12.8.07

- Peixe fresco, quem vai querer?

Pois é, depois dos cascudos que o Conceição tomou do crítico do Globo, o Segundo Caderno publicou ontem um texto meu que tentou oferecer uma outra visão sobre o filme para os leitores do jornal. Foi um espaço bem bacana para um texto, só temos a agradecer. Não dá pra comparar com esses textos bonitos que estão por aí (dois aqui na Contra, outros pela web afora) porque é, vamos ser claros, um texto de um dos diretores do filme querendo dar razões claras às pessoas para assisti-lo. Mas tentei evitar que fosse apenas um texto rebatendo a crítica publicada, porque isso normalmente é muito chato. Como o acesso ao Globo não é coisa muito simples na web, republico aqui o texto para quem quiser ler.

Falei que rebater a crítica é chato, mas acho que tem um ponto do texto que vale a pena comentar aqui, porque não diz respeito apenas ao filme que eu fiz ou ao sujeito que fez a resenha (embora eu tenha percebido isso porque estava ligado, é claro). É o seguinte: o texto em questão terminava com as frases: "Como brincadeira, deve ter sido divertidíssimo. Para o espectador, nem tanto".
Como opinião, problema nenhum, tudo parte do jogo - é claro que fazer um filme não é brincadeira, mas o juízo de valor é problema do cara que escreveu e ele pode achar o que quiser. O problema está no lugar em que ele se coloca para o leitor - como se tivesse a visão d'O Espectador'. O sujeito que escreveu o texto é apenas um dos vários espectadores, e outros podem ter uma visão diferente da dele, sem por isso serem "menos" espectadores do que ele. Isso é o óbvio. Não haveria problema algum caso a frase final fosse "Para este crítico, nem tanto".
Achei que valia a pena falar desse caso aqui por conta disso. Alguns velhos de guerra vão saber que volta e meia isso acontece, há muito tempo, e que o que me levou a comentar a questão foi o envolvimento que eu tenho com o filme - mas os outros leitores podem achar interessante essa questão que envolve a ética da escrita sobre cinema (e sobre arte em geral). Sobretudo porque esse tipo de equívoco é bastante estimulado pelo formato editorial de "guia de consumo" dos cadernos culturais, mas deixa evidente a vergonha que o crítico tem de assumir o seu papel no texto (ou o seu texto no papel, sei lá). Até dá para entender os motivos, eu também já tive altos problemas com o termo "crítico" e a imagem social da parada. Mas o rapaz que resenhou o filme no Globo não é "o espectador", ele é um crítico e precisa se reconhecer como tal. E, mal ou bem, isso sempre vale pra todos nós que escrevemos sobre filmes, é claro.
Daniel Caetano