24.3.03

Está provado: a democracia é a camuflagem suprema da parte obscura do capitalismo! Graças ao showzinho de Michael Moore no Oscar, os Estados Unidos são novamente um país democrático. Agora, quando perguntarem sobre o corporativismo da imprensa e o monopólio da informação, Murdoch, a Fox, os falcões e suas revistas cachorrinho já poderiam responder : “E o Michael Moore???...” (assim como o diabólico Rupert se defende respondendo : “E os Simpsons?!”). É isso aí : toda festinha bagaceira precisa do seu pó-de-arroz profissional, de preferência disposto a fazer o papel de palhaço que lhe armaram.
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O que mais me incomoda em Michael Moore não é a contestação em si, que é muito bacana, e sim essa sua vaidade incontornável. A presença constante do autor num documentário funciona, como já provaram Coutinho e Marcel Ophuls, quando é questão de transparência ou meta-cinema – o questionamento sobre o próprio “fazer documentário”. Nesses casos, a figura do pesquisador, ou seja, o investigador documentarista, é um assunto em si; já em Moore o uso da sua figura onipresente está mais para a auto-promoção. Para vender seus livros nos seus filmes e vice-versa, nada melhor mesmo do que explorar essa marca inconfundível do grande super-herói dos direitos humanos. Sinceramente, depois do showzinho de ontem, Moore está mais é para o Pedro de Lara dos direitos humanos.
(Bolívar Torres)