8.2.06

A voz dos donos e o dono da voz

Falando em nome da Contracampo, a gente considerou necessário publicar aqui ao lado uma carta do Cléber Eduardo sobre o caso de manipulação de informações em que foi envolvido pela editoria da Revista Época. Por natureza, o caso é absolutamente lamentável - e o colega e amigo tem todo o nosso apoio nessa briga.
Mas há também um aspecto bizarro no gesto ao mesmo tempo anti-ético e trapalhão que o Cléber relata - é que forçar a barra e colocar a assinatura dele num texto panfletário foi simplesmente um tiro no pé sem razão. Não é difícil conjecturar que um texto naquele teor interessa à direção da Globofilmes e, por extensão, das organizações Globo, das quais a revista Época faz parte, mas o surpreendente é o valor que se deu à assinatura do Cléber - sem desmerecimento: os textos do Cléber valem não pelo nome, mas pelas idéias dele, idéias que não compunham o texto apócrifo. Será que a "reportagem" perderia tanto valor para os leitores se tivesse apenas a assinatura do editor de cultura da revista? E mais: será que uma reportagem de autoria negada pode servir para qualquer objetivo inicialmente traçado?
Que nada. Tem gente ali na editoria que parece ser mais realista que o rei (no caso, a Globo). Isso revela um pouco da soberba e da arrogância das editorias (sobretudo as de cultura) que comandam nossos principais jornais e revistas, que não só agem com a certeza de que podem inventar notícias (vale repetir: a Época publicou um artigo que defendeu uma tese a partir de dados que a editoria já sabia serem equivocados) como supõem que podem atochar nos seus subordinados a responsabilidade por esses desrespeitos aos fatos e aos seus leitores.
Usei o plural porque isso não acontece somente na Época - a concorrente Veja também é craque em publicar números falsos para comprovar teorias "polêmicas" mal-ajambradas. Parece que a Época quer chegar ao nível da Veja - e isso sim é uma péssima notícia.
Todo apoio ao Cléber, pois.
Daniel Caetano