26.5.04

Festival Universitário e outros babados

Aqui no Rio a coisa se anima essa semana. Está começando hoje a programação do 9° Festival Brasileiro de Cinema Universitário, que vai exibir mais de 300 filmes e vídeos e promover oficinas no Rio e em Niterói por uma semana.
Triste curiosidade: está havendo entre alunos e ex-alunos da UFF uma discussão diante do fato de que a escola que originou o festival praticamente não tem filmes para exibir (a exceção é Uma Estrela Para Ioiô, que não é da escola, é co-produção). Isto certamente se deve parcialmente a problemas de organização da escola, e isso talvez seja assunto a ser resolvido internamente - mas não é só isso. Não há filmes porque não tem dinheiro, ponto. E isso é ridículo. Empresas mil investem seus impostos em filmes caríssimos, a Petrobras sustenta o cinema milhardário nacional há uma década, o MinC faz concursos mil e ninguém dá uma miséria, por um conveniozinho que seja, para garantir a feitura dos filmes universitários.
Desculpem aí o lobby, mas é ridículo que não haja um mínimo suporte financeiro para isso (que um dia o falecido Banco Nacional chegou a oferecer parcialmente).
Insisto: é ridículo. Qualquer curta-metragem que pague seus profissonais custa mais de cinquenta mil reais - essa grana garante, fácil, pelo menos cinco filmes universitários anuais. Se dessem uma "miséria" de cem mil pratas por ano para as escolas públicas de cinema (UFF e ECA-USP), o MinC, a Petrobras, a Riofilme e quem quer que financie filmes brasileiros estariam fazendo muito mais por uma revitalização deste dito cinema do que com esses inúmeros apoios via Lei Rouanet e concursinhos.

Ok, voltando às dicas: a sessão Tela Brasilis exibe na sala de cinema do MAM duas pepitas nessa quinta-feira: o curta Nelson Cavaquinho, de Leon Hirzsman, e Rio Zona Norte, do Nelson Pereira, que é simplesmente o melhor filme.

E na sexta-feira há uma bela opção: os irmãos Pretti, diretores de diversos curtas e médias, fizeram um longa-metragem em vídeo, intitulado Performance, que vai ser exibido na FACHA, neste dia 28, no auditório, às 19hs.
Daniel Caetano

25.5.04

Para quem não sabe, a Contracampo é feita mensalmente, acima de tudo, a partir da imensa camaradagem, amizade e respeito entre seus vários redatores, que habitam em diferentes estados (e até mesmo na França). Por essa distância, são poucos e memoráveis os momentos especiais como o da Maldita desta segunda, quando três dos redatores paulistanos (Sérgio, Guilherme e Chiko) vieram se juntar aos cariocas para o simples prazer de se divertir (depois de reunião de trabalho e muita cerveja). Nesta noite clássica, três momentos musicais imperdíveis: 2h45, "Wouldn't it Be Nice", Beach Boys - só com os 9 contracampistas na pista 2 da Casa da Matriz, cantando a todo pulmão (à la Como se Fosse a Primeira Vez); 3h45, "Yesterday Once More" - já reduzidos a 6, os contracampistas dividem a balada dos Carpenters na pista, clááássico!; 4h10, "Move Your Feet", Junior Senior, reanimando os amigos, antes da ida pra casa. Qual o interesse dos leitores nisso? Nâo sei, mas pelo tanto que ralamos aqui para satisfazê-los, esperamos que nos permitam esta celebração interna especial. Para além do cinema, esta revista é especial pela amizade dos seus realizadores na "vida real". Valeu, galera!
Eduardo Valente

24.5.04

Maldita!

Hoje, 24/5, rola mais uma edição da festa A Maldita, na Casa da Matriz, em Botafogo (RJ), com direito a discotecagem na pista 2 pelos três contracampo-DJs, Luiz Carlos Junior, Eduardo Valente e Ruy Gardnier. Quem puder, apareça! Começa lá pelas 23h30...
Eduardo Valente

Arte & (R)existência em Sampa

O pessoal do Cine Imperfeito avisa: vai rolar em Sampa essa semana o evento Arte & (R)existência, no Teatro da USP a partir de amanhã e até quinta-feira. Terça tem teatro, quarta tem filmes e quinta tem música, além de debates rolando o tempo todo - com entrada franca.
Daniel Caetano

