16.7.06

Mal-estar nos finais felizes

Bem, talvez o destino da Bia Falcão já seja assunto velho uma semana após o final de Belíssima - e eu nem posso dar opiniões mais aprofundadas especificamente sobre a novela do Silvio de Abreu, já que não acompanhei. Mas a sorte da vilã me fez lembrar de pelo menos dois filmes brasileiros recentes em que os vilões ricaços se dão bem, o Brasília 18% do Nelson Pereira e o Bens Confiscados do Carlão Reichenbach (ainda que no melodrama do Carlão o senador não seja um vilão típico, inclusive porque nem sequer aparece).
Sobre isso, vale lembrar um comentário revelador feito pelo Nelson na entrevista à Folha, no trecho em que ele fala que soaria pouco crível terminar seu filme com a punição dos culpados. É isso. Ninguém no Brasil acredita atualmente que os corruptos sejam punidos, e as ficções não podem fugir dessa constatação (que, tanto em Brasília 18% quanto em Bens Confiscados, deixa os protagonistas atônitos).
Tradicionalmente, a regra da dramaturgia é que se puna os vilões, mas o caminho escolhido pelo Carlão, pelo Nelson e pelo Silvio de Abreu foi o oposto - e, se nos três isso tem um aspecto inequívoco de provocação ao espectador, foi justamente na novela desse último que a coisa se configurou como um tapa na cara, mesmo que com luva de pelica.

Também, pudera... É difícil escapar desse sentimento de descrença e insatisfação na nossa época, quandoo partido do mensalão e o partido da emenda da reeleição voltam a disputar o poder mais uma vez - afinal, são os dois partidos mais fortes na praça, e ninguém aposta um centavo nas chances de vitória de outras alternativas nas eleições de outubro.
O que não quer dizer que não haja alternativas. E eu não sei vocês, mas eu prefiro votar num candidato que tem 1% nas pesquisas do que ter que escolher entre dois partidos sabida e comprovadamente corruptos e incompetentes. Prefiro mil vezes o Cristovam Buarque a ter que escolher entre esses políticos medíocres que só não se aliam nacionalmente porque disputam espaço em São Paulo (porque em termos de propostas e administração eles são bem parecidos, né?).
Daniel Caetano