29.4.05

O Bonequinho na berlinda

Já estava rolando na internet há alguns dias uma carta do Marco Aurélio Marcondes criticando essa ameaçadora instituição que é o bonequinho de avaliação de filmes do O Globo (Carlão Reichenbach já tinha publicado a carta na íntegra em seu site, e ela também já tinha sido postada em listas de cinema). Vale dar uma olhada, já que ela discute justamente o estado da crítica de cinema no Brasil (vale também avisar ao leitor ainda pra desconfiar do proselitismo, já que é escrita por um distribuidor e, bem, que elogia a nossa revista). Ela a princípio era endereçada ao Blog do Bonequinho, e acabou sendo publicada - legal, foi dado o espaço no blog, mas digamos que seja improvável que essa auto-crítica vá chegar ao Segundo Caderno...

Pois é justamente aí que reside o problema - sempre na opinião deste que vos escreve (opinião minoritária inclusive na redação da Contracampo). Ainda que tenha restrições à capacidade demonstrada por alguns críticos de lá, e por outros mantenha discordância constante mas respeitosa, acho que o problema do jornal O Globo com a crítica de cinema está localizado alguns postos acima de quem escreve. O problema do jornal O Globo não é falta de público leitor, falta de capacidade profissional da nova geração ou outras conversas de meia-tigela: o problema é que, desde que o JB entrou numa crise infindável, o principal concorrente do Globo é O Dia - que se dispõe justamente a ser um jornal "do povão", com todo o estereótipo que o conceito pode ter. Daí, o Globo se põe obrigado a parecer um bocadinho mais sofisticado, mas não muito mais - e a mentalidade medíocre da sua editoria cultural se casa perfeitamente à situação. O silêncio dos redatores diante da carta do Marcondes me parece ter a ver mais com a consciência desse problema do que com falta de resposta sobre o assunto - sobretudo porque eles divulgaram a carta dele no espaço em que têm autonomia, o blog.
Daniel Caetano

27.4.05

Andy Warhol no MAM

Está aberta a partir de hoje para visitação pública a mostra Andy Warhol: Motion Pictures, que conta com exibições inéditas de uma dúzia dos quase 500 "screen tests" que o artista realizou entre 1964 e 66. Não arrisco uma descrição dos filmes porque ainda não os assisti. Consta no material de divulgação, no entanto, que trata-se de registros fílmicos, algo como retratos, de frequentadores da Factory (como Dennis Hopper, Susan Sontag, Salvador Dalí, Chip Monk). A mostra conta ainda com exibições de Blowjob, Kiss, Eat e Henry Geldzahler, além de versões editadas (infelizmente!) de Sleep e Empire (não tem como passar link da programação aqui - o site do MAM ainda está com os horários de janeiro).
Não vale a reclamação, porém: a julgar pela frequência com que filmes experimentais (ainda que de um Warhol) são exibidos por aqui, pode-se dizer que trata-se de uma oportunidade única e imperdível. Vale notar que a mostra divide o segundo andar do MAM-RJ com a exposição Arte Brasileira Hoje, que exibe trabalhos de Ivan Cardoso e Carlos Vergara, entre muitos outros mais. A realização dos eventos marca o ingresso da Petrobrás como mantenedora do museu.
Fernando Veríssimo

24.4.05

O Globo publicou ontem uma boa reportagem do Jaime Biaggio sobre os graves problemas atuais da Riofilme - vale dar uma boa lida (o jornal exige que se faça inscrição para ler as matérias, mas é gratuita).
Esse assunto, o da estrutura de distribuição dos filmes, é um daqueles bem desagradáveis a que a gente tem que voltar sempre. Em breve, então, deve ter uma pequena crônica sobre Riofilme e confusões afins aqui no PG, ao lado dessa notinha. Até lá, fica como dica de leitura a matéria do Biaggio.
Daniel Caetano

