13.8.07

MAM/RJ traz Bressane, Fuller, Chabrol, Glauber, Oiticica, Godard, Sganzerla... o responsável é Ivan Cardoso...

Uma feliz coincidência faz com que as três exposições presentes no MAM/RJ sejam relacionadas, com mais ou menos propriedade, ao cinema brasileiro. A primeira, estreada há duas semanas, é a de Bia Lessa (realizadora do longa-metragem Crede-Mi, há menos de dez anos) sobre Guimarães Rosa e seu Grande Sertão: Veredas.A segunda, estreada terça-feira da semana passada, é dedicada à Tropicália e, apesar de não envolver uma mostra com os filmes pertencentes ao período, traz cartazes, fotografias, capas de disco e, com mais força, exposições dedicadas aos artistas plásticos mais decisivos do período e do "movimento", como Hélio Oiticica, Lygia Clark, Antonio Dias, Lygia Pape, entre outros. Curiosamente, trata-se da primeira geração artística brasileira a fazer uso ostensivo da película como suporte às suas experimentações artísticas (parte dessa produção pôde ser vista numa mostra recente, em vídeo, infelizmente muito mal montada, curada e apresentada ao público pelo Oi Futuro há uns meses atrás). Mas eu queria chamar atenção mesmo é para outra exposição estreada no mesmo dia da badalação tropicalista, que foi a FOTOIVANGRAFIAS, com fotografias, colagens e objetos de Ivan Cardoso produzidos de 1970 até os dias de hoje. Boa parte do material já aparece em seus livros ou ilustrou reportagens e livros de outros, mas pouco importa. Expostos, enormes na nossa frente, seus retratos encontram sua dimensão apropriada, e vistos todos em conjunto nos permitem vislumbrar um olhar de artista que, por trás do reconhecido escracho e teor pop que permeia sua obra (e tão celebrado quando do lançamento de um O Segredo da Múmia, em 1981, por exemplo), existe um cuidado, um detalhismo, uma delicadeza da construção do gesto, do momento, que só aparece a partir de um olhar mais cuidadoso, revelando um potencial icônico que ora acasala a personalidade do retratado (impossível existir imagem mais apropriada de Torquato Neto do que a fotografia de seu rosto envolto no escuro, p.ex., ou os irmãos Campos + Pignatari vistos em dois tempos diferentes, Macalé com os telefones...), ora como pura força de imagem, como as fotografias de Hélio Oiticica ou a fantástica imagem que ressalta os olhos de Jardel Filho, escondendo quase a totalidade de seu rosto. No mais, a exposição ainda serve como uma coleção, um registro daqueles personagens que foram culturalmente os mais significativos para uma geração de artistas brasileiros, aqueles que se identificavam com a vanguarda e a renovação das artes brasileira, no cinema, na poesia, na arte plástica, na crítica, etc. Uma forma de paideuma (para usar um termo muito badalado por essa turma), por que não?
A exposição vai até 30 de setembro, mas pra que esperar tanto tempo?
Ruy Gardnier