17.2.05

A luz de Sideways

Tudo aquilo que o Ruy escreveu no texto dele sobre Sideways é verdade e, em grande parte, compõe o quadro da obra de Alexander Payne: um diretor que tem horror a seus personagens, que age como deus grego e gosta de brincar com eles e com suas desgraças. Mas, neste caso, o filme traz um detalhe a mais digno de nota: a fotografia. Visitei vários fóruns de fotografia na internet que discutiram - sem chegar a uma conclusão definitiva - qual foi o método utilizado pelo fotógrafo Phedon Papamichael para produzir o estouro de luz, o tom difuso, das imagens. Dois traços são muito gritantes: um foi a opção clara por "duas" lentes (as aspas, claro, indicam que podem ser mais de duas, mas que dois modelos de visualidade são obtidos), uma para filmar planos abertos e outra para filmar os planos fechados. Ora, esta segunda traz uma profundidade de campo quase nula, de forma que há sempre um plano em foco e outro(s) fora dele. Em um filme centrado na conversação, isso parecer informar muito sobre as intenções temáticas da filmagem. Aquele que fala está em foco, quem ouve não. O outro traço que chama a atenção é justamente oriundo da luminosidade obtida pelo fotógrafo (que poderia, corrijam-me os técnicos, ser atribuída a uma marcação errada de luz ou a um erro de copiagem, mas como o jogo de foco parece indicar tipos de lente específicos...): o ambiente está sempre com muita luz! Ora, qualquer estudante de fotografia com intenções "normais" teria fotometrado nos personagens e estourado o ambiente mais ainda, permitindo que as pessoas ficassem mais claras. Em vez disso, Papamichael mede sua luz pelo fundo e deixa seus personagens subexpostos. Assim, temos um estranho símbolo luminoso: o mundo é de luz e as pessoas são de trevas. Aos poucos, entretanto, o filme vai filmando seus personagens de maneira mais iluminada. Mas a grande conclusão possível até agora parece-me a de que se trata de um efeito consciente, mas, ao mesmo tempo, apenas performático. Parece ser mais um maneirismo do que um acessório à tese anti-humana de Payne. Opiniões?
Alexandre Werneck