6.10.03

Festival do Rio 2003 (IV)
Virou até notícia de jornal: a legendagem eletrônica do Festival do Rio tanto fez que conseguiu virar estrela no dia da sessão mais esperada do Festival, atrasando em 40 minutos o início de Dogville, tornando o filme uma maratona de filme só que acabou para lá de três e meia da madrugada. Mas, justiça seja feita: as legendas eletrônicas estão brilhando há muito mais tempo. Já conseguiram cancelar sessões, causar paralisações e muitos e muitos gritos de horror nas salas de cinema. Isso para falar nos eventos traumáticos, mas parece igualmente triste o cotidiano de equívocos comuns: erros grosseiros de português, de tradução (quando entendemos a língua original ficam óbvios) e a constante "ejaculação precoce" dos lançadores, que colocam os diálogos antes de serem ditos, entregando a cena seguinte e quebrando qualquer expectativa. As legendas eletrônicas atrapalham mais do que ajudam ao tornar desnecessariamente tensa a experiência de ver o filme e ao cometerem o pecado maior: tirar do filme a atenção do espectador. Legenda é como juiz no futebol: se você repara que ela está ali, tem algo de errado. Bem entendido: fruto do trabalho de uma série de humanos que é, erros eventuais no processo seriam entendidos. Só que no Festival do Rio eles não são eventuais, ao contrário: são a maior constância que tivemos. Cinéfilos ficam felizes de ver filmes nas salas 2 e 3 do Estação, sem legendas eletrônicas, ou até mesmo de ver filmes que vão estrear só porque pelo menos neles as legendas estão (em sua maioria) certas. Um último adendo: não, não precisa ser assim. No recente Festival de Cannes vi vários filmes com legendas eletrônicas e não consigo lembrar de um só incidente com estas. Nenhum. Não perceber a seriedade e urgência deste problema seria achar que a exibição do filme para o espectador é apenas um detalhe num festival de cinema.
(Eduardo Valente)