27.1.04

Embora os mais cínicos possam dizer que as quatro indicações ao Oscar apenas confirmam o que muitos diziam (que Cidade de Deus era um ótimo filme hollywoodiano), prefiro lembrar que todo filme feito no Brasil, com equipe e produção brasileiras, ainda mais com um brasileiro na direção, falado em português, é brasileiro sim, até a medula. Bobagem ficar medindo "quantidade de influência" externa em filme - filmes afinal são produtos do seu meio e tempo, então as influências que eles tenham também falam muito disso. Por isso tudo, parabéns sim ao Meirelles, que conseguiu a projeção que buscava para o seu filme. Para o cinema brasileiro, o Oscar não deve ser considerado tábua de salvação de nada. Mas, no quesito pessoal, parabéns ao Meirelles e seus técnicos indicados. Eles merecem.

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Falando em Oscar, sendo pouco mais que uma curiosa festa de quermesse (com o acaso que a quermesse tem alcance mundial), falamos pouco ou nada ele aqui na revista, porque afinal ele é sobre tudo, menos cinema. Querem uma prova? Entre os indicados a melhor fotografia não constam Encontros e Desencontros e Sobre Meninos e Lobos, dois primores de enquadramento, trabalho de luz, cores e claro/escuro. Mas, é claro, porque não é um prêmio à fotografia mais adequada ao seu filme, mais perfeitamente adaptada à proposta do realizador, mais expressiva, e sim à fotografia mais "bonita", ou seja, chamativa e auto-centrada. Mais alguma dúvida de porque não dá nem pra conversar sobre isso a sério?
(Eduardo Valente)