21.1.05

Crônica de uma morte anunciada?

Entrou em cartaz o trailer do filme Bendito Fruto, de Sérgio Goldenberg - filme que estreou no último Festival de Brasília levando alguns prêmios importantes (como o de melhor atriz para Zezeh Barbosa). O trailer, contrariando a quase regra do que se costuma ver em boa parte dos casos do cinema nacional (ainda), é ótimo: o público se diverte no cinema (isso foi presenciado duas vezes), e com certeza ninguém sai da sala sem as melhores impressões sobre o filme a ser lançado. Ainda assim, o que temos aqui cheira, perigosa e lamentavelmente, a mais um desperdício de potencial do cinema nacional versão século XXI: um lançamento da Riofilme (o que, infelizmente, passou a significar ambições pequeníssimas) de uma autêntica comédia de costumes sem os atrativos marqueteiros da vez (galãs ou galoas televisivas, temáticas e ambientes "moderninhos"). Um abraço (se voluntário ou não, importa menos) a uma tradição anterior do cinema brasileiro: o da comédia de costumes popular - em todos os sentidos do termo. Os exemplares mais recentes, entre os filmes de inegável apelo e vocação comercial que ousaram explorar as águas do mini-lançamento sem Globo Filmes (pensemos dos lançamentos mais mal sucedidos como O Casamento de Louise, até os de limitado sucesso como Separações), tiveram como ponto em comum um absurdo sub-aproveitamento do seu público potencial. Se este público sumiu dos cinemas dos anos 70/80 para hoje, ou se o mercado é que desaprendeu a trabalhar filmes como estes (ou "todas as alternativas acima" e muito mais), pouco importa. O fato é que as qualidades de comunicação do trailer deste novo filme quase nos trazem mais melancolia pela expectativa do que virá, do que a ansiedade positiva que ainda sentiamos alguns anos atrás...
Tomara, tomara mesmo, que estejamos errados.
Eduardo Valente