31.3.04

Agora tem que exibir o Lado B!

Já que o leitor perguntou num dos comentários, cabe aqui o esclarecimento: o problema que eu enxerguei nessa seleção dos "melhores documentários musicais brasileiros" não se restringe aos filmes escolhidos, não é apenas uma questão de gostar mais de um do que de outro. O problema é que quase todos são filmes de fácil acesso. Por mais que eu esteja curioso para ver Samba Riachão (eu tenho o CD do Riachão e é muito bom), o filme vai estrear em breve no Rio. Por mais que eu goste muito de Nelson Cavaquinho, Nelson Freire e Tim Maia e não goste tanto nem de Paulinho da Viola - Meu Tempo É Hoje nem de Nelson Sargento, a questão não não se resume a afeto - o fato é que são todos filmes que só não viu quem não quis. Mas tudo bem, os jurados foram consultados e foram escolhidos, naturalmente, os filmes mais vistos - e não os melhores (até porque... melhores para quem, além da soma dos jurados?).
Então fica aqui uma sugestão para o pessoal do É Tudo Verdade, que teve essa boa idéia dos documentários musicais: por que não uma versão "Lado B" no ano que vem?
Nem precisa fazer novas enquetes - basta escolher os filmes menos citados e mais queridos dos jurados já consultados (as listas individuais estão publicadas no site, e vale a pena dar uma olhada, porque algumas são muito bonitas). Afinal, se filmes como A Música Segundo Tom Jobim (de Nelson Pereira dos Santos), Música Barroca Mineira (do Arthur Omar), Pixinguinha (do J.C. Horta) e Hermeto, Campeão (do Thomas Farkas), entre muitos outros, foram tão pouco citados, talvez isso se deva não à qualidade mas justamente ao fato de serem filmes pouco vistos, indisponíveis em vídeo e raramente exibidos em cinema. E exibir grandes filmes desconhecidos não seria um dos objetivos de um festival como esse?
Então, começa aqui a campanha: essa mostra tem que ter Lado B!
(Ok, admito: a vontade de ver A Música Segundo Tom Jobim pra mim é um motivo mais do que bom pra defender essa versão complementar da mostra)
Daniel Caetano

27.3.04

E o que é a Verdade?, perguntou o outro...

É isso aí, começou a edição anual do festival É Tudo Verdade. Entre muitos filmes legais que vão ser exibidos, a Contra comete o cabotinismo de divulgar e indicar dois filmes da casa:
- um é O Galante Rei da Boca, o filme mais do que imperdível sobre o lendário produtor Antonio Polo Galante que nosso compadre Luís Alberto Rocha Melo (o célebre Morris Albert) dirigiu em parceria com Alessandro Gamo - vai ser apresentado na mostra competitiva. Galante é uma figura incrível, e rever sua produção de filmes baratos e rentáveis é coisa que o cinema brasileiro devia a si mesmo já há muito tempo. O Galante Rei Da Boca vai ser exibido em Sampa na segunda-feira, dia 29/03, no Cinesesc, e no Rio passa na sexta, dia 02/04, no Teatro II do CCBB.
- A outra indicação é do novo filme do nosso colaborador Ricardo Miranda, Descobrir, que passa na mostra O Estado Das Coisas. Em Sampa passa três vezes, no CCSP e no MIS, e no Rio vai ser exibido no dia 03/04, no CCBB.
Isso pra não falar do monte de filmes bacanas que vão ser exibidos, entre eles uma retrospectiva do recém-falecido Jean Rouch, um filme recente de Frederick Wiseman (Violência Doméstica, de 2002) e uma retrospectiva bacana de documentários musicais brasileiros (com alguns altos e baixos na programação, é preciso notar).
Daniel Caetano

