18.4.03

E viva a transparência no uso de recursos públicos! Aí, doutor Carrilho, agora ninguém mais pode reclamar que o destino da grana é um mistério, não é mesmo? Inclusive, outros parabéns precisam ser dados – afinal, agora que o apoio a Chatô foi prometido publicamente, ninguém mais pode acusar a Riofilme de não apoiar estreantes cariocas!
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Há uma certa malandragem política nesse interesse da empresa por transparência. Vamos a ela, a partir de notícias veiculadas pela imprensa: o prefeito César Maia e seu secretário Ricardo Macieira, já há alguns meses, vinham passando por cima da direção atual da Riofilme, decidindo o destino das verbas antes das análises das comissões da empresa (cuja composição não é tornada pública – em tese, ninguém pode saber os integrantes, mas na prática a teoria é outra). Mesmo com uma matéria no jornal O Globo trazendo à tona o fato, o dr. Carrilho fez que não era com ele – e agora deu um jeito de, com um só gesto, lavar as mãos e marcar posição. Basta ler o Comunicado n° 03/03, o pequeno texto final do seu informe, para que isso fique claro. As decisões da Riofilme estão tomadas – e se algo sair diferente do que está ali a responsabilidade é dos superiores.
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Por caminhos tortos, então, se faz o que a médio prazo pode dar muito certo – tornar público o destino das verbas (de forma ainda muito pouco rigorosa). Pode-se, de fato, acusar de elitista e patoteira a direção da empresa – com todo respeito que merecem os nomes históricos ali presentes, ali só estão presentes nomes históricos e filmes ligados à administração: o filme dirigido pelo genro do prefeito, o filme produzido pelo sobrinho do prefeito, o filme do filho do ministro, o filme-viagem do sujeito que hospeda o doutor Carrilho... Mas isso é pequeneza (inclusive porque os filmes são ou podem vir a ser bons) , e certamente os erros anteriores eram menores que os atuais – isso transparece já neste relatório. Se antes tínhamos as decisões nas mãos de burocratas relapsos, a truculência cultural e cívica do prefeito e seu secretário vem se mostrando coisa muito pior. Isso não se limita à Riofilme ou ao cinema – basta ver o bizarro e faraônico factóide do Museu Guggenheim ou a disposição de entregar a Miguel Falabella o dever de criar uma Broadway carioca nos teatros do município (e os horários nobres dos melhores teatros do Rio estão sendo ocupados por atores e espetáculos globais no momento). Dessa forma, Maia e Macieira demonstram acreditar que a melhor maneira de administrar recursos culturais é dar mais dinheiro a quem já tem – depois de engordar as verbas públicas com investimentos de risco na Bolsa de Valores. Voltando à lista da Riofilme, um projeto ganha mais de um milhão de reais, e um outro produzido por Luiz Carlos Barreto ganha setecentos mil. Note-se que o doutor Carrilho fez birra: Chatô não está na lista...
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Sr. Prefeito, sr. Secretário: não era melhor pagar à grande emissora de televisão para os dois apresentarem um talk-show semanal no horário nobre, ou coisa parecida? Serviria talvez como contraponto aos programas radiofônicos do adversário, não? Afinal, se o interesse é aparecer na mídia...
(Daniel Caetano)