20.4.05

Imperfeito refeito

Cabe o registro, com alguns dias de atraso: o Cine Imperfeito tem nova edição, e aparece reformulado. Quem não melhora se acha perfeito - e quem se diz imperfeito já se predispõe a melhorar constantemente. Portanto, vale a visita, como sempre e cada vez mais. A edição nova trata do momento atual do cinema americano - e merece uma leitura atenta.
Daniel Caetano

19.4.05

Três filmes brasileiros competindo em Cannes

Apesar da inexistência de filmes brasileiros concorrendo à Palma de Ouro, três filmes vão representar o Brasil em Cannes. Dois deles participam da mostra paralela Un certain regard. Um deles é Cinema, Aspirinas e Urubus, primeiro longa-metragem do pernambucano Marcelo Gomes (do curta Maracatu Maracatus), e o outro Cidade Baixa, primeiro longa de ficção do diretor Sergio Machado (diretor do documentário Onde a Terra Acaba, sobre o Mário Peixoto). Em se tratando de dois primeiros longas de ficção, ambos concorrem à Caméra d'Or, prêmio para autores de primeiros filmes. O outro concorrente brasileiro é o belo O Lençol Branco, de Juliana Rojas e Marco Dutra, curta-metragem que estará na mostra Cinéfondation, dedicada a exibir uma rigorosa seleção de curtas-metragens feitos em escolas de cinema ao redor do mundo. Em sessões especiais, ainda serão exibidos, entre outros, filmes novos de Rithy Panh (Os Artistas do Teatro Queimado), Seijun Suzuki (Operetta Tanukigoten), o curta Cindy de Bertrand Bonnello, e Match Point, o novo de Woody Allen.
Abaixo, os filmes da seleção Un certain regard:
Alain CAVALIER, Le Filmeur
Amat ESCALANTE, Sangre
Marcelo GOMES, Cinema, Aspirinas e Urubus
Benjamín HEISENBERG, Schläfer
Christoph HOCHHÄUSLER, Falscher Bekenner
David JACOBSON, Down in the Valley
Vimukthi JAYASUNDARA, Sulanga enu Pinisa
Pierre JOLIVET, Zim and Co. (La Caisse)
Dagur KÁRI, Voksne Mennesker
Niki KARIMI, Yek shab (Une nuit)
KIM Ki-duk, Hwal
Tony KRAVITZ, Jewboy
Sergio MACHADO, Cidade Baixa
James MARSH, The King
Kornél MUNDRUCZÓ, Johanna
François OZON, Le Temps qui reste
Cristi PUIU, Moartea domnului lazarescu
Ivan SEN, Yellow Fella
Juan SOLANAS, Nordeste
S. Pierre YAMEOGO, Delwende (Lève-toi et marche)
Benito ZAMBRANO, Habana Blues
Ruy Gardnier

Cannes anuncia a seleção oficial de sua 58ª edição

Composta quase que unicamente de superstars, a competição oficial do Festival de Cannes deste ano, que vai de 11 a 22 de maio, não apresenta grandes surpresas. Favoritos da croisette, estão lá Wim Wenders, Michael Haneke, Lars von Trier, Jim Jarmusch, Atom Egoyan, Gus Van Sant, irmãos Dardenne... Entre artistas com data de validade ultrapassada e aqueles que vão fazer brilhar nosso ano cinematográfico (a cada ano aumentam as revelações, tanto de um quanto outro lado), o Festival se presta pouco a ousadias mas sempre compõe suas seleções com muito carinho. Grandes expectativas entre os superstars: A History of Violence, de David Cronenberg; The Best of our Times, de Hou Hsiao-hsien; e Last Days, de Gus Van Sant. Das poucas apostas, esperanças em Batalla en el Cielo, segundo longa-metragem de Carlos Reygadas (Japón), em Election, primeira aparição na competição oficial do cineasta de ação de Hong Kong Johnny To, e em Peindre ou faire l'amour, segundo longa dos irmãos Arnaud e Jean-Marie Larrieu, responsáveis pelo muito bem falado - e ainda inédito aqui - Un homme, un vrai. Ao contrário do que diziam certos rumores, nenhum filme brasileiro participará da competição oficial de longas-metragens. Abaixo, todos os filmes em competição pela Palma de Ouro:

