.5.05

Lista de compras

Já que o pessoal sempre fica inquieto depois de um Festival como Cannes, seguem os filmes já anunciados como comprados para distribuição no Brasil. Vale notar que a lista não é completa, porque negócios continuam se desenvolvendo depois do Festival, e nem é garantida, já que alguns filmes acabam tendo direitos devolvidos ou podem demorar até dois anos (vide Brown Bunny) para estrear. Isso dito, já é alguma coisa...
Competição
Lemming (Dominik Moll); Manderlay (Von Trier); A history of violence (Cronenberg, a ser lançado com o, er, peculiar título de O anjo da morte); Broken flowers (Jarmusch); L'enfant (Dardenne); Free zone (Gitai).
Un Certain Regard
Down in the valley (David Jacobson); Le temps qui reste (Ozon); Marok (Laila Marrakich); Habana blues (Benito Zambrano).
Eduardo Valente

21.5.05

Live from Cannes, it's Saturday Night!

Bom, saíram os premiados. O engraçado em Cannes é que a imprensa (e quem mais quiser) assiste a premiação ao vivo na segunda maior sala de Cannes, no telão onde passam tantos dos filmes. É uma TV grandona e coletiva, algo bem divertido. Não era difícil adivinhar quem ganhou ou não prêmios porque, em Cannes, quase 100% de quem levou aparece no tapete vermelho - e os perdedores não. Então, quando Hou Hsiao-hsien, Von Trier ou Cronenberg não deram as caras... Bom, tinha ficado ruim pra eles. São os grandes perdedores do ano, no sentido da relação expectativa dos prêmios-premiação. Mas tenho certeza que nenhum dos três está muito preocupado com isso... A lembrar que Dogville e Mystic River nada levaram em 2003 e talvez tenham tido a melhor carreira dos filmes exibidos em Cannes. Prêmios são relativos... Mas, dito isso, vamos a eles, com os comentários de quem estava presente:
Prêmios Técnicos: estes não passaram na cerimônia, mas são muito interessantes. Um deles, até óbvio, para Robert Rodriguez pelo conceito visual de Sin City. Mas o outro, de enorme sensibilidade, para Leslie Shatz pelo conceito sonoro de Last Days. Um prêmio nada esperado e inteiramente merecido.
Prêmio do Júri: Shanghai Dreams, Wang Xiaoshuai - como quem acompanha a cobertura sabe, este eu não vi. Mas é só a média mesmo: todos os quatro filmes da Competição que eu não vi levaram algo. Ano que vem vai ser "superstição" - eu não vejo o filme, ele ganha algo. Amanhã, 20h, vejo e comento. O fato é que este é o prêmio "filme pequeno que achamos legal" - quando saiu pra este, ficou claro por que o Reygadas não tinha aparecido também na premiação.
Prêmio de Roteiro: Guillermo Arriagas, The Three Burials of Melquiades Estrada - ou o famoso "prêmio pro roteiro que mais chama a atenção pra si", o que nunca me parece uma boa coisa. Mas esse tava cantado, como forma de premiar a surpresa do ano, que foi considerado o filme de Lee Jones, pelo qual ninguém dava nada antes de passar. De resto, Arriaga é roteirista-estrela, o único a aparecer muito com a equipe, sair nas fotos etc.
Prêmio de Direção: A cara de bravo de Michael Haneke recebendo o prêmio deixava claro o que todos sabiam então: nadica de Palma de Ouro pra ele. Nem olhou na cara do Kusturica na hora da foto - devia ter dado uma de Angelopoulos, que ao ganhar este prêmio com o Ulysse's Gaze resmungou que só aceitava a Palma de Ouro, e acabou levando com o filme seguinte.
Prêmio de Interpretação Masculina: Tommy Lee Jones - alguns acharam que acabou ficando exagerado pro filme ter os dois prêmios, mas este era merecido. Claro, podia ser o Jeremie Renier do L'Enfant (impressionante), ou o Bill Murray, ou mesmo Viggo Mortensen ou Michael Pitt, mas a interpretação de Jones é mesmo estupenda.
Prêmio de Interpretação Feminina - Hanna Laslo, Free Zone. Mais um que não vi. Mas todo mundo comentava que este prêmio seria de qualquer uma mais ou menos, porque a competição parecia fraca. Bom, eu gostava muito de Sabine Azema, de Peindre ou faire l'amour, mas preciso ver a moça do Gitai antes de falar. Mas a fofoca boa é que a Natalie Portman, também no filme do israelense, não apareceu em nenhum evento oficial de promoção porque ao ver o filme viu que o Gitai tinha cortado completamente sua personagem. Enfim... a mãe da Leia e do Luke deve saber o que faz.
Grande Prêmio do Júri: Broken flowers, de Jim Jarmusch. Sempre bom ver o Jarmusch ganhando prêmios e fazendo os melhores discursos sempre (a coletiva dele com o Bill Murray foi um clássico). Nele, ele citou quase todos os cineastas nominalmente como uma honra de sequer passar um filme junto com os deles, e especificamente nomeou "Hou Hsiao-hsien, de quem eu sou apenas um aluno". O prêmio tem cara de "conjunto de obra", mas eu também tenho plena noção de que vou gostar muito mais do filme numa revisão, sem duas horas de fila antes e cansaço batendo.
Palma de Ouro: L'Enfant, dos irmãos Dardenne. Duas Palmas nos últimos três filmes pros irmãos belgas, então - que bom que Kusturica & cia não ligaram pra isso. Dizer que eles merecem é fácil pra mim - mas, pra um cara tão pé-frio, finalmente eu acertei em cheio, tendo meu filme preferido premiado pelo júri. Bom, já é alguma coisa - de resto foi a alegria zoadora de ouvir alguns colegas da imprensa aqui dizendo que não tinham visto o filme, e que terão que ver amanhã na reprise (neguinho não aprendeu com Rosetta não??). Por que um prazer? Porque a sessão dos Dardenne é às 8h30 amanhã. Hehehe! Já eu dormirei feliz a manhã toda!
E me parece que o Von Trier realmente não vai fazer a terceira parte logo logo...
Eduardo Valente

