14.5.04

Sobre indústrias e lobos

Desvirtuemos Godard (ele mesmo, aliás, citando): toda vez que eu ouço falar em indústria de cinema no Brasil, eu puxo o meu lencinho Kleenex (se o choro é da ordem do trágico ou do cômico, aí já é difícil dizer). Para começar, pela falta de fundações em cima das quais se possa dizer que há uma indústria construída. Mas, numa parte menor, pelo aspecto absolutamente mambembe de algumas encarnações dessa proto-indústria. Nesse sentido, os trailers são quase sempre um dos maiores exemplos: peça com fins absolutamente comerciais, feitas com o simples objetivo de vender os filmes, no geral os trailers brasileiros, dos filmes mais autorais aos mais "industriais" (olha o Kleenex aí!), mais assustam ou desinformam do que atraem. No entanto, embora a introdução desta notinha até aqui possa ter dado a impressão contrária, o que se quer aqui é ressaltar um exemplo regenerador: os felizes trailers de dois filmes que buscam um contato mais amplo com o público, e que vendem seu peixe com enorme competência - Cazuza - O Tempo Não Pára (de Sandra Werneck e Walter Carvalho) e O Outro Lado da Rua (de Marcos Bernstein). Resta ver se as estréias comprovarão estes filmes e seu resultado, ou não - mas também não se pode atribuir toda ligação de resultado de bilheteria de um filme apenas com uma das suas peças publicitárias. O que se sabe agora é: são pelo menos dois trailers que não estão atrapalhando os próprios filmes, muito pelo contrário. Algo louvável e que faz crer um pouco mais no potencial anti-Kleenex da tal "indústria".
Eduardo Valente