24.5.03

Valente em Cannes (20)
A competição ganhou real vida: agora há pelo menos algum suspense real quanto à Palma de Ouro. Isso porque, como eu adiantava, já havia uma certa torcida para que surgisse algum filme que pudesse tirar do Von Trier uma segunda Palma tão cedo. E o filme de Eastwood encaixa-se em uma série de possibilidades: prêmio pela carreira, filme ao mesmo tempo reflexivo e totalmente palatável (portanto com menos possibilidade de dissenção interna no júri). E, talvez o mais interessante, em pleno momento político atual, premiar um americano. Porque se a doutrina Bush é detestável, igualmente o é anti-americanismo bobo que periga tornar-se doutrina corrente. Premiar o filme de um americano típico, republicano (que trabalha aqui com dois dos atores mais abertamente críticos de Bush, Penn e Robbins), mas capaz do tipo de complexidade e riqueza criativa que tem Eastwood, seria um dos mais generosos atos políticos. Mas será que o júri irá tão longe assim no raciocínio? Mesmo que fique só no filme, seria com justiça o prêmio.
(Eduardo Valente)