20.5.05

Arteplex

E a Contracampo, revista criada no Rio de Janeiro, dá as boas-vindas ao conjunto de salas Arteplex recém-inaugurado em Botafogo!
Ótima notícia, sem dúvida - fazemos votos de que a saudável concorrência pelo público dos filmes fora do esquema hollywoodiano traga ao Rio mais e mais filmes bons. Crescendo o espaço de exibição, pode crescer o público. Desse jeito, a coisa fica melhor pra todo mundo - pra quem vive de cinema, pra quem vai ao cinema e, certamente, pra quem escreve sobre o assunto.
Daniel Caetano

Brasil ganha "metade" de prêmio em Cannes

Pela segunda vez a Cinefondation premiou o Brasil, ainda que de forma indireta desta vez. Concorrendo de fato com o filme O Lençol Branco, de Marco Dutra e Juliana Rojas, o país não deixou de ser premiado com o primeiro prêmio do Festival indo para Buy It Now, uma produção da NYU Tisch School of the Arts, mas dirigido por Antônio Campos, que como o nome indica é um filho de brasileiro com americana e que possui de fato dupla nacionalidade brasileira e norte-americana. Eu não consegui ver os filmes da sessão (apenas a exibição do Lençol), mas diz-se que ela estava bem forte, como sempre (afinal são selecionados em torno de vinte filmes a partir de mil inscrições), e que o filme de Campos é muito bom - o que a gente confia sabendo que no júri estavam, entre outros, Edward Yang e Chantal Akerman. Fica a notícia, que vem complementar a boa recepção de todos os outros filmes brasileiros.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
100% de desaproveitamento

Acabam de ser anunciados os prêmios da FIPRESCI (associação internacional de críticos), e eu estou até agora com 100% de desaproveitamento na escolha dos filmes a ver. Na Quinzena dos Realizadores, claro, eu não poderia ter visto o vencedor, já que só verei a mostra na semana que vem (o ganhador foi o coreano Crying Fist, de Ryoo Seung-wan). Mas tanto na Un Certain Regard quanto na Competição os escolhidos também foram filmes não vistos por este seu fiel servidor - em ambos os casos não por escolha minha, mas por azares do destino. Sangre, filme mexicano de Amat Escalante, ganhador da Certain Regard, passou no primeiro dia, quando eu ainda não estava aqui. E o vencedor da competição foi Caché, de Michael Haneke, que perdi por ficar de fora. Verei os dois no fim de semana, porém, prometo!
Eduardo Valente

Polícia no Cinema

Dica: Barra Pesada, belo filme dirigido pelo Reginaldo Farias, passa no MAM nesse sábado, dia 21, às 16hs. Tem história original do Plínio Marcos e música do Edu Lobo.
Isso rola dentro da mostra Cinema Policial Brasileiro, que já passou e ainda vai passar mais vários filmes bem legais durante esse mês.
Daniel Caetano