14.5.04

Sobre indústrias e lobos

Desvirtuemos Godard (ele mesmo, aliás, citando): toda vez que eu ouço falar em indústria de cinema no Brasil, eu puxo o meu lencinho Kleenex (se o choro é da ordem do trágico ou do cômico, aí já é difícil dizer). Para começar, pela falta de fundações em cima das quais se possa dizer que há uma indústria construída. Mas, numa parte menor, pelo aspecto absolutamente mambembe de algumas encarnações dessa proto-indústria. Nesse sentido, os trailers são quase sempre um dos maiores exemplos: peça com fins absolutamente comerciais, feitas com o simples objetivo de vender os filmes, no geral os trailers brasileiros, dos filmes mais autorais aos mais "industriais" (olha o Kleenex aí!), mais assustam ou desinformam do que atraem. No entanto, embora a introdução desta notinha até aqui possa ter dado a impressão contrária, o que se quer aqui é ressaltar um exemplo regenerador: os felizes trailers de dois filmes que buscam um contato mais amplo com o público, e que vendem seu peixe com enorme competência - Cazuza - O Tempo Não Pára (de Sandra Werneck e Walter Carvalho) e O Outro Lado da Rua (de Marcos Bernstein). Resta ver se as estréias comprovarão estes filmes e seu resultado, ou não - mas também não se pode atribuir toda ligação de resultado de bilheteria de um filme apenas com uma das suas peças publicitárias. O que se sabe agora é: são pelo menos dois trailers que não estão atrapalhando os próprios filmes, muito pelo contrário. Algo louvável e que faz crer um pouco mais no potencial anti-Kleenex da tal "indústria".
Eduardo Valente

DVD-VHS novo no ar

Pois é, demorou mas saiu: está no ar a nova (nova?) edição da seção DVD-VHS. No meio deste mês, a seção acabou trocando de editor por conta das atribulações das vidas pessoais (sim, redatores da Contracampo também as possuem!), e agora está nas mãos do bravo Luiz Carlos Oliveira Junior. Muito por conta disso, esta primeira edição sob as rédeas do Junior acabou atrasando um pouquinho (tá bom, tá bom, bastante), mas entra agora com textos sobre os quatro filmes disponíveis em vídeo do polêmico cineasta americano Larry Clark (em cartaz em algumas cidades do país com Ken Park), além de textos sobre filmes que não estrearam aqui em cinema. Para os próximos meses, esperamos regularizar a entrada no ar da seção, sem com isso porém deixar uma edição como esta só uma semana ou dez dias no ar - daí que a volta ao normal será gradual mas efetiva.
Eduardo Valente

13.5.04

Sobre a Semana ABC no MAM

A divulgação direcionada especificamente para os que lidam com fotografia, direção de arte e som (com anúncios em revistas especializadas no audiovisual, como a distribuída durante o evento) mostra que os profissionais do mercado são o público-alvo pretendido pela Semana ABC. No primeiro seminário, "O internegativo digital e a experiência brasileira", os objetivos de troca de informações e de apresentação das mais atuais técnicas e tecnologias, sob o ponto de vista do segmento visado, foram plenamente correspondidos.
Mas é preciso questionar se uma feira/exibição não seria mais adequada para a estratégia de marketing proposta, uma vez que o formato ciclo de palestras, com o qual o encontro se estrutura, pressupõe debates que fujam da simples demonstração virtuosística da técnica para inserir a cinematografia, bem como seus profissionais e suas novas tecnologias, no panorama da produção brasileira, sobretudo quanto ao possível papel do digital na diversificação e na democratização de nosso cinema.
É sintomático que Acquaria, Deus É Brasileiro e Didi, O Cupido Trapalhão tenham sido escolhidos para exemplificar a palestra em questão. A dúvida que fica no ar, não levantada pela mesa debatedora (Lauro Escorel, Affonso Beato, Cezar Moraes e Marcelo Cerqueira), é sobre qual é a utilidade do referido internegativo digital para os curtas-metragens, para o cinema universitário ou para os filmes de baixo orçamento, considerando-se que a "experiência brasileira", como se sabe, não está resumida às produções milionárias?
Paulo Ricardo de Almeida

8.5.04

Como a militância da crítica não passa só pelo cinema, e como não se pode contar com a publicação da missiva abaixo pelo seu destinatário, o jornal O Globo, publico aqui a carta enviada ontem ao referido veículo, por ser discussão importante do estado das coisas da crítica em geral - e da ignorância que não se pode aceitar quietinho como "saber crítico".

