12.7.06

A Copa de Cinedine

Bem, ok, o momento de síndrome de abstinência pós-Copa já está passando.
Antes que fique tarde, façamos algumas considerações.

Sobre o Brasil
A primeira, mais óbvia, é que foi realmente uma pena que o Parreira não tenha dado ouvidos à Contracampo. Basta olhar a escalação que propusemos, numa nota mais aí embaixo. Antes de mais nada, porque foi uma besteira gigantesca levar três centroavantes (Ronaldo, Adriano e Fred) e somente um atacante rápido e de criação (Robinho). Quando este único atacante se machucou, Parreira se viu obrigado a insistir com um esquema de dois centroavantes que, enfim, se provou equivocado.
Do mesmo modo, é pena que o técnico tenha insistido na escalação do que o Rodrigo chamou de "ex-jogadores".
Assim como a Contracampo tinha razão em apontar que Ronaldinho Gaúcho é um ponta-de-lança que depende de atacantes rápidos, não é atacante (como, aliás, o Kaká comentou em plena Copa). Meu amigo Valente, creio que os jogos comprovaram que Gaúcho no ataque não dá. Ainda mais se for só pra encaixar o Juninho no meio-campo - mas isso agora já é uma questão ultrapassada.
Também gostaria de dizer que concordo muito com nosso (ainda muito querido) Ronaldo gordo, que recentemente declarou que os torcedores brasileiros têm dificuldade de aceitar a pura e simples derrota, sempre inventando teses para explicar o óbvio. Ronaldinho Gaúcho e Kaká não renderam? Talvez isso se deva mais ao fato de estarem cansados ou do esquema do time nunca ter se acertado do que a serem "mercenários". Aliás, é curioso acompanhar a imprensa de São Paulo e ver como o Kaká - que é excelente jogador e merece outra chance, mas foi de longe o pior em campo na derrota para a França - é protegido nas avaliações e escolha dos "vilões".
Com relação a isso, finalmente gostaria de chegar ao ponto central: concordo que há uma grande dose de arrogância na composição da derrota, mas não vejo a arrogância no salto alto. O problema que todos esses detalhes indicam é evidente: Parreira (assim como boa parte da torcida) tem total convicção de que o ataque brasileiro sempre será excepcional, em qualquer circunstância. Isso é uma postura arrogante - acreditar que basta acertar a defesa que "no ataque o pessoal resolve". Pois, como comentou Juan, não foi somente por ter tomado um gol que o Brasil perdeu, mas também por não ter feito outros tantos - nem sequer ameaçou. Nossa defesa estava ótima, mas nosso ataque estava péssimo.

Sobre Zidane
Esse senhor resolveu tirar a Copa para desmentir o comandante Parreira, não é mesmo? Não bastasse ter desmontado o esquema brasileiro, ainda resolveu tomar essa Copa para si, como raros jogadores conseguiram, e nos faz desconfiar que há uma nova prova de que nosso técnico estava errado quando disse que apenas os vencedores são lembrados. Ou será que da final de 2006 alguém se lembrará mais dos desarmes do Cannavaro do que do pênalti batido por Zidane ou da cabeçada em Materazzi?
Olha, eu sei que sou minoria (esse é um dos casos em que eu sinto que ninguém concorda comigo) mas achei aquela expulsão um vacilo do juiz - acho que um amarelinho estava de bom tamanho. Não é pra ser conivente com a violência ou a boçalidade, mas peraí: o Figo já tinha dado cabeçada em um holandês na Copa e tomou amarelo. E eu acho errado que se puna com mais rigor um troco numa discussão do que uma falta que pode quebrar a perna de alguém. Sempre achei isso. Mas o juiz argentino que não dava vermelho para solada na perna alheia deu amarelo pra uma cabeçada e expulsou o craque. Pra mim, aquele juiz quis ser mais vedete que o craque. De resto, quem acompanhou a carreira do Zidane sabe que ele sempre foi cabeça-quente e recordista em cartões. Mas foram dele as imagens da Copa. No youtube já tem a cena da cabeçada em diversas versões: há uma hilária com um narrador francês que se desespera; mas essa outra tem a imagem mais forte, exibida na transmissão da Tv para o mundo todo, quando Zidane passa, de cabeça baixa, ao lado da taça da Copa.
O pessoal fica falando mal do gesto do Zidane e até está certo - é evidente que o time perdeu com a atitude destemperada. Mas com um pouco de esforço a gente pode lembrar de coisas parecidas feitas por outros craques. Que tal Pelé dando uma cotovelada num uruguaio em plena semifinal da Copa de 70? Como se sabe, o juiz acabou marcando falta a favor do Brasil. Mas e se tivesse expulsado o cara? Ele não poderia jogar a final.... E Garrincha em 1962, acertando um pontapé no adversário também numa semifinal da Copa? Na situação, até o Jango escreveu para a Fifa pedindo que o jogador estivesse na final... E Maradona em 82, metendo a trava da chuteira no peito do Batista e sendo expulso (aí sim, numa atitude bem mais violenta, numa disputa de bola) no jogo em que o Brasil eliminou a Argentina?
Enfim, Zizou sifú... Quanto ao cabeceado Materazzi, o globo online e a Nomínimo descobriram dois vídeos impressionantes também no youtube que mostram a categoria do herói italiano. Vale conferir aqui e aqui.

Sobre os debates esportivos na TV
Ok, a concentração da nossa seleção virou o equivalente esportivo do Big Brother Brasil, mas como é pobre e sem sal essa cobertura feita só pela Globo, hein?
Eu sei que essa frase sempre soa estranha, mas: ah, que saudade de 94!
Pô, que troço horrível aquele Bem, Amigos, pelamordedeus!
E esse ano teve uma outra coisa péssima: os comentaristas clássicos da Bandeirantes ficaram escondidos em canais por assinatura. Quer dizer, de vez em quando o Silvio Luiz aparecia nos debates noturnos, mas trabalhava mesmo no canal de assinatura da Band. O programa mais prestigiado fora da Globo era o do Milton Neves, que, enfim, é aquele negócio, né?
Enqunto isso, ficamos privados dos dois melhores comentaristas do país, aqueles que realmente entendem de táticas, organização e movimentação dos times: O Tostão escreveu sua coluna para a Folha com a genialidade de sempre, mas só participava eventualmente de uma mesa da ESPN Brasil (por assinatura); e o Gérson, o grande Canhota de Ouro, não participou de nada na TV. É pena - são dois caras que sempre fazem as coisas ficarem realmente mais claras para quem assiste aos jogos.

Se a Copa desse prêmios como um Festival de Cinema
Prêmio Ralph Macchio de pior ator: Cristiano Ronaldo
Prêmio Robin Williams de canastrão mais chato: Luís Felipe Scolari
Melhor produção: defesa italiana
Pior produção: preparação da seleção brasileira
Melhor direção: Marcelo Lippi, técnico italiano, e Jurgen Klinsmann, técnico alemão
Pior direção: Luca Toni, atacante campeão, e Pauleta, atacante português; menção desonrosa para Valdez, atacante do Paraguai, e para todos os atacantes de seleções africanas
Prêmio Araribóia de figuraça da Copa: pro francês maluco, é claro.

Bem, a vida continua.
Agora, vamos à final da Copa do Brasil! Dá-lhe, Dá-lhe Mengo!
Daniel Caetano