22.5.03

Valente em Cannes (14)
Ah, la critique...
Há um fenômeno muito interessante em Cannes este ano. Como se sabe, muitos dos diretores com os quais a Seleção Oficial costuma contar não conseguiram terminar os novos filmes a tempo para Cannes (entre eles Coen, Tarantino, Kusturica, Kiarostami, Manoel de Oliveira - embora sobre este corra o boato de que ele tenha terminado e o filme tenha sido recusado - e até mesmo Ingmar Bergman, que para quem não sabe está terminando um filme). Por isso, a própria direção do evento (pelo menos em boca pequena) admite que tinha poucas opções e teve que fazer uma seleção mais "arriscada", só que no melhor dos sentidos (mais filmes de jovens, etc). Só que é impressionante como a crítica de cinema talvez seja uma das forças mais conservadoras no mundo artístico. Defensora ferrenha de um certo "middlebrow" total, ela vocifera contra filmes considerados "comerciais" demais para Cannes (como o do italiano Pupi Avati), mas também acha que os filmes arriscados (como os de Bonello, Kurosawa, Gallo, Le You) não são dignos do Festival. Chega a ser ridículo o desinteresse com que estes filmes (todos eles INTERESSANTÍSSIMOS) foram tratados, desprezados, ridicularizados. Se tem algo envelhecendo muito é a crítica de cinema, as sessões no geral parecem os chás da Academia de Letras... sem qualquer imortal presente.
(Eduardo Valente)