29.8.06

Política, Capô e Varda no Rio de Janeiro

A programação de mostras de cinema aqui no Rio de Janeiro nos próximos dias está de alto nível. Hoje têm sessões de abertura duas restropectivas da pesada: no Odeon começa a mostra de filmes da Agnès Varda; no CCBB tem início uma mostra dos filmes de Maurice Capovilla (a quem a Contracampo já dedicou uma edição, anos atrás, com direito a uma longa entrevista com o Capô feita pelo Juliano). Enquanto isso, desde ontem a Maison de France começou a apresentar o panorama "O cinema que reinventa a política", composto por filmes franceses, com curadoria do Jean-Michel Frodon, editor da Cahiers du Cinéma - hoje eles exibem em primeira mão Amantes Constantes, do Phillipe Garrel.
Vai ficar difícil acompanhar o circuitão...
Daniel Caetano

24.8.06

Palestra com André Gaudreault

Um dos maiores pesquisadores sobre o cinema dos primeiros tempos, André Gaudreault, da Universidade de Montréal, dará uma palestra, nesta sexta-feira (25/08), na Escola de Comunicação da UFRJ, na Praia Vermelha. Será no auditório do CFCH, às 13h, com tradução em português.
De acordo com o site da escola: "A conferência vai mapear os diferentes aspectos do advento da montagem a fim de permitir um olhar novo sobre problemas e métodos da história do cinema dos primeiros tempos.
Uma análise atenta e minuciosa dos primeiros filmes realizados por Edison e Lumière permite constatar que as hipóteses tradicionais em torno da montagem não fazem mais sentido.
"
Imperdível!
Tatiana Monassa

23.8.06

O bonequinho do Ruygard

A novidade do dia é que nosso editor Ruy começou a fazer parte do time de críticos do Segundo Caderno, do Globo - estreou com um texto sobre Anjos do Sol (ele não gostou).
Acho que o pessoal que escrevia para a Contracampo ou para o Globo há uns anos vai achar engraçado saber que isso foi motivo de gozação ao longo de uma festinha de fim de semana. A novidade se espalhou (eu juro que vi gente gritando a notícia no salão) e ficou todo mundo zoando ("Aê Ruy, vai escrever no Segundo Caderno!") por algum tempo o nosso querido editor, que estava escondido num canto até a hora em que assumiu o papel de DJ.
(O Globo on-line fez umas mudanças que tornaram o jornal publicado um pouco mais complicado de ler numa primeira vez - agora, além de ter que se cadastrar, é preciso se acostumar com a opção feita pela reprodução visual da versão impressa. Mas tenho usado a opção do modo "dobrado" e já acho que, quando funciona, é melhor do que o modo antigo. O texto do Ruy pode ser achado na segunda página do Segundo Caderno, contraposto a um favorável ao filme, escrito pelo Rodrigo Fonseca).
Daniel Caetano

De prêmios e celebridades

Agora que Gramado tenta fugir um pouco da fama de passarela de celebridades, a gente fica sabendo pela Folha que a Globo pretende promover o prêmio da auto-intitulada Academia Brasileira de Cinema como um "Oscar do cinema brasileiro".
É claro que a gente pode achar essa iniciativa muito bacana, ótima para promover as produções e tudo mais. Mas me veio uma lembrança à mente: não é justo dar tratamento diferenciado à opção da Globo e ao prêmio criado pela Revista Contigo, não é mesmo?
Sendo assim, acho válido declarar que está aberta a disputa pelo prestígio de organizar o "oscar brasileiro". Isso vai ser emocionante, vocês não acham?
(Ok, pra ser sincero, acho que eu simpatizo mais com o prêmio da Contigo)
Daniel Caetano

