1.8.05

O cinema não é a maior diversão

A semana promete: na terça, José Dirceu vai ao Conselho de Ética dar o seu primeiro depoimento (no qual Roberto Jefferson promete estar na primeira fila). Depois, na quarta é dia de Jefferson na CPI do Mensalão e de Simone Vasconcellos (a responsável
pelas finanças das empresas de Marcos Valério) na CPI dos Correios.
Não, a Contracampo não virou revista de atualidades políticas. Mas, se é um dos maiores clichês midiáticos a afirmação que a vida supera a ficção, temos que admitir que, já que o cinema brasileiro vive um ano pouco empolgante, seja na relação com o público, seja mesmo na presença forte de seus filmes (e isso vale até mesmo para os documentários vistos até agora neste ano), o melhor espetáculo audiovisual do país é mesmo a descoberta da utilidade pública da TV Senado. Utilidade esta que não pára no campo das notícias ao vivo, e sim se converte numa autêntica aula de linguagem audiovisual. Cabe perceber pelo menos três aspectos formais: o discreto trabalho de câmera com seus eventuais movimentos e a simples escala dos seus enquadramentos; a montagem "ao vivo", com seus cortes sempre seguindo um tempo dramático; mas, principalmente, numa aula grátis sobre o poder da edição, vale assistir os depoimentos ao vivo e depois tentar achar algum sinal deles na cobertura de cinco minutos que eles recebem nos telejornais. É educativo, pra dizer o mínimo.
Mas, se é claro que nenhum destas observações chega a ser impressionantemente nova, o que não pára de surpreender é o nível das atuações dos atores em cena. Com os seguidos depoimentos, é incrível perceber cada deputado ou senador encontrando o seu personagem a cada aparição e refinando as nuances de interpretação para câmera. Claro que há os canastrões e os atores de métodos, sutilíssimos na composição, e convém perceber cada diferença. O fato, sem dúvida, é que: no Brasil pós-Roberto Jefferson é difícil falar em "atuação" com a mesma propriedade. Desde já, não há qualquer concorrente possível para o prêmio de melhor ator no final do ano - só falta mesmo ele se revelar grávido de Luís Carlos Prestes.
Eduardo Valente