8.8.07

Maradona ou Pelé?

Sobre a nota aqui embaixo, eu queria complementar com mais um comentário. Essa lista que eu fiz tem vinte longas excepcionais e mais outros tantos curtas e médias - e isso porque não botei filmes de que gosto como Estorvo, A Ostra e o Vento, Garotas do ABC e O Ano em que meus pais entraram de férias (porque acho esses muito bons, mas eu me esforcei pra fechar a lista em 20 filmes - nem sempre vejo sentido nisso). Enfim, o que eu queria notar é que, mesmo que eu me esforce muito, não consigo fazer uma lista de filmes argentinos excepcionais com tantos títulos. Comento isso porque já falei algumas vezes com amigos e acho que isso precisa ser dito desde que o Jean-Claude Bernardet escreveu aquele artigo polêmico na Revista de Cinema em que afirmava que o cinema argentino estava se mostrando muito superior ao brasileiro.
Isso não quer dizer que eu contesto a afirmação em si - na verdade, se eu não consigo listar vinte filmes argentinos recentes excepcionais, é porque tenho muito mais acesso à produção de cinema feita no Brasil do que a feita na Argentina. E duvido que consigam listar tantos filmes o Bernardet ou qualquer outro dos que advogam essa superioridade, como nosso querido Inácio. Não se trata de querer encontrar a versão argentina para o Eduardo Coutinho ou tecer juízos de valor entre O Pântano e Serras da Desordem, e sim notar que é muito fácil pegar três ou quatro filmes argentinos mais bem-feitos e apontar a superioridade deles sobre um grupo heterogêneo de mais de sessenta filmes brasileiros.
Qualquer comparação entre cinematografias já é, por natureza, subjetiva e um tanto bizarra. Mas, para fazer um mínimo de sentido, seria preciso comparar as produções anuais por inteiro. Caso contrário, parece apenas ser o caso de achar que a grama do vizinho é mais verde.
Por outro lado, isso sempre me leva à questão sobre a recepção aos filmes brasileiros no exterior - porque não me surpreendi com o sucesso de Cidade de Deus ou Central do Brasil, mas acho realmente muito intrigante que alguns filmes com propostas bastante fortes, como O Signo do Caos ou os filmes do Coutinho, simplesmente passem em branco nos lugares em que se vê e se discute cinema com mais atenção.
Alguns podem supor que isso se deve a estarmos valorizando filmes que não são tão bons. Acho que não é por aí - o fato é que cinema depende de comunicação, compreensão, e alguns dos nossos maiores filmes recentes trazem questões que são muito fortes para quem as vive e as tem próximas, mas não têm o mesmo peso para quem não faz parte da aldeia. E, sinceramente, a valoração de obras de arte pelo seu caráter universal me parece um negócio meio simplista. Não importa tanto se afeta inicialmente apenas a um número um pouco mais restrito - desde que realmente cause uma boa agitação nas idéias e afetos.
(e eu acho que a lista da Paisà confirma isso que eu disse)
Daniel Caetano