30.5.06

Shohei Imamura (1926-2006)

Um dos nomes mais importantes da renovação japonesa dos anos 60, Shohei Imamura morreu de câncer de fígado aos 79 anos. Vencedor de duas Palmas de Ouro em Cannes, em 1983 por A Balada de Narayama e em 1997 por A Enguia (dividido com O Gosto de Cereja, de Kiarostami), Imamura ainda é um cineasta muito pouco conhecido no país - e no Ocidente como um todo -, com pouquíssimos filmes disponíveis em vídeo e quase nada em DVD. Grande comentarista social, com um talento soberbo para trabalhar o comportamento de personagens extremos (Minha Vingança), há uma predileção indisfarçada pelos costumes e valores da vida de cidade pequena, algo que o aproxima muito de Chabrol em seu registro paródico que, no entanto, mantém a densidade dos personagens e uma certa relação de identificação (não longe do Fassbinder de O Medo Devora a Alma e O Direito do Mais Forte). Ainda que seus filmes mais conhecidos sejam os da década de 70 para cá, os especialistas comentam que sua fase mais impressionante é a década de 60, em que fez filmes como Porcos e Couraçados, A Mulher Inseto (ou Tratado Entomológico do Japão,o título original em japonês), Os Pornógrafos (ou Introdução à Antropologia, idem) e O Profundo Desejo dos Deuses. Há algumas semanas, o CCBB exibiu Desejo Profano (Akai satsui, 1964; também conhecido como Desejo Assassino),seu último filme pela produtora Nikkatsu e, numa nota mais pessoal, um dos grandes choques estéticos que tive nos últimos tempos. Morto esse verdadeiro gigante do cinema, esperamos que seus filmes tenham a projeção e o respeito que merecem.
Ruy Gardnier