"Caros senhores,
Quanto à crítica de Barbara Heliodora publicada no dia 29/04, sobre a peça "Qual foi o teu sonho na vida, meu bem?", não é nem o caso de se trazer à tona o conservadorismo galopante que se costuma disfarçar por trás do (inegável) estofo teatral da referida crítica. Da mesma forma, não se deve tratar muito da inadequação de julgar uma peça para fora de suas intenções (numa expressão de um chamado Teatro do Cotidiano, acusá-lo de não possuir variações notáveis ou ordenação dramatúrgica estrita é verdadeiro tiro no pé). Mas o que não se pode passar é o trecho onde se acusa que "o fato de se tratar de duas lésbicas não possui a menor significação, (...) os mesmos tipos de experiências cotidianas poderiam ser experimentados por qualquer outro par de pessoas(...)". Ora, dona Barbara, aí é demais: exige-se de uma peça sobre heterossexuais que lide com dramas "específicos da heterossexualidade"? Pelo amor de Deus! Ser lésbica é, sim, uma condição que iguala as personagens a qualquer outra pessoa, ainda bem. Que há questões a serem enfrentadas pelos homossexuais em nossa sociedade, é bem sabido - das quais uma das maiores é justamente quebrar julgamentos limitados como este emitido pela crítica, onde se imagina que a vivência homossexual, ao ser retratada, deve ter "algo de diferente". Afirmar a normalidade de uma relação homossexual não é defeito, querida crítica, é antes posição política - a não ser que também se ache que "fazer política" é só afiliar-se a partidos, candidatar-se a cargos públicos, ou fazer peças sobre figuras públicas. Pode-se até achar isso - mas é tão limitado quanto guetificar gêneros, raças e opções sexuais."
Eduardo Valente

5.5.04

1

Na edição de abril da Cahiers du Cinema circula uma carta da ACID (Associação dos Cineastas Independentes), entidade francesa que congrega (como co-signatários da carta, inclusive) nomes como Chantal Akerman, Jean-Jacques Beineix, Nicolas Philibert, Rithy Pahn, entre tantos outros. Na carta os cineastas declaram-se preocupadíssimos com a possível morte de um cinema independente, sufocado pelo ritmo suicida do rodízio de filmes nas salas "alternativas", cada vez mais limitadas em quantidade pelo número de cópias das grandes estréias, pelo excesso de filmes em cartela e pela invasão do circuitinho pelos "proto-filmes de arte" dos grandes produtores. Com isso, uma produção que não conta com massivo investimento em mídia, e que portanto precisaria de tempo para chegar ao conhecimento do público (pela via do boca-a-boca ou da circulação de críticas, etc), estava sendo tratada na mesma lógica extrema do "box office" de lançamento, que rege as mega-produções hollywoodianas - que, no entanto, são hoje operações de marketing de tamanho bizarro para compensar o rodízio com lucros enormes nas primeiras semanas. Além de registrar sua preocupação os cineastas franceses propõem uma medida: limitar em lei o número de cópias que um mesmo filme pode ter em exibição no país ao mesmo tempo - democratizando assim, um pouco, a oferta de produções em cartaz. Para além de discutir esta proposta é importante ver como a situação descrita pelos franceses bate com a situação brasileira - onde os distribuidores pequenos parecem devorar uns aos outros na guerra pelo mínimo espaço do circuito "de arte" - que é cada vez mais uma reprodução em escala menor da guerra do circuitão. Recentemente, o Rio de Janeiro viu a morte anunciada, por exemplo, de um dos principais filmes brasileiros em anos: O Prisioneiro da Grade de Ferro entrou com três ou quatro cópias na cidade, e na segunda semana tinha dois horários na sala 2 do Estação (com 40 lugares). Difícil é imaginar no Brasil uma resposta como a francesa, coletiva e organizada, seja de cineastas ou dos distribuidores menores (ambos em risco) - aqui continua imperando a lógica do cada um por si, como sempre foi. E, como a Globo Filmes não tem o menor interesse na questão por enquanto (até porque associada aos mesmos distribuidores "majors" que seriam afetados por um possível limite "por lançamento"), vamos ver mesmo a definhação dos filmes de risco - processo mundial, como estamos vendo.
Eduardo Valente

