17.6.04

Alguns posts abaixo eu disse que nem só de cinema se faz a Contracampo, graças a Deus. E, por isso mesmo, finalizar a edição nova - em meio à sequência que uniu nas últimas semanas jogos do Brasil pelas eliminatórias, finais da NBA, semifinais de Libertadores e Copa do Brasil, e agora a Eurocopa - está sendo bem complicado.
Mas o que interessa aqui é a transmissão da última pelo SporTV. Como lida com um monte de seleções que pouco vemos jogar, a competição tem servido para evidenciar (também pelo excesso de jogos) a completa inadequação da imensa maioria dos comentaristas de futebol da TV brasileira ao seu ofício. Alguns são reféns dos mais latentes clichês, outros órfãos de uma nostalgia do "futebol perdido", outros são os chamados "constatadores do óbvio", e alguns ainda (uma categoria que Roberto Assaf no SporTV está tornando uma forma de arte) são leitores vorazes de fichas de informação (ou, nas palavras do Gilbertão, "ah, o mal que a internet faz com o excesso de informação e nenhuma qualificação..."). As únicas coisas que nenhum parece ter é originalidade, conhecimentos tático e técnico de verdade e capacidade de comunicação com o espectador.
Aí o leitor se pergunta: "Ué, mas aqui é a Contracampo ou a Contra-Ataque?" - uma das revistas imaginárias que gostaríamos de criar algum dia, junto com a Contragosto (de culinária), a Contraponto (de música) e a Contravenção...
Claro que é a Contracampo, mas o assunto procede por pelo menos dois motivos: o mais óbvio é que transmissões de TV são assunto nosso desde que incorporamos este meio de expressão entre nossas preocupações em uma seção específica. Mas o menos óbvio e talvez mais interessante é a comparação entre o comentarista de futebol e o crítico de cinema, na visão da imensa maioria dos grandes meios de comunicação: aparentemente, não se exige de nenhum deles que entenda especificamente do assunto que trata e sim que seja um cara "gente boa" que gosta muito de futebol ou cinema. E, como são dois assuntos que todo mundo gosta de dar pitaco... cada dia tem mais gente exercendo estas ocupações e menos fontes de interesse para quem queira aprender/analisar a sério estas duas autênticas formas de arte.
Eduardo Valente