11.10.06

piauí com Ivan

E, só pra fazer o registro, tá uma beleza a primeira edição da revista piauí. O site tem umas piadas engraçadinhas, mas a revista impressa faz por merecer a aquisição (mesmo que a gente implique com o símbolo botafoguense que fecha os artigos) - tem conto inédito do Rubem Fonseca, tem um diário de uma imigrante ilegal feito pela Cecília Gianetti, entre outras coisas. Mas, além de tudo isso, essa edição conseguiu um feito histórico: trouxe o expatriado Ivan Lessa para uma curta passagem pelo Rio de Janeiro, publicando nessa edição o texto que ele fez a partir da experiência de voltar ao Rio.
E o texto do filho do dr. Orígenes é aquela coisa impressionante - a escrita do Ivan Lessa contorceu e recriou o formato da crônica. Aqueles críticos culturais da Inglaterra que falam tanto em pós-colonialismo iam pirar se dessem de cara com o suíngue da escrita do Ivan. Ela se imbrica de tal jeito com a vivência dele (com a questão do expatriamento, com a fuga de um mundo que parecia desabar e que só ficou na lembrança) que, lá de longe, ele terminou se tornando um grande memorialista dessa geração da juventude ipanemense pasquineira - talvez o maior, justamente por ser, ao contrário, o miúdo, um proustiano carioca perdido em outro lugar e outro tempo. Algumas pessoas tomam sustos com a agressividade da escrita do Lessa, mas a verdade é que ele se põe tão presente nos textos que esses afetos e ataques ganham outro sentido - é quando o escritor se faz personagem para quem lê.
Daniel Caetano