20.3.03

Som e Silêncio. As duas imagens-ícones do início do Golpe de Estado norte-americano no Iraque somam-se como o retrato peturbador da onipotência: Na primeira, a imagem de uma Bagdá tranquila e vasta (com sinais de trânsito mudando do verde ao vermelho e poucos carros cruzando as ruas) é chacoalhada pelo som das sirenes de alarme... Nada parece acontecer. De repente um estrondo, um grande estrondo em off sobre a imagem plácida de um amanhecer comum: e o céu da cidade se transforma num estourar de estrelas. Na segunda, o inverso, os lábios silenciosos e comprimidos de G.W. Bush, flagrado ao ensaiar em sussurros as palavras de seu pronunciamento; do canto do quadro surge uma mão feminina com laquê e um pequeno pente, e começa a ajeitar seus cabelos: os olhos fixos, os lábios rápidos, as mãos femininas alisando o grisalho do cabelo - nenhum som - Bush tenta segurar um sorriso, refaz sua contenção. Os estondros continuam na imagem desértica de Bagdá. O grito das sirenes, o silêncio sussurrado e inatingível de Bush se aprontando para o espetáculo. A antologia do terror ganha mais um capítulo de suas imagens. Bush começa a falar.
(Felipe Bragança)