20.9.02

E retomando a reflexão do Ruy a respeito da superioridade dos nossos filmes comerciais atuais, acrescento mais um argumento. A presença na tela, após anos de monopólio burro, inexpressivo, de figuras globais (poderia o cinema comercial chegar a superficialidade da imagem mais total?), de corpos com relevo. Digo, de corpos que fogem aos ditames estéticos televisivos, de corpos que podemos novamente identificar aos brasileiros que cruzamos na rua. Não se trata apenas de seu aspecto, mas de uma gestualidade, de uma expressividade, enfim, de uma presença. Alguns dos filmes ditos comerciais também mostrariam ao nosso visitante extraterrestre como eram, como andavam, como falavam os brasileiros. Por isso continuo apreciando e defendendo filmes como Cidade de Deus ou Domésticas, apesar de problemáticos (ou talvez até mesmo por causa disso também). E não me venham com o argumento crítico de que é a burguesia falando do que não conhece, o povo. Isto é arma para quem quer afastar toda e qualquer análise. Afinal, não é o que o cinema brasileiro (e provavelmente mundial) tem feito desde os primórdios? Os clássicos do Cinema Novo não são outra coisa. Ou alguém contestaria a origem burguesa de um Glauber, de um Nelson?
(Carim Azeddine)