19.11.03

Recordar é viver - três mestres
Por coincidência, essa semana fiquei e vou ficar revendo algumas obras prediletas de artistas que já chegaram à casa dos setenta e continuam sendo figuras de proa. Vamos a eles, pra ficar de dica:

- Em literatura, fui na feira do livro comprar mais barato o novo livro do Dalton Trevisan, Capitu Sou Eu (atualizando Flaubert - se antes o autor se reconhecia na personagem, agora é o leitor que diz 'esse personagem sou eu'...). Achei por dezesseis reais (vi livraria em universidade cobrando R$29,00...) e comprei. Muito bom comprar livro novo do Dalton Trevisan.
Mas o risco de ir nessas feiras do livro é a tentação dos saldões. No estande da Record, comprei do mesmo autor mais três livros a cinco contos - um deles comprei, acho, pela quarta vez: é o Ah, É?, seu primeiro livro de ministórias que, na boa, é o melhor livro brasileiro dos anos noventa que eu conheço (foi lançado em '94), só empatando com o outro livro de ministórias, o 234, lançado em 98 pelo mesmo Dalton.

- Em música, consegui emprestados com amigos os dois discos de João Donato e seu Trio lançados em '61/'62, Muito À Vontade e A Bossa Muito Moderna de..., que foram relançados pela Dubas em CD. Ainda bem que o foram, porque a fita cassete que eu tinha com os dois se perdeu há anos, e essas gravações do Donato são preciosas como poucas coisas - talvez sejam seus melhores discos (ok, junto do Quem É Quem...). Piano, baixo (Tião Neto), bateria (Milton Banana) e percussão (Amaury), e o suíngue que rola é coisa de gênio abençoado.
De quebra, um camarada me mostrou o disco que Donato lançou recentemente com Emílio Santiago e, bom, é claro que é bem diferente dos discos acima citados, mas é bastante bonito mesmo, vou descolar minha cópia e recomendo geral.

- Em cinema, antes que me cobrem... Em cinema temos uma notícia fabulosa! Nelson Pereira já tem cópias novinhas de três filmes seus que foram restaurados com grana da BR Distribuidora: o cânone Vidas Secas e mais Azyllo Muito Louco e O Amuleto de Ogum (urrú!!!) .
Vidas Secas dispensa comentários. O Azyllo..., sendo o filme pirado e pouco convencional que é, fica deslocado entre os outros dois, mas tem qualidades que não devem passar em branco, ainda que não estejamos mais no contexto ditatorial pra entender as razões de se adaptar o Alienista do Machado.
Agora, O Amuleto de Ogum é coisa fina - pra se ver e rever nas salas de cinema, enquanto a gente espera que o Nelson termine os curtas e documentários que anda fazendo e consiga grana pros projetos de longa que tem debaixo do braço (porque é aquela história: como é que a gente pode dizer que o cinema brazuca vai bem se até Nelson Pereira não consegue grana pra fazer novos filmes?)

Enfim... há que se reconhecer: os caras passam dos setenta anos e continuam produzindo (e relançando) o que há de mais alto nível na praça.
(Daniel Caetano)