20.8.06

Desordem domina Gramado

É muito alentadora a notícia da premiação de Serras da Desordem em Gramado. Claro que a consagração por júris de festivais não quer dizer muita coisa, mas é bom ver que, em meio à mediocridade reinante, uma verdadeira obra-prima ainda impressiona quando é exibida. E pelo menos nas premiações nossos festivais ainda acertam um pouquinho - eu ainda não vi Anjos do Sol (e já sei que o Ruy detestou), mas vale lembrar que, além da boa notícia do Tonacci em Gramado, o Edgard Navarro ganhou Brasília ano passado.
Eles estão à margem? Pode ser, mas os filmes deles são melhores que os outros.
Fica aqui então o link para a entrevista com Andrea Tonacci que a gente publicou na edição 79. Na avaliação pessoal: acho que já participei de umas entrevistas bem legais, mas essa talvez tenha sido a melhor.
Daniel Caetano

11.8.06

Cineastas e críticos na TV hoje

Mais uma dica de programação de filme na TV Cultura hoje: o canal vai exibir o filme Bem me quer, Mal me quer, dirigido pela Maria de Medeiros. O filme trata da relação entre cineastas e críticos e apresenta entrevistas feitas com David Cronenberg, Wim Wenders, Pedro Almodóvar, Ken Loach, Abderrahmane Sissako, Danis Tanovic, Elia Suleiman, Henri Béhar, Michel Ciment, Jean-Michel Frodon, entre outros. Vai ser exibido hoje, às 22hs30, na TV Cultura.
Daniel Caetano

8.8.06

Uma história triste III - A Cinédia (tristezas não pagam dívidas)

Tudo isso que eu escrevi nesses dois posts aí embaixo cria o contexto de uma história triste de administração de bens culturais, ocasionada pela falta de estrutura de um museu privado e pela falta de grana do país.
Mas tem mais um trecho da história que deve ser contado, significativo o bastante para que a gente possa reavaliar de forma mais crítica o papel cumprido por alguns. Este trecho da história poderia ser resumido a um encontro. Refiro-me a uma visita a Alice Gonzaga e seus estúdios da Cinédia feita por Arnaldo Carrilho, então presidente da Riofilme. Essa visita ocorreu cerca de quatro meses depois do momento de crise do MAM, quando boa parte das matrizes já havia sido transferida para o Arquivo Nacional e a equipe da prefeitura já havia percebido o tamanho do pepino.
Para fazer a crônica dessa história, peço ao leitor que me permita voltar um pouco mais, ao momento em que a crise parecia se resolver, pelo menos à primeira vista, depois de algumas reuniões públicas abertas e uma fechada (no MAM) se sucederem em busca de uma solução. A escolha definitiva foi apresentada num encontro na Escola Darcy Ribeiro, numa mesa que reunia Carrilho (representando a prefeitura, que pagaria a conta), Mary Del Priore (representando o Arquivo Nacional) e Murilo Salles, que em nome da Abraci comemorou a solução escolhida. Outras soluções haviam sido apresentadas nos encontros anteriores (que aconteceram na Associação Comercial do Rio e no próprio MAM) e foram lembradas na ocasião: as propostas de Wilson Borges - que dizia não precisar de mais do que três meses para adequar os depósitos da Labocine às necessidades de armazenamento - e de Alice Gonzaga.
Alice Gonzaga é a responsável pela Cinédia, a mais antiga empresa produtora de cinema em atividade no país. Foi fundada pelo pai dela, Adhemar Gonzaga, aquela figura mítica. Pois bem, por décadas, desde o tempo do Seu Adhemar a Cinédia mantinha cinco estúdios bastante grandes. Alguns deles eram climatizados e, segundo a avaliação de Hernani Heffner na época, já tinham condições adequadas para armazenar o acervo do MAM (já armazenavam as matrizes dos filmes da Cinédia, inclusive).
Ou seja, foi apresentada uma saída factível e imediata. Havia, no entanto, algumas questões: Dona Alice não queria vender barato os bens que tinha para garantir sua tranqüilidade financeira; a prefeitura achou mais correto prometer verbas ao Arquivo Nacional, órgão público, do que propor a compra de um imóvel em regime de urgência; além disso, a Cinédia fica em Jacarepaguá, distante do centro do Rio (o que dificultaria a circulação de cópias, além de deixar o acervo de filmes longe da maioria da população).

