27.8.07

700 cópias significa força ou o prenúncio da agonia?

Essa nota do Rapha aí embaixo nos obriga a chamar a atenção para outra consequência da pirataria de filmes: o aumento do número de cópias dos chamados blockbusters nos anos recentes. Mesmo quando o país tinha cinco mil cinemas, não havia tantas cópias para a estréia de um único filme como vem acontecendo com investimentos nem tão vultuosos das empresas gringas que compõem a Motion Pictures. Será que o fato de Homem-Aranha 3 ter estreado com tantas cópias é apenas consequência da casa-de-mãe-joana que é o mercado de salas de cinema? Se é assim, por que antes a invasão não era ainda maior, quando havia mais salas?
Me parece evidente que esse imenso número de cópias é consequência de um punhado de razões - o retorno para publicidade maciça e a necessidade de encurtar a janela para DVD e TV - mas o diferencial é justamente essa pirataria que obriga os filmes a serem acessíveis o mais rapidamente possível nas salas.
Basta fazer as contas, porque Hollywood não gosta de jogar dinheiro fora - qual seria o motivo para gastar mais dinheiro fazendo o dobro de cópias do que se fazia anteas? Porque é assim que dá lucro. A médio prazo, com o aumento (inevitável?) da pirataria de DVDs e de downloads, como é que os investimentos nesses filmes carésimos vão obter retorno?
Há décadas se fala no fim do cinema, e no entanto a produção de filmes continua, mesmo que os conceitos e significados sociais dos filmes tenham mudado muito. Mas blockbusters não são uma invenção imprescindível para o cinema e não existem desde o início dos tempos - ao contrário, há um período claro em que começam a ser feitos, no final dos anos 70. Isso ainda pode demorar anos, mas, assim como surgiram, eles podem um dia se tornar inviáveis e acabar. Ou serem reduzidos a espaços similares aos que seus produtores tentam reduzir o resto dos filmes. Um espaço marginal e circense, circense como são estes filmes que representam o auge da indústria.
(Ok, alguém poderá dizer que essa profecia está mais próxima de uma praga rogada. Pode ser...)
Daniel Caetano