9.1.07

Deu na Variety

No fim de dezembro passado a revista americana Variety publicou um bate-papo entre Jonathan Rosenbaum (do Chicago Reader), Molly Haskell (ex-Village Voice) e o nosso José Carlos Avellar (credenciado como "grande crítico brasileiro" pela reportagem). Os três fazem ali um balanço do cinema em 2006, mas a revista puxa muito bem a sardinha para o trabalho crítico de cada um, e ainda que a dinâmica da matéria talvez tenha restringido certas discussões, as perguntas e respostas vão por caminhos bastante interessantes - é especialmente feliz a parte em que os críticos respondem como a evolução do cinema mudou o modo de escreverem sobre um filme (lembremos que todos ali atuam na área há pelo menos vinte anos, Avellar quase o dobro disso). Também é curioso notar como, a essa altura do campeonato, os três já não fazem muita questão de disfarçar suas idiossincrasias, e até se divertem com isso. Rosenbaum é um americano modelo, liberal mega-conservador, encantado com Hou Hsiao-Hsien e Jia Zhang-ke mas dizendo que já não tem saco para Scorsese e James Bond (e assim perdendo dois grandes filmes da temporada), ao mesmo tempo dizendo-se saudoso da época em que Hollywood tinha habilidade para simplesmente contar histórias. Avellar, pauloemilianamente, levanta a bola do cinema brasileiro em vários momentos, especialmente de O Céu de Suely e, com alguma surpresa, do episódio de Walter Salles e Daniela Thomas para Paris, Eu Te Amo. Definitivamente não compramos a idéia de "cinema sussurrado" que Avellar aplica ao curta-vinheta (espécie de fórmula do ser contemporâneo no cinema, mesmo motivo que me faz ter grandes reservas em relação ao filme de Karim Aïnouz, uma exceção dentro da revista). Mas, bem, que o tal sussurro esteja lá bem explicado, e ainda junto de outros ótimos momentos por parte dos três críticos, já faz valer a leitura.
Rodrigo de Oliveira