Na imaginação, o desfecho apresentado ao público na Darcy Ribeiro parecia bonito: ao mesmo tempo em que capacitaria o Arquivo Nacional, a prefeitura em poucos meses criaria e manteria a Cinemateca Carioca, com reserva técnica para guardar as matrizes e espaços para exibição de filmes e acesso ao acervo. Mas não foi isso o que aconteceu - as verbas não vieram, os projetos travaram e as matrizes se acumulavam na remoção. Foi nesse contexto que, quase quatro meses depois do anúncio na Darcy Ribeiro, Arnaldo Carrilho foi visitar Alice Gonzaga na Cinédia.
Ela não demorou muito para perceber as intenções dele por lá, examinando as condições dos estúdios, e avisou a ele que já era tarde demais àquela altura - ela já tinha vendido o que pretendia vender (ainda manteve a posse de dois estúdios). A construtura que comprou o terreno botou abaixo os estúdios da Cinédia. Ou seja, o lugar do Rio de Janeiro em que já poderia existir uma reserva técnica para preservar as matrizes dos filmes brasileiros foi demolido.

O aspecto que me parece definitivalmente triste ressaltado por essa história é o de que a ida de Carrilho à Cinédia indica que a prefeitura já sabia que o plano de expandir o Arquivo Nacional estava fazendo água. Isto aconteceu no final de 2002. Mesmo que se parta do pressuposto extremamente negativo de que a prefeitura e sua secretaria de cultura só se interessam pelo marketing e não se preocupam com o resultado final, continuo sem entender por que é que nenhuma alternativa foi tentada desde então. Se há conhecimento do problema, por que se espera estourar uma nova crise? Vale notar que o Ministério da Cultura não se manifestou na ocasião, em 2002 (e continua sem se manifestar). A prefeitura do Rio se manifestou, assumiu uma grande responsabilidade e... não cumpriu.
A atitude dos signatários da carta citada lá embaixo pode não resultar em nada, ou pode mesmo ser resolvida de forma parcialmente adequada caso seja criado o plano de carreira no Arquivo Nacional, mas esse não é o problema que fica evidente. O problema evidente é que não há uma cinemateca no Rio de Janeiro para guardar filmes e divulgar o acervo. A conseqüência imediata disso é que as condições de armazenamento das matrizes que estão aqui são mais limitadas e, com isso, a preservação dos filmes vai sendo comprometida dia a dia. E não há qualquer projeto sendo feito em sentido contrário.
Daniel Caetano

7.8.06

Uma história triste II - Onde está a Cinemateca Carioca?

