7.8.06

Uma história triste II - Onde está a Cinemateca Carioca?

Não dá pra fugir do aspecto mais triste do post abaixo: é preciso relembrar, quatro anos depois, as atitudes de certos atores do processo para compreender as consequências que estamos vendo acontecer.
No caso da direção do MAM, o que fica evidente é que as críticas feitas na época não perderam a validade - o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro tratou com absoluta irresponsabilidade um acervo que se comprometera por décadas a preservar. Muita coisa do acervo se deteriorou com mais rapidez por causa do destrato do MAM, e essa responsabilidade histórica é antes de mais nada da direção do MAM à época, chefiada pela Maria Regina Nascimento Brito (que anos antes já tinha quebrado o Jornal do Brasil) e composta por luminares da cultura carioca como Gilberto Chateaubriand e Heloísa Buarque de Hollanda.
Mas, se essa (ir)responsabilidade o tempo veio confirmar, vale lembrar a ação de algumas figuras que acabaram por moldar esse cenário - em que o Arquivo Nacional tentou ao longo de quatro anos armazenar filmes sem ter condições físicas para isso. Isso aconteceu, sejamos sinceros e bem claros, porque o prefeito César Maia e seu secretário de cultura Ricardo Macieira acenaram com uma verba grande para construir uma reserva técnica para os filmes - e o Arquivo Nacional, de olho nesse apoio financeiro e no relevo social que ganharia com o acervo de filmes (ambas razões no mínimo justificáveis), se dispôs a receber o material do MAM, considerando que assim também receberia a verba da prefeitura do Rio. A historiadora Mary Del Priore, então diretora do Arquivo Nacional, foi a responsável por apresentar a proposta do AN e a fazer a negociação com o MAM. Dessa forma, o AN se comprometeu a cuidar de um arquivo sem ter condições para isso - e acabou por tomar o espaço de outra soluções possíveis que foram apresentadas. Testemunhas e agentes centrais desse processo foram Orlando Senna, então secretário de cultura do governo do Rio (governo Benedita, sem um tostão furado no bolso), Murilo Salles, na época presidente da Abraci (associação dos cineastas), Wilson Borges, dono da Labocine, e Alice Gonzaga. Além, é claro, de Arnaldo Carrilho, então presidente da Riofilme e representante da prefeitura do Rio - que se dispunha a entrar com a grana para resolver tudo.
Mas resolver de que forma?, era essa a questão. Mantendo a característica de optar por projetos de grande porte, bastante caros, a dupla César Maia e Macieira propôs a criação da Cinemateca Carioca, que deveria vir a funcionar no cais do porto, num armazém da prefeitura que seria climatizado para tal.
O Arquivo Nacional não recebeu o volume de verbas prometido pela prefeitura (isso inclusive rendeu uma discussão aqui na revista entre o Felipe, que publicou uma nota sobre o assunto, e o Clóvis Molinari, do Arquivo Nacional, que respondeu a ele numa carta à Contracampo) e até hoje nada foi feito no projeto da tal Cinemateca Carioca. Alguém aí ouviu falar dela recentemente?
Bem, mas não se preocupem que a diversão está garantida, já que no ano que vem vai ter Pan-americano no Rio.
Daniel Caetano