11.10.06

A política se debate

Parece gozação, e é mesmo. Em meio à confusão de começar a dar aulas na UFF em Rio das Ostras e acompanhar o Festival do Rio, tive que ouvir do editor o seguinte: "até eu estou escrevendo mais no PG que você". É mole?
Bem, então vamos das uma animada aqui com assuntos diversos. O primeiro, agora que já está velho, foi esse debate, que me chamou a atenção, entre outros motivos, pela curiosa opção da Bandeirantes em mostrar as reações dos candidatos ao serem perguntados e como isso contribuiu para que os dois participantes deixassem seus personagens bem claros: Alckmin sóbrio, Lula emotivo.
Ao contrário de muita gente, achei o debate bom apesar da agressividade, ou até por causa dela, já que as diferenças ficaram bem explícitas: Lula argumenta que seu governo foi mais eficiente na economia e ajudou as pessoas mais pobres de forma mais consistente que o governo anterior (e praticamente todos os números comprovam isso); já Alckmin bate na tecla da ineficiência e da corrupção.
Como já apontou Cristovam Buarque, não há dois modelos em jogo, não há diferença de propostas, há apenas questões sobre ética e eficiência.

Mas o Alckmin me incomodou com aquela insistência em questões que não fazem sentido (além da sua fala pomposa de político interiorano e daquela cara de candidato arrumadinho). Não faz sentido perguntar "de onde veio o dinheiro?" como se estivesse inquirindo um culpado ao se dirigir a um presidente, e aquela conversa do Aerolula foi de uma mediocridade constrangedora.
Por outro lado, mesmo com toda aquela agressividade, faltou ao tucano o interesse em nos fazer saber justamente aquilo que Lula, como presidente, nunca se deu ao trabalho de informar: como ele procedeu diante das primeiras denúncias de Roberto Jefferson e o que apurou daquele caso. Vale registrar que, pela primeira vez, Lula mencionou o termo "mensalão" (que "teria começado com os tucanos em Minas", segundo as investigações, como ele lembrou). Se existiu mensalão, eu devo admitir que, como eleitor de Lula em 2002, gostaria muito de saber quem foi responsável e como ele agiu na situação. Nunca gostei da sensação que me vem quando junto as lembranças das denúncias de Jefferson aos comentários de Lula sobre o Congresso (como na famosa frase dos "300 picaretas").

Eu não sei se vocês são assim, mas eu gosto de imaginar cenas, e confesso que essa cena de Lula e Jefferson me parece tão intrigante quanto a última reunião de Getúlio com seus ministros. Dá pra imaginar algo como:

"Gabinete presidencial - Interior/Noite
Lula se despede de Jefferson com um abraço. Em seguida, pega o telefone e liga para Dirceu
".

O que teria acontecido a partir daí, a imaginação e a vontade de cada um se vê obrigada a dar livre curso. E eu bem que gostaria de ouvir o relato presidencial. Pode ser só uma versão, mas é uma versão a que a gente tem direito. Sinceramente, nunca me senti confortável diante desse silêncio.
Daniel Caetano