23.10.03

Mostra Internacional de São Paulo - III
Existe todo um clichê formado no público sobre o que seria um certo gênero chamado "cinema iraniano", no qual teríamos simplesmente uma retomada dos preceitos neorealistas, com histórias sobre a busca de pequenos objetos por criancinhas que choram muito, e onde quase nada acontece. Muito por conta de alguns filmes exibidos logo nos primeiros momentos da chegada do cinema iraniano, este estereótipo além de ser parcial (não se trataria DO cinema iraniano, mas daquele que nos chegaria), é equivocadíssimo. Estas pessoas poderiam, por exemplo, ver Em Qualquer Outro Lugar, de Mehdi Karampour, filme pós-apocalíptico, metafórico, que mistura animação à narrativa e em menos de cinco minutos já apresenta um personagem desbragadamente homossexual e um tipo de "seção espírita", tudo bem distinto do "cinema iraniano". Só que antes não fosse, porque o filme só está aqui no blog justamente por ser daqueles a se largar no meio, pela completa incapacidade do diretor de encenar um plano ou sequência que seja com alguma verdade ou interesse, e de articular estes discursos todos. Talvez vendo este, o público clamasse pela volta "daquele" cinema iraniano mítico que criou na sua cabeça...
(Eduardo Valente)