30.10.04

Distorção digital na 28ª Mostra

Depois de uma excelente projeção digital do filme Tormento/Tarnation (um filme feito em suporte digital, com saída final em digital), eis que somos brindados com um dos frutos podres das facilidades digitais. Ninguém Pode Saber, que não foi rodado em digital e tampouco tem saída final no formato numérico (foi filmado em 35mm), foi exibido numa estranha cópia digital legendada. Até aí nada demais? Até aí muita coisa, pois isso deveria vir discriminado na sala de cinema, como já discutíamos há algum tempo atrás neste mesmo contra-blog. Mas, pior que isso, o filme, originalmente rodado no formato 1,66:1, foi comprimido para 1:33 (o 4/3 da televisão) e tudo na tela ficou verticalizado (para não falar de coisas como definição de imagens, matiz, contrastes), tornando absolutamente impossível a visão do filme para quem tem o mínimo cuidado de ver cinema.
Atenção aos espectadores, atenção aos exibidores: exibir um filme em tamanhas condições adversas é um desrespeito a quem faz e a quem gosta de cinema, e a longo prazo só cria descrédito naqueles para quem é feito o cinema, os admiradores e o público em geral. Avisar é o mínimo. Que a distribuidora Imovision, que vem nos brindando com algumas das escolhas de lançamento mais audaciosas dos últimos anos, nos brinde também com boas cópias, que são necessárias para se ver bons filmes.
Ruy Gardnier