25.3.04

Contracampo: Sganzerla

Bem, a Contracampo faz a sua homenagem - e mais material deve ser publicado na próxima edição. Mas não é a primeira vez que tem coisa sobre Sganzerla na Contra. Segue aí uma lista de links com artigos diretamente relacionados a mister Sgan:
- Logo nas primeiras edições o Bernardo escreveu sobre Tudo é Brasil, num texto dedicado ao filme e noutro tecendo algumas comparações com Central do Brasil (essa oposição, como já se contou por aqui, foi um dos estímulos pro Ruy e o Bernardo criarem a revista).
- Na edição 14 tem um artigo do Ruy também sobre Tudo é Brasil, numa revisão do ano que terminava.
- Na edição 21 tem um texto do Ruy e do Juliano sobre a encenação de Savannah Bay no teatro.
- Na edição 27 há um dossiê que inclui o manifesto de apresentação de O Bandido da Luz Vermelha, Cinema Fora da Lei, escrito por Sganzerla, e a histórica entrevista para o Pasquim de Sganzerla e Helena Ignez, "A Mulher de Todos e Seu Homem".
- Na edição 30 há um artigo meu sobre A Mulher de Todos.
- Na edição 38 há uma entrevista com Helena em que ela fala longamente sobre suas atuações nos filmes com Sganzerla, e há dois bons textos de Sganzerla sobre A Mulher de Todos : o press-release do filme e o texto de apresentação do diretor na página de "filme em questão" do JB da época.
- Na edição 42 há um texto de Sganzerla sobre O Padre e a Moça de Joaquim Pedro, além de uma outra entrevista com Helena Ignez.
- Na cobertura das mostras feita na edição 53 há o texto do Ruy sobre O Signo do Caos.
- E na edição 56 a gente publicou aqui no PG um texto do João Lanari sobre o sujeito e sua carreira.

ATUALIZAÇÃO: No comentário aqui embaixo, Bernieoak me lembrou de um escrito dele que ficou faltando nessa listagem, um artigo falando de Sganzerla justamente na edição que a Contra dedicou a alguns de seus diretores atuais prediletos.
Daniel Caetano

23.3.04

Polanski 2 – O Diretor

Rever O Bebê de Rosemary, tendo o visto uma única vez na adolescência em cópia dublada na tevê, foi melhor que conhecê-lo. Polanski não nos dá nada além do que é dado a Rose (Mia Farrow), mas, a partir de um sonho no qual a protagonista é estuprada por uma criatura não humana e do qual acorda com arranhões nas costas, nós saberemos, e ela insistirá em ignorar, sobre sua condição de vítima de uma conspiração maligna. Todas as pistas serão fornecidas a partir daí de forma explícita, mas ela não perceberá. Essa diferença entre nossa percepção e a da personagem é fundamental. Torcemos para ela sair de sua cegueira e, assim, perceber-se manipulada por vizinhos, marido e médico. Mas onde está nossa vantagem? O que sabemos a mais que ela? Arrisco dizer que a resposta, não unânime pelo percebido em uma discussão após o filme com outras duas pessoas, está em uma sequência. É justamente aquela na qual ela acorda do sonho e nós a vemos de costas, arranhada, enquanto ela percebe apenas um arranhão menor, na lateral dos seios (supõe-se), sem enxergar a extensão do machucado (pois não tem como ver). Este momento é divisor e nos dá uma vantagem sobre ela. Mas há outro componente de nossa superioridade na percepção dos fatos sugeridos pelas evidências. Não temos intimidade alguma com o marido, ao contrário da personagem, e isso nos leva a colocá-lo sob desconfiança, ao passo que a protagonista, mesmo sentindo algo de diferente no comportamento dele, não cogita a hipótese dele estar tramando algo contra ela. Simples assim. Mas são por esses recursos narrativos e dramáticos, de manipulação de personagens e espectadores, que os diretores diferem-se um do outro.
Cléber Eduardo