19.5.05

ABC da Imagem

O Prêmio ABC, dado pela Associação Brasileira de Cinematografia que, siglada,dá-lhe o nome, escolheu como melhor fotografia de 2004 (como os prêmios de cinema brasileiro são atrasados, o TAM vem aí com mais delay ainda!) o trabalho apresentado em Olga, de Jayme Monjardim, fotografado (ou cinematografado, como prefere a pomposa sigla) por Ricardo Della Rosa. Esse resultado já é revelador. Olhado o grupo de finalistas, entretanto, a revelação confirma a impressão. Concorriam na "final" Cazuza - O tempo não pára, de Sandra Werneck e Walter Carvalho, fotografado pelo próprio diretor, e Nina, de Heitor Dhalia, câmera na mão de José Roberto Eliezer. Ora, o extrato da produção brasileira de 2004 escolhido para concorrer ao prêmio deixa clara a sintonia entre os fotógrafos que fazem nosso cinema e esse cinema mesmo: fotógrafo não é semiólogo, logo, o que está em jogo em sua premiação sempre parece ser a habilidade técnica. Daí os três trabalhos da final serem filmes que apresentam fortes performatismos de câmera, enormes ações olímpicas da fotografia (num crescente que vai do mais discreto, Cazuza, ao mais presepento, Nina, que ainda tem a ajuda da direção de arte e dos efeitos especiais para isso). Mas o fato de que Olga ganhou o prêmio parece o mais sintomático, não só da atividade fotográfica brasileira (afinal, é normal que os profissionais votem em quem demonstra skills e não, em especial, em quem faz um trabalho mais ou menos interessado simbolicamente), mas também do cinema brasileiro atual: ele parece que ainda não venceu o problema da "qualidade", parece que está sempre querendo provar algo a alguém. Em um 2004 que estreou no Brasil coisas como Sexo, Amor e Traição ou A Cartomante, não é muito fácil procurar uma produção que possa atrelar fotografia "bem feita" a sentido. Mas, ao mesmo tempo, no ano em que o próprio Carvalho fotografou Filme de Amor, indicar Cazuza não faz sentido. Narradores de Javé, Benjamin e Filme de Amor, aliás, os trabalhos fotográficos mais expressivos do ano só tinham um representante gritantemente skillfull (justamente o de Carvalho), mas me parecem filmes mais expressivos do que os que acabaram como finalistas e infinitamente mais importantes do que o que ganhou.
Alexandre Werneck

12.5.05

Os diários de Cannes do Valente

Só pra avisar: para nossa alegria, a conexão wireless instalada em Cannes permite ao nosso amigo Valentoni ter tempo e lugar para escrever muito mais do que podia na outra cobertura que fez do festival. Sendo assim, seus textos podem ser bem maiores e detalhados - e portanto merecem um espaço próprio, aqui ao lado do contra-blog.
Fica então a dica pra todo mundo seguir atento, porque a coisa vai continuar a ser publicada nos próximos dias.
Daniel Caetano

11.5.05

A Maldição do Cinema Brasileiro

O agitador cultural e cinematográfico Remier Lion volta a aprontar das suas. Para sorte dos cariocas, a Casa França-Brasil volta a exibir a fabulosa mostra Malditos Filmes Brasileiros nas tardes das quintas-feiras, às 18h30 - e a entrada é franca, com senhas distribuidas quinze minutos antes da sessão. A mostra tem site, onde mais informações podem ser obtidas.
Segue abaixo a programação das próximas semanas, sempre nas quintas-feiras às 18h30:

12 de Maio: Patty, a Mulher Proibida, de Luiz Gonzaga dos Santos. Com o anão Dilin Costa, Roberto Miranda e Helena Ramos.
19 de Maio: Snuff - Vítimas do prazer, de Cláudio Cunha. Com Carlos Vereza, Canarinho, Rossana Ghessa, Hugo Bidet, Fernando Reski, Roberto Miranda e Nadyr
Fernandes.
26 de Maio: O Quinto Poder, de Alberto Pieralisi. Com Eva Vilma, Oswaldo Loureiro, Augusto César Vanucci e Sebastião Vasconcelos.
02 de junho: A Vingança De Chico Mineiro, faroeste dirigido por Rubens Prado.
09 de junho: Na Mira Do Assassino, filme policial dirigido por Mário Latini.
16 de junho: Fuscão Preto, aventura fantástica com Xuxa Meneghel.
23 de junho: A Reencarnação Do Sexo, filme de terror dirigido por Luiz Castillini.
30 de junho: Amadas E Violentadas, policial dirigido por Jean Garret, com David Cardoso.
07 de julho: O Mau Caráter, comédia dirigida por Jece Valadão.
14 de julho: Bacalhau - Bac's, pornochanchada dirigida por Adriano Stuart.
21 de julho: A Filha do Padre, faroeste dirigido por Tony Vieira.
28 de julho: Ódio, policial dirigido por Carlo Mossy.
Daniel Caetano

