2.9.06

Laura Mulvey em Niterói

O pessoal de Cinema&Vídeo e o de pós-graduação em Comunicação da UFF mandam avisar que a inglesa Laura Mulvey está no Brasil e irá dar duas palestras em Niterói. A primeira (que ela já apresentou na semana passada no Cinusp, em São Paulo) se chama Melodrama: Visões e Revisões, e é descrita da seguinte forma: "A partir de uma análise da seqüência de abertura de Imitação da vida (Imitation of Life, de Douglas Sirk, 1959), uma conversa sobre a importância e permanência do melodrama na cultura contemporânea".
A segunda palestra tem o título Jovens modernas dos anos 20: Clara Bow, melindrosa e garota do it e vai tratar de "estrelismo, voyeurismo, prazer visual, cinema narrativo e os regimes de espectatorialidade lançados pelo cinema".

A oportunidade é da pesada: para além do clichê de "teórica feminista", Ms. Mulvey sempre foi conhecida por apresentar idéias realmente desconcertantes nas análises de filmes clássicos de Hollywood, como no célebre artigo "Prazer visual e cinema narrativo" (publicado no Brasil na coletânea A Experiência do Cinema, organizada pelo Ismail Xavier). Nosso querido editor LC Junior já manifestou curiosidade em saber se para Mulvey "o falocentrismo ainda coordena a pulsão escópica em Hollywood"...
Bem, eu dei uma googlezada por aqui e achei um artigo e uma boa entrevista com Laura Mulvey publicados em português (numa revista de estudos feministas, é claro). Encontrei um pedaço da entrevista que, se não chega a responder ao Jr., pelo menos já dá uma pista. Cito as palavras da Ms. Mulvey:

"Quando escrevi o meu artigo, eu estava realmente pensando no sistema de estúdio hollywoodiano. Eu realmente não estava tentando analisar todo o cinema e dizer que esse é um aspecto essencial do cinema, embora o artigo tenha sido interpretado como dizendo isso (...). Mesmo o cinema holywoodiano era menos monolítico do que eu talvez tenha mostrado, por isso acho que os aspectos retóricos e polêmicos do artigo têm que ser enfatizados. A questão era abrir um debate, a questão não era ser justo. (...)
O cinema que nós estávamos reivindicando nos anos 70 - não apenas eu, mas as teóricas feministas em geral - era um tipo de cinema iconoclástico, no qual a questão da representação da mulher, senão impossível, era questionada, ou seja, a necessidade de voltar ao grau zero e de desfamiliarizar a forma pela qual as mulheres eram vistas. Então, em um certo sentido, eu estou perplexa com o fato de que, vindo da outra ponta do espectro, o cinema que vem da República Islâmica do Irã também está questionando a representação das mulheres e colocando em crise a questão da representação das mulheres, do ponto de vista do mulá e não do ponto de vista das feministas. Mas eu penso que o interessante no caso do Irã é que o cinema, e sua estética, conquistou lá um lugar tão duradouro na sociedade que o tabu em torno da representação das mulheres fez de fato com que as pessoas questionassem de que maneira as mulheres podem ser representadas
".

Já eu, que ao contrário do resto da redação não me encantei com Miami Vice (me pareceu ser mais um filmezinho banal e sem sal do Michael Mann), quando soube da vinda da Laura Mulvey fiquei rindo um bocado comigo mesmo, imaginando o que ela teria a nos dizer sobre os papéis da mulher nesse blockbuster metido a pós-moderno. Bem, pelo menos assim o filme acabou me interessando um pouquinho.

Enfim, informações básicas: as referidas palestras vão acontecer no auditório do PpgCom-UFF, na Rua Tiradentes 148, Ingá, Niterói. A primeira ocorre na segunda-feira, 04/09, às 14h30, e a segunda acontece na terça-feira, 05/09, também às 14h30.
PS: A Folha publicou hoje uma outra entrevista com Mulvey (só para assinantes).
Daniel Caetano