2

No meio deste panorama de falta de visão coletiva, lamentavelmente há que se destacar duas ações individuais de enfrentamento do "estado de coisas":
Paulo Sacramento, ao receber um prêmio para a Petrobras de verba de lançamento, se deu conta de que gastar como se fosse o diretor de Homem-Aranha 2 fazia pouco sentido (outdoors, anúncios em ponto de ônibus, etc), porque sua verba seria ainda ínfima para tal, e o dinheiro rapidamente iria embora com pouca visibilidade assegurada. Então, pegou parte desse dinheiro e "subsidiou", por assim dizer, a colocação do seu filme numa sala do centro de SP que até então nunca havia exibido o cinema nacional (o Cine Paris). Resultado: tem sido a maior média de espectadores do seu filme (maior do que a de qualquer circuito de arte do país - mesmo o de SP), com ingressos mais baratos para que o público do Centrão tivesse condições de ir ao cinema. Sacramento mostra, assim, que talvez os investimentos públicos estejam indo na direção errada o tempo todo quando tentam usar a lógica importada do "mercado de cinema", muito boa para uma Globo Filmes (que subsidia sua "comercialização"), enquanto nossas preocupações também precisavam ser outras.
A outra iniciativa foi de Marcelo Masagão, com 1,99. Masagão, se faz filmes com os quais não poderemos jamais ser condescendentes, sempre foi uma cabeça de marketing muito boa (tanto que teve a idéia brilhante de fazer um trailer sem nenhuma imagem do filme em questão). Colocou no Globo um anúncio do seu filme onde ironiza o famigerado Bonequinho do mesmo jornal, que aparece dormindo (como havia sido a "cotação") mas com um texto que diz que quem dormia era o crítico - o Bonequinho sonhava. Tal e qual a boa sacada da ironia com os logotipos de empresas no início do seu filme (única boa sacada do filme, aliás), Masagão nos propõe uma saudável inversão de valores, na primeira vez que alguém destaca uma cotação como essa (geralmente só se aproveitam os aplausos eventuais - numa validação do mesmo Bonequinho que se critica depois como arbitrário ou desrespeitoso quando ele dorme ou sai no meio do filme). Nunca discutimos o direito dos "opinadores" (críticos, não, por favor) gostarem ou não de um filme, mas sim o fato de toda a carreira de um filme ser decidida hoje pela posição de um desenhozinho numa cadeira - é a arte jogada aos leões, a democratização do acesso nas mãos de uma pessoa despreparada (democratização sim, porque se o "opinador" de fato não impede ninguém de ir ao cinema com uma cotação ruim, no estado atual de coisas ele decide a simples existência deste filme em cartaz). Masagão, como franco-atirador (uma vez recebida esta cotação, não há mesmo muito a perder), se saiu com esta saudável "zoada" no processo todo - que até pode não servir de nada prático, mas pelo menos "avacalhou" com a instituição do Bonequinho.
Um PS importante: ambos os filmes foram lançados pela Imovision, uma das distribuidoras pequenas que mais arrisca na compra dos filmes para o circuito - e mais tem sofrido com sua canibalização. Não é caso aqui de se heroicizar Jean-Thomas (dono da distribuidora), já que seu investimento ou risco de fato nos lançamentos destes filmes brasileiros (subsidiados por prêmios para lançamento) é muito pouco. Mas há que se dar a ele pelo menos o reconhecimento pela vontade de pensar lançamentos diferenciados, de responder ao que o mercado apresenta - atitudes das mais necessárias. São três indivíduos realizando pequenas brigas - mas e o coletivo??
Eduardo Valente

Filmes pro fim de semana

Não há falta de oferta de bons filmes nesse fim de semana - oito ou oitenta, as boas se encavalaram e é preciso escolher. Noves fora circuitão com Kill Bill e afins, rola uma mostra de cinema contemporâneo japonês na Casa França-Brasil que promete ser uma beleza, com pelo menos um filme bem conhecido, Sonatine do Kitano, e mais alguns que pelo menos eu não conheço, mas que despertam a curiosidade. Só tem um problema - o horário bate com o da pequena mostra de filmes de Coni Campos no MAM. E essa mostra do MAM é pequena mas tem dois títulos fundamentais que não foram exibidos nessas outras recentes dedicadas ao cineasta: Um Homem e Sua Jaula, que Coni Campos dirigiu em parceria com Paulo Gil Soares, e Uma Nega Chamada Teresa, protagonizada por ninguém menos que Jorge Ben! Esse último, sem sombra de dúvida imperdível (apesar das histórias que rolam de desavenças entre astro e diretor), passa na sexta, e Um Homem e Sua Jaula passa no sábado - os outros filmes da mostra, ótimos, são pelo menos figurinhas menos difíceis de achar. Então, que se tente conciliar os programas (Sonatine vai ter que rodar...)

Há também a maratona no Odeon, há também a mostra com os filme de Cacá Diegues no CCBB...
Bem, Diegues sai da minha agenda sem culpa nesse fim de semana - por mais que eu goste de alguns (certamente Xica da Silva, Bye Bye Brasil, Dias Melhores Virão), são filmes fáceis de achar.
E a maratona... com todos os elogios que merece esse programa do Estação (a idéia é um barato), será que é uma boa transformar ele de uma vez numa sessão de pré-estréia, como tantas outras pela cidade? Como opinião pessoal, eu sinto falta de uns títulos mais empolgantes pra me fazer gastar a madruga no Odeon.
Daniel Caetano