25.8.03

Luto

Com dor e pesar informamos o falecimento de Jairo Ferreira, amigo, colaborador e influência decisiva deste veículo. Nos últimos anos, Jairo vinha lutando contra o alcoolismo. Graças à ajuda de amigos como Paulo Sacramento, Inácio Araújo e Carlos Reichenbach, ia aos poucos se recuperando numa instituição, quando vem agora essa triste notícia que nos tira definitivamente as esperanças num pronto restabelecimento. Autor do obrigatório Cinema de Invenção, dono de uma pessoal e instigante escrita que influenciou e educou algumas gerações (dos anos 80 à nossa), Jairo escreveu para a Folha de São Paulo, para o São Paulo Shinbum, Cine-Imaginário e, mais recentemente, para a Contracampo. Realizador, entre outros, de O Vampiro da Cinemateca e O Guru e os Guris, Jairo permanecerá em nossos pensamentos como um artista inquieto, dinâmico, sempre preocupado em cruzar referências, buscando criação, comoção e excitação das imagens de que é feito (e das que, para além dele, provoca) o cinema. Misto de argúcia crítica, psicodelia, esoterismo revolucionário e provocação, Jairo Ferreira sexualizou a escrita sobre cinema, suas linhas sendo uma extensão de sua expressão, com um formalismo próprio que colocava o gozo como incógnita necessária da função crítica. Passado este doloroso momento, faremos a única espécie de homenagem que Jairo merece e gostaria: um canto elegíaco para um homem que, como Oswald de Andrade (de quem é um notável sucessor), fazia da alegria a prova dos nove.
Ruy Gardnier