19.11.03

Sem nem termos aberto inscrições, o diretor da GLOBO Filmes, Carlos Eduardo Rodrigues, dispara na frente e lança duas candidatas simultâneas ao posto de "Frase Cara-de-Pau do Ano". Como se sabe, parte da estratégia de lançamento de Casseta e Planeta - o Filme (o nome é outro, mas fica assim) é levantar nos próprios meios "da casa" a polêmica sobre o sucesso da Globo Filmes (pensemos na Globo Filmes versão Gaspar Noé: se auto-declarando polêmica). Ainda discutiremos muito aqui esta questão do cinema brasileiro, ano 2003. Até porque ela tem muitos lados, e alguns defensáveis sim. Mas o doutor Rodrigues não precisava nos passar atestado de otários... Na matéria de primeira página do Segundo Caderno do jornal O GLOBO de domingo, Rodrigues fecha questão sobre acusações de monopólio e cartel:
"- Monopólio? Eu não obrigo ninguém a entrar nos nossos filmes!".
Talvez não, doutor, talvez não. Mas que fica bem mais fácil quando os Cassetas passam vinte minutos no Faustão, têm comerciais no Jornal Nacional, no jogo da seleção e um programa todinho deles, todos na rede GLOBO , ah, lá isso fica... Sem contar a segunda primeira página no Segundo Caderno com, pasmem, uma crítica positiva a um filme da mesma organização do jornal. Para quê obrigar, né doutor? Prática mais antiga...Já aos pedidos de "condições mais iguais" entre os filmes nacionais em seu lançamento, doutor Rodrigues nos esclarece na revista Época, uma publicação das organizações GLOBO :
"- Trabalho numa empresa privada e temos compromissos com os resultados".
Perfeitamente, doutor, perfeitamente. Mas, até segunda ordem, a concessão de uma rede de TV é pública, ou não? E me parece que os primeiros logotipos a aparecer no filme dos Cassetas, com todos os seus "interesses privados", são os da BR Distribuidora e o do Ministério da Cultura, não? Ah, o maravilhoso capitalismo brasileiro e seus resultados privados com investimentos públicos!!
Em suma, doutor Rodrigues e colegas globísticos: comemoremos sim a recuperação do público para o cinema nacional e batamos palma para as estratégias de marketing da Globo Filmes. Agora, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Falando em nome de uma suposta "classe", fica o recado: pode até nos levar pra jantar e um motelzinho depois, mas não precisa ficar chamando de puta e burra nos jornais, né?...
(Eduardo Valente)