10.5.05

man. road. river. premiado em Oberhausen

O júri do Festival de Curtas de Oberhausen (um dos três principais festivais de curtas do mundo), presidido pela grande Nicole Brenez, acaba de atribuir o Grande Prêmio do Festival a man. road. river. Esta obra-prima do videomaker mineiro Marcellus L. já havia chamado nossa atenção por ocasião da última Mostra Curta Cinema, na qual recebeu o prêmio de melhor filme experimental. Num bate-papo que data desta época, como eu não conseguia esconder meu entusiasmo, Marcellus se mostrou visivelmente surpreso pela boa acolhida do filme no mundo do cinema, uma vez que seu trabalho (com proposta originalíssima, por sinal) não se destina originalmente aos festivais, tendo entrado meio que por acidente neste universo. man. road. river., dentre seus videos o mais narrativo, é uma obra de enorme impacto visual - eu me lamento amargamente de não tê-lo assistido em tela grande. Graças à premiação, pode ser que eu tenha outra oportunidade.
Eximo-me de mais opinião passando a palavra a quem entende melhor, o júri de Oberhausen: "Um brilhante filme minimalista com um uso exemplar de material visual, ele obtém o máximo de efeito alegórico com uma dimensão enigmática". Um artigo de Cezar Migliorin sobre man. road. river. e Da Janela do Meu Quarto de Cao Guimarães, outro videomaker/cineasta mineiro (que será exibido agora em Cannes) foi publicado na edição 67 da Contracampo.
Parabéns ao Marcellus! Esperamos ainda que essa premiação cumpra uma dupla função: permitir que outros de seus videos sejam exibidos nos festivais brasileiros de cinema, ajudando a abolir de vez a fronteira entre os suportes na exibição.
A lista completa dos premiados de Oberhausen pode ser acessada aqui.
Fernando Veríssimo

9.5.05

Cannes

A partir de quinta, dia 12 de maio, estarei acompanhando o Festival de Cannes ao vivo do balneário mais famoso do cinema, e vou tentar reeditar aqui a cobertura que consegui fazer em 2003 - nada de muito aprofundado, por faltar tanto tempo de escrita quanto tempo pra deixar os filmes assentarem, mas pelo menos um diário com respostas imediatas ao cardápio diário que se apresentará. Aviso que, como a Quinzena dos Realizadores é reprisada na íntegra em Paris na semana seguinte ao Festival, muito provavelmente eu estarei fazendo a cobertura desta depois de Cannes mesmo, já que terei a chance de acompanhá-la então. Em Cannes, ficaremos concentrados na Seleção Oficial (competição, Un Certain Regard, sessões especiais), tentando dar uma fugidinha aqui e ali na Semana da Crítica.
Eduardo Valente

2.5.05

Carlão

A boa dessa semana e da próxima acontece no CCBB-RJ - mostra de filmes de Don Carlone Reichenbach. Não tem nem o que dizer, é coisa imperdível.
Daniel Caetano

Presente de Grego

A comemoração dos 50 anos de Rio 40 Graus começou bem: descobriu-se que o negativo original da obra-prima de Nelson Pereira dos Santos teve de ser "sacrificado" pela Cinemateca Brasileira em razão do péssimo estado de conservação em que se encontrava (Garrincha, Alegria do Povo teve o mesmo destino). No jogo de empurra que se seguiu e foi noticiado pelo Jaime Biaggio n'O Globo de sábado (e pela coluna do Ancelmo Góis antes), todos se esquivaram da culpa. Não duvidamos do esforço e do bom trabalho da Cinemateca Brasileira - trata-se de caso típico em que a culpa, como é comum nas tragédias, recai sobre todos nós. E também o pesar. A cultura brasileira está de luto.
Fernando Veríssimo