1.10.03

Festival do Rio 2003 (III): "Merece ser exibido apenas num mictório infecto..."
Essa frase constante do filme O Signo do Caos de Rogério Sganzerla, com o inepto personagem Dr. Amnésio referindo-se aos copiões de It's All True, inacabado filme de Orson Welles, encontrou acolhida telepática na Retrospectiva que o próprio Festival do Rio dedica ao realizador de Cidadão Kane. Menos pelas simpáticas instalações que o Centro Cultural da Justiça Federal do que pelo cuidado que vem sendo tomado com as exibições dos filmes. Regra geral é que os legendadores não conseguem se encontrar nas legendas que lhes são dadas - os organizadores da mostra pareciam desconhecer que os filmes de Welles têm diversas versões diferentes. Deram para os tradutores versões diferentes das apresentadas nas - via de regra, excelentes - cópias que estão sendo exibidas no frágil projetor instalado na sala do CCJF. O pior caso foi o de Mr. Arkadin: com 15 minutos de sessão, a falta de um posicionamento da produção diante do ocorrido ocasionou o precipitado e equivocado cancelamento da sessão (bastava devolver os ingressos a quem não quisesse assistir ao filme exibido sem legendas e continuar a projeção) e desprogramação das duas sessões seguintes que o filme teria - uma das desculpas oficiais ouvidas ao fim da sessão, de que a cópia estaria em frangalhos, é mentira das brabas. Ainda há tempo de a organização do Festival mostrar zelo e amor ao cinema e corrigir este erro terrível. Caso não aconteça, o Festival do Rio 2003 só vai acrescentar mais uma página terrível ao já espesso relatório de deformações e desrespeito à obra de um dos mais importantes realizadores da história do cinema.
(Ruy Gardnier)