Polanski 1 – O Malcriado

Roman Polanski faz um esforço imenso para causar constrangimentos em seus interlocutores. Seja pela falta de educação, quando contrariado por perguntas das quais discorda, seja por respostas medíocres, quando solicitado a verbalizar reflexões sobre sua obra. Na duas passagens anteriores pelo Brasil, uma para divulgar Busca Frenética, outra para falar de O Pianista, já havia exibido seu espírito azedo. Não foi diferente na entrevista coletiva realizada em São Paulo na segunda-feira, 22 de março. Ele esbanjou grosseria em sua impaciência com a tradutora, competente durante a maior parte do tempo, e foi agressivo na reação a algumas perguntas. Também ameaçou dar um piti quando soube que a organização vetara perguntas mais espinhosas, como a probição judicial de sua entrada em solo americano, motivada pela relação sexual com uma menor de idade nos anos 70. “Posso lidar com isso, sou um garoto crescido”, disse, pela primeira vez em inglês e não em francês, à assustada tradutora que apenas obedecia ordens.
De modo geral, como tantos outros cineastas cujas obras são superiores às suas palavras sobre elas, Polanski empenhou-se, aparentemente, em desintelectualizar a coletiva. Em alguns momentos, dizia ser incapaz de responder. Em outros, não respondia, optando pela tangente. Não quis falar sobre suas principais obsessões temáticas, dizendo à repórter da Folha de São Paulo que ela estava sendo muito cartesiana, e negou-se a dar sua definição para o “mal” a este redator, se algo imanente ao ser humano, ou se fruto de circunstânciais sociais, como sugere a frase do vizinho satanista de Rose em O Bebê de Rosemary (“O Filho de Satã veio para redirmir os rejeitados”). Sua desculpa: “Não sou filósofo para comentar a esse respeito". Com a insistência na questão, se tinha interesse especial por situações de ameaças aos sistemas de controle civilizatórios, seja no campo individual (como em Repulsa ao Sexo), seja em leque mais amplo (como em O Pianista), saiu-se com essa: “Isso só serve em suspenses”. Então, como disse André Bazin a William Wyller ao fim de uma conversa sobre uma sequência de um filme do segundo, “os filmes vistos, sem dúvida, são melhores que os filmes feitos”. Diante de reações assim, nada esclarecedoras sobre suas posturas como artista, fica uma última pergunta: por que ele veio mesmo a São Paulo?
Cléber Eduardo

22.3.04

Mojica no Cachaça!

Quarta-feira, 24/03. Passa O Roteiro do Gravador, do Sylvio Lanna, Paulo e Ana Luiza em Porto Alegre, de Rogério Brasil, o muito sinistro Ave, o primeiro curta do Paulo Sacramento, e a noite se encerra muito propriamente com Fim, filme mais recente de José Mojica Marins. Cachaça é sempre imperdível, dessa vez é ainda mais.
Vai ser às 21hs. Odeon-BR, como sempre. No final, som do Marco Dreer e degustação de Magnífica, como sempre. Afinal de contas, pra quê mexer em time que tá ganhando?
Daniel Caetano

Blogs

Como a leitora pediu, sinto-me na obrigação de listar pelo menos os blogs do pessoal da casa.
Na verdade, há mais de um motivo pra não listar blogs mil, isso vai além da diversidade que se tem por aí. Blog, como se sabe, é site pessoal, e aí a leitura tem muito a ver com a afinidade que se estabelece com quem escreve e, concordando ou não, é preciso ter interesses semelhantes por cinema - gosto, nesse caso, é só o que se discute.
Mas os blogs da casa a gente lista com prazer - são os seguintes os contracampistas com site pessoal sobre cinema:
- Bruno Andrade
- Filipe Furtado
- Sérgio Alpendre
e os colaboradores:
- Francisco Guarnieri
- Gulherme Martins
- Paulo Ricardo de Almeida
- Renato Doho
E também tem o do nosso dizáiner Tiagão, que não é só sobre cinema mas é sempre maneiro.
Nesses blogs citados há links para vários outros também sobre cinema que merecem atenção e visita. E em cada um destes outros há mais links para novos blogs sobre cinema - então fica aqui esse início de caminho pra quem quiser ir descobrindo outras leituras boas aí pela web. Tendo disposição pra procurar, a gente hoje em dia acha bastante coisa bacana e interessante pra se ler no mundo da blog-cinefilia.
Ah, sim: quem quiser pode deixar o endereço do seu blog aqui nos comentários - é um jeito simples de divulgação que sempre é, certamente, muito bem-vindo!...
Daniel Caetano

