19.5.05

ABC da Imagem

O Prêmio ABC, dado pela Associação Brasileira de Cinematografia que, siglada,dá-lhe o nome, escolheu como melhor fotografia de 2004 (como os prêmios de cinema brasileiro são atrasados, o TAM vem aí com mais delay ainda!) o trabalho apresentado em Olga, de Jayme Monjardim, fotografado (ou cinematografado, como prefere a pomposa sigla) por Ricardo Della Rosa. Esse resultado já é revelador. Olhado o grupo de finalistas, entretanto, a revelação confirma a impressão. Concorriam na "final" Cazuza - O tempo não pára, de Sandra Werneck e Walter Carvalho, fotografado pelo próprio diretor, e Nina, de Heitor Dhalia, câmera na mão de José Roberto Eliezer. Ora, o extrato da produção brasileira de 2004 escolhido para concorrer ao prêmio deixa clara a sintonia entre os fotógrafos que fazem nosso cinema e esse cinema mesmo: fotógrafo não é semiólogo, logo, o que está em jogo em sua premiação sempre parece ser a habilidade técnica. Daí os três trabalhos da final serem filmes que apresentam fortes performatismos de câmera, enormes ações olímpicas da fotografia (num crescente que vai do mais discreto, Cazuza, ao mais presepento, Nina, que ainda tem a ajuda da direção de arte e dos efeitos especiais para isso). Mas o fato de que Olga ganhou o prêmio parece o mais sintomático, não só da atividade fotográfica brasileira (afinal, é normal que os profissionais votem em quem demonstra skills e não, em especial, em quem faz um trabalho mais ou menos interessado simbolicamente), mas também do cinema brasileiro atual: ele parece que ainda não venceu o problema da "qualidade", parece que está sempre querendo provar algo a alguém. Em um 2004 que estreou no Brasil coisas como Sexo, Amor e Traição ou A Cartomante, não é muito fácil procurar uma produção que possa atrelar fotografia "bem feita" a sentido. Mas, ao mesmo tempo, no ano em que o próprio Carvalho fotografou Filme de Amor, indicar Cazuza não faz sentido. Narradores de Javé, Benjamin e Filme de Amor, aliás, os trabalhos fotográficos mais expressivos do ano só tinham um representante gritantemente skillfull (justamente o de Carvalho), mas me parecem filmes mais expressivos do que os que acabaram como finalistas e infinitamente mais importantes do que o que ganhou.
Alexandre Werneck