11.3.03

Vendo As Horas, percebe-se claramente que Stephen Daldry acredita no cinema "de arte" como uma sucessão contínua de "artezinhas" que, por acumulação, dariam uma artezona. Empedernido que só, o filme acha que basta colocar uma trilha sonora culta, atrizes de renome fazendo caras e bocas, fotografia bonita, temas densos e profundos e uma narrativa lenta para transformar um apinhado de película em arte. Se Stephen Daldry crê no acavalamento de talentos mais do que em um projeto de filme que faça partilhar talentos a princípio dessincronizados (e é como eles estão no filme), utilizemos o procedimento oposto, a fragmentação (antes disso duas notas: a) os únicos momentos bons do filme são a relação entre Virginia-Kidman e sua sobrinha, aparentemente a única pessoa que faz a ponte entre os artistas entediados e as "pessoas normais", e a única parte do filme que trata da contaminação artística; b) mais e mais, todos que contracenam com Meryl Streep se apresentam ridículos em suas caras e bocas tentando manter o pique da companheira):
Meryl Streep ***
Juliane Moore ***
Nicole Kidman **
Toni Collette **
Philip Glass *
Stephen Daldry 0 (duplo, narrativa e direção de atores)
Mr. Woolf 0
Ed Harris 0
Claire Danes 0
(Ruy Gardnier)