19.3.04

Cristo!

É impressionante observar a blitz midiática no lançamento de A Paixão de Cristo. A Folha de São Paulo publicou hoje um artigo que traça toda a carreira do filme, com destaque para a forma como a sua divulgação fez uso da polêmica junto à mídia para torná-lo um evento. Muito legal, não fosse o fato da matéria sair no mesmo dia em que o jornal, além de lhe dar a capa do caderno de cultura, dedicou outras três paginas a ele (com direito até a artigo sobre a fidelidade do filme ao aramaico!). Cobertura tão massiva que se o leitor quiser saber algo sobre as outras duas estréias da semana (os novos filmes de Nelson Pereira dos Santos e Marcelo Masagão) terá que ir procurar na revista de fim de semana, porque no caderno de cultura não há sinal algum da existência deles. Imagino que durante a semana os filmes deverão ter crítica publicada no jornal, seguindo a sua política habitual com lançamentos tidos como de menor importância em semanas com muitas estréias. Claro que Raízes do Brasil é só o primeiro filme com lançamento em cinema em quase uma década de um dos nossos cineastas mais importantes (que ainda calha de ter como tema um dos nossos intelectuais mais importantes), mas que importância isto pode ter diante do Cristo de Mel Gibson?
Filipe Furtado

17.3.04

Raízes

Bem, leiáute novo, ainda vamos demorar um pouquinho de nada pra botar ordem na casa.
Mas fica aí a dica pra hoje, na sessão Cineclube lá no Odeon-BR. Vai passar em pré-estréia os dois capítulos de Raízes do Brasil, com a presença prometida do Nelson Pereira para o debate após a sessão.
Em Sampa a pré-estréia é amanhã, dia 18, na Cinemateca Brasileira. E, morramos de inveja, além de Nelson devem apresentar o filme Antonio Candido, Paulo Vanzolini e Hector Babenco.
Tanto no Rio como em Sampa, o horário é 20hs.
Daniel Caetano

4.3.04

Complemento pro post aí embaixo: pra quem gosta do Superoutro, tem aqui uma entrevista com o Edgar Navarro e um texto do Bernardo sobre ele.
E o MAM já atualizou o site com a programação de março da sala de cinema. Estão lá as datas e horários da mostra Cineclubes em Ação.
Daniel Caetano

2.3.04

Da série "programas"

A boa aqui no Rio é ir na mostra A Tela Aberta, que começa hoje no CCBB-RJ. Só tem filmão, ou quase: entre outras jóias, vão exibir belezas como Memórias do Cárcere, Cabra Marcado Pra Morrer, Filme Demência, Tudo Bem e Aopção. E eu pretendo ir rever A Idade da Terra no cinema.
Ah, sim, e mais uma boa: quinta-feira vai ter a abertura da mostra Cineclubes na sala de cinema do MAM, começando com nada menos que Cachaça Cinema Clube, exibindo nada menos que O Superoutro! Será que o termo obra-prima tá muito desgastado? bem, o filme de Edgar Navarro merece. Também vão passar o SuperTição, do Still, e o Urubucamelô, "do Samir Abujamra e mais uma galera", segundo o Joãozinho. É imperdível, então. Quinta-feira, às 19:30, no MAM.
Só não adianta dar o link, porque o site do MAM não tá atualizado...
Daniel Caetano