Não dá pra fugir do aspecto mais triste do post abaixo: é preciso relembrar, quatro anos depois, as atitudes de certos atores do processo para compreender as consequências que estamos vendo acontecer.
No caso da direção do MAM, o que fica evidente é que as críticas feitas na época não perderam a validade - o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro tratou com absoluta irresponsabilidade um acervo que se comprometera por décadas a preservar. Muita coisa do acervo se deteriorou com mais rapidez por causa do destrato do MAM, e essa responsabilidade histórica é antes de mais nada da direção do MAM à época, chefiada pela Maria Regina Nascimento Brito (que anos antes já tinha quebrado o Jornal do Brasil) e composta por luminares da cultura carioca como Gilberto Chateaubriand e Heloísa Buarque de Hollanda.
Mas, se essa (ir)responsabilidade o tempo veio confirmar, vale lembrar a ação de algumas figuras que acabaram por moldar esse cenário - em que o Arquivo Nacional tentou ao longo de quatro anos armazenar filmes sem ter condições físicas para isso. Isso aconteceu, sejamos sinceros e bem claros, porque o prefeito César Maia e seu secretário de cultura Ricardo Macieira acenaram com uma verba grande para construir uma reserva técnica para os filmes - e o Arquivo Nacional, de olho nesse apoio financeiro e no relevo social que ganharia com o acervo de filmes (ambas razões no mínimo justificáveis), se dispôs a receber o material do MAM, considerando que assim também receberia a verba da prefeitura do Rio. A historiadora Mary Del Priore, então diretora do Arquivo Nacional, foi a responsável por apresentar a proposta do AN e a fazer a negociação com o MAM. Dessa forma, o AN se comprometeu a cuidar de um arquivo sem ter condições para isso - e acabou por tomar o espaço de outra soluções possíveis que foram apresentadas. Testemunhas e agentes centrais desse processo foram Orlando Senna, então secretário de cultura do governo do Rio (governo Benedita, sem um tostão furado no bolso), Murilo Salles, na época presidente da Abraci (associação dos cineastas), Wilson Borges, dono da Labocine, e Alice Gonzaga. Além, é claro, de Arnaldo Carrilho, então presidente da Riofilme e representante da prefeitura do Rio - que se dispunha a entrar com a grana para resolver tudo.
Mas resolver de que forma?, era essa a questão. Mantendo a característica de optar por projetos de grande porte, bastante caros, a dupla César Maia e Macieira propôs a criação da Cinemateca Carioca, que deveria vir a funcionar no cais do porto, num armazém da prefeitura que seria climatizado para tal.
O Arquivo Nacional não recebeu o volume de verbas prometido pela prefeitura (isso inclusive rendeu uma discussão aqui na revista entre o Felipe, que publicou uma nota sobre o assunto, e o Clóvis Molinari, do Arquivo Nacional, que respondeu a ele numa carta à Contracampo) e até hoje nada foi feito no projeto da tal Cinemateca Carioca. Alguém aí ouviu falar dela recentemente?
Bem, mas não se preocupem que a diversão está garantida, já que no ano que vem vai ter Pan-americano no Rio.
Daniel Caetano

Uma história triste I - O Arquivo Nacional

Chegou hoje na nossa caixa de correio um email com o título "O Cinema está fora do Arquivo Nacional". A carta é assinada pelos seis profissionais que vinham fazendo o trabalho de preservação de filmes no Arquivo Nacional (são eles: Débora Butruce, Fabiana Diaz, Fabricio Felice, Roberto Cersósimo, Silvia Franchini e Tatiana Carvalho) e ao longo do texto somos informados de que o Arquivo Nacional até hoje não incluiu entre seus planos de carreira a função de preservador. A consequência óbvia que se sucede agora é que os técnicos que escreveram a carta vão parar de trabalhar e a tarefa de catalogar e armazenar todo o acervo que foi do MAM para o Arquivo Nacional em 2002 vai ficar ainda mais atrasada (será que vai ser completamente interrompida?).
Mas talvez seja preciso entender não apenas a consequência mas também a causa. O que parece acontecer é que o Arquivo Nacional nunca foi projetado para armazenar filmes e, passado o momento de crise de 2002, quando o órgão pareceu ser a salvação da lavoura para a preservação do acervo do MAM, a direção do AN decidiu que não lhe cabe esta tarefa.
É estranho, e de todo modo isso pode vir a ser contornado nos próximos dias. Caso contrário, podemos supor que o acervo do Arquivo, ex-MAM, acabará sendo enviado à Cinemateca Brasileira - que, docemente constrangida, passará a armazenar quase todas as matrizes dos filmes feitos no Brasil.
(Nada contra a Cinemateca, mas é preciso lembrar que essa situação é potencialmente arriscada - qualquer desastre pode um dia levar tudo embora).
Daniel Caetano

3.8.06

Lima Barreto

Segue aqui uma dica de programação para hoje na Rede Cultura que, pela falta de divulgação prévia, não teve nem chance de ser comentada na nossa seção de TV: o programa DocBrasil vai exibir os filmes Painel (1951) e Santuário (1952), dirigidos por Lima Barreto, realizador célebre por O Cangaceiro.
Fica então o aviso para quem é de Sampa ou recebe a programação por TV a cabo - os filmes vão ser exibidos hoje, quinta-feira, 03 de agosto, às 23h30 na TV Cultura.
Daniel Caetano