14.7.04

O Trailer de Olga

Sabemos bem que alguns dos melhores filmes recentes tinham trailers fraquíssimos, e alguns dos melhores trailers eram composições das poucas boas cenas de filmes fracos. Por isso, analisar um trailer não é jamais pré-julgar um filme: é apenas analisar um trailer pelo que ele é (e para isso temos até uma sub-seçãozinha aqui ao lado). No entanto, o trailer de Olga, atualmente em cartaz em muitos cinemas, incita uma reflexão que pede um espaço mais destacado em separado, porque escapa ao olhar direto sobre a forma do trailer - e fala mais sobre o que ele indica. Afinal, tudo no trailer parece querer gritar apenas uma coisa: "Olha como também somos capazes de realizar super-produções de época! E não só brasileiras, mas passadas na Europa!". Não há mais nada no trailer a não ser isso - ou melhor, infelizmente até há: uma cena de sexo cuja iluminação e atuação dos atores lembra algumas das mais descaradas paródias de cenas bregas de amor já vistas. Há ainda no trailer paródias de cenas de discursos para massas, paródias de dramas de maternidade, paródias de "frases históricas" ("Getúlio Vargas isso ou aquilo...").
Mas, afinal, será o filme uma paródia? Parece que não - então resta concluir que o que eles querem mostrar é mesmo a capacidade de produção, o que sempre me lembra os comentários da minha avó sobre miniséries da Globo (e não por acaso, a maioria de Jayme Monjardim): "É incrível como é bonita e bem feita a nossa televisão, não é, meu filho? Quer mais um bolinho?".

"Cinema para as avós!" - não deixa de ser um slogan interessante, e sendo o trailer uma propaganda, me parece que este é o conceito a ser vendido. Ou, se não for, eu não entendi. O fato é que o candidato ao Oscar do ano que vem já parece definido... (e vendo o trailer do indicado holandês deste ano, Irmãs Gêmeas, o Brasil deve ter chance, porque são absolutamente iguais!!).

(Também pede reflexão futura e muito calma a domesticação recente das figuras de resistência - Che Guevara, Cazuza, Olga Benário - em embalagens dramatúrgico-narrativas palatáveis para a "família brasileira" - "este Che é um cara legal", "poxa, como é bonita a história do Cazuza", etc... Mas isso e suas consequências/sintomas deixamos pra beeeem depois)
Eduardo Valente