2.4.03

O Jeca, mais uma vez! A premiação do personagem Dhomini no Big Brother Brasil 3 só cristaliza uma tendência ancestral de nosso projeto de protagonismo audiovisual. Entre a ignorância de Kleber, a desconfiança de Rodrigo e a malandragem do terceiro, reafirma-se a tradição do herói desajustado, fora de seu contexto e atrapalhado, figura do caipira modernizado (de boné ou acreditando em alienígenas...), as três edições do programa foram caracterizadas pela presença crucial e premiação da figura do clown como herói do público e rei vitorioso. Nem a construção de heroínas românticas claras (Vanessa e Manuela) ou a caracterização da "mulher forte" vinda do nordeste (Elane) foram capazes de deslocar o foco dramático dessas figuras a um só tempo malandras e ingênuas. Reafirmando também a grande influência que uma certa cultura do interior paulista (com um braço em Goiás) tem tido sobre sobre a medição da audiência da TV brasileira e, por conseguinte, sobre a própria formatação de nossas identidades (Lula sobrevoando a área...). Mais uma vez, as metáforas da "justiça" e do "merecimento" lançadas pelo roteiro do programa e ditadas por Bial não foram suficientes para deslocar o foco dramático (e a preferência do público) do "caipira que se dá bem na cidade grande". QUESTÃO: Seria o malandro ingênuo (o jeca-esperto de Mazzaropi a Dhomini), AINDA HOJE, a personagem mais poderosa (os "paredões" que o digam) que já pisou nas bandas de nossas imagens?
(Felipe Bragança)