Dominik MOLL, Lemming (abertura do festival, em competição)
David CRONENBERG, A History of Violence
Jean-Pierre et Luc DARDENNE, L'Enfant
Atom EGOYAN, Where the Truth Lies
Amos GITAI, Free Zone
Michael HANEKE, Caché
HOU Hsiao-Hsien, The Best of our Times
Jim JARMUSCH, Broken Flowers
Tommy Lee JONES, The Three Burials of Melquiades Estrada
Masahiro KOBAYASHI, Bashing
Arnaud et Jean-Marie LARRIEU, Peindre ou faire l'amour
Frank MILLER & Robert RODRIGUEZ, Sin City
Carlos REYGADAS, Batalla en el Cielo
Hiner SALEEM, Kilomètre Zéro
Johnny TO, Election
Marco TULIO GIORDANA, Quando sei nato non puoi più nasconderti
Gus VAN SANT, Last Days
Lars VON TRIER, Manderlay
WANG Xiaoshuai, Shanghai Dreams
Wim WENDERS, Don't Come Knockin'
Ruy Gardnier

7.4.05

A Contracampo estará realizando um novo curso sobre cinema contemporâneo no CineSesc, em São Paulo. Dando continuidade à idéia iniciada na primeira edição deste curso, realizada em 2003, no mesmo CineSesc, estaremos abordando a obra de outros dez cineastas contemporâneos. Além de nomes já bastante familiares ao público brasileiro, há os que só foram descobertos de fato recentemente e aqueles cuja obra ainda está em pleno processo de consolidação. É uma outra forma de ampliarmos nosso olhar crítico sobre o cinema contemporâneo, coisa que já fazemos aqui mesmo na revista. Serão dez aulas de três horas cada, sempre acompanhadas de análises de trechos dos filmes. Também será distribuída, no início do curso, uma apostila com resumos das aulas e bibliografias/filmografias recomendadas. Começa dia 26/04 e as inscrições já estão abertas - o Cinesesc pode ser contatado por telefone ((11)3082-0213) ou por e-mail (email@cinesesc.sescsp.org.br) para mais informações.

Bem-Vindos ao Cinema Contemporâneo 2005:
1- Gus Van Sant (EUA) (Luiz Carlos Junior) -26/04
2- Wong Kar-wai (HK) (Luiz Carlos Junior)-28/04
3- Frederick Wiseman (EUA) (Felipe Bragança)-03/05
4 - Tsai Ming-liang (TAIWAN) (Felipe Bragança)-05/05
5- Quentin Tarantino (EUA) (Daniel Caetano) -10/05
6- Carlos Reichenbach (Brasil) (Daniel Caetano)-12/05
7 - João César Monteiro (PORT) (Ruy Gardnier)-17/05
8- Apichatpong Weerasethakul (TAIL.) (Ruy Gardnier)-19/05
9- Hayao Miyazaki (JAP) (Tatiana Monassa)- 24/05
10- Jean Pierre & Luc Dardenne (FRA) (Cléber Eduardo)-31/05
Luiz Carlos Oliveira Jr.

4.4.05

Filmografia Brasileira

Depois de alguns meses fora do ar, a Filmografia Brasileira volta a ficar disponível para consulta, no site da Cinemateca Brasileira. É uma luxuosa fonte de pesquisa, com mais de vinte mil registros, reunindo longas, curtas, filmes domésticos e também muitos projetos (sem eles, a história da produção ficaria desfalcada...). Com apoio da Petrobrás, a equipe da Documentação, da Cinemateca, organizou esse gigantesco e absolutamente necessário banco de dados, que não está completo (faltam os curtas das décadas de 70 e 80) e nem se pretende definitivo. A Documentação avisa que as contribuições são mais que bem-vindas, desde roteiros, cartazes e materiais de divulgação até informações que venham complementar e corrigir a Filmografia.
Luciana Corrêa de Araújo