7.6.03

Lolitas para as multidões! No dia em que o Flamengo joga a primeira partida final da Copa do Brasil com o Cruzeiro, o Globo e a Folha de São Paulo distribuem país afora 1,1 milhão de exemplares do livro - pode-se imaginar a multidão rubro-negra em peso, antes da partida final, divertindo-se com o livro do russo caçador de borboletas. É uma tiragem recorde no Brasil, nos informa a Folha.
Não encontrei o link, mas é muito bom o curto texto do Veríssimo (o gaúcho, não o contracampista) que o Globo publicou esses dias - fazendo um paralelo entre a relação do professor de literatura européia Humbert Humbert com a ninfeta Dolores Haze e a relação entre o mundo aristocrático de onde vem Nabokov e o mundo que ele encontrou nos EUA.
Agora, sobre a comparação com Dostoiévski feita no caderno Idéias, sem dúvida interessante, vale acrescentar ainda que, na verdade, o autor mais citado em Lolita é Edgar Allan Poe, a começar pelo personagem da primeira namorada de Humbert, Annabel Lee - nome de um poema de Poe. Além do personagem Annabel, Poe é citado mais de vinte outros trechos, segundo Alfred Appel no seu "The Annotated Lolita" - um estudo fabuloso sobre o livro de Nabokov, publicado em inglês pela editora McGraw-Hill. Coletando mais de trezentas notas acerca do livro, Appel nos aponta todos os instantes da narrativa em que há referências (quase sempre irônicas) a Poe e outros escritores - Mallarmé, Shakespeare, Joyce, Lewis Carrol... A comparação com Dostoiévski é original mas faz sentido, já que Nabokov era professor de literatura e devia conhecer bem o caso do seu compatriota.
Para não fugir demais do assunto cinema, resta notar que nenhuma das versões soube dar conta da força do livro - ainda que a de Kubrick tenha várias qualidades. Possivelmente porque qualquer um pode imaginar uma estória em que um coroa seduz uma garota de doze anos, mas filmar isso com gente de carne e osso são outros quinhentos.
(Daniel Caetano)