27.2.04

Fim de seMAMna

Outra coisa: o programa cinéfilo imperdível desse fim de semana é, desde já, a exibição de Tudo Azul do Moacyr Fenelon na sala de cinema do MAM, às 18hs de sábado. E no domingão, depois de uma sessão com curtas do mais alto nível às 16hs, vão exibir às 18hs nada menos que Rio Zona Norte, o segundo longa de Nelson Pereira que provavelmente é o melhor filme do mundo.
Portanto, repito: imperdível - pra quem for do Rio e gostar de cinema, claro.
Daniel Caetano

Links e mais links

Vamos lá:
- A Cinestesia tá com edição nova no ar, e nela tem, entre outras coisas, duas belas pepitas: uma entrevista com Tsai Ming-Liang e outra com Eduardo Coutinho.
- O Zetafilmes já é um site conhecido há muito tempo pelo pessoal que curte ler sobre cinema na internet. Mas o que eu não sabia (de repente sou desses últimos a saber, mas vai aí o link) é que eles estão publicando em português as entrevistas com cineastas feitas pelo site norte-americano Indiewire. Entre altos e baixos, gente como Sofia Coppola, Elia Suleiman e Kiyoshi Kurosawa, além de medalhões como David Cronenberg, David Lynch e Robert Altman - e eu só listei uns aqui, tem mais um monte lá. (Agora, comentário nas internas: bem que podiam publicar também a entrevista do Karim Ainouz, né?;-))
- Um artigo bonito pra ler sobre um filme sério: João Moreira Salles escrevendo sobre o filme S21, A Máquina de Matar do Khmer Vermelho. Só pra dar um pitaco, acho que faltou citar a obra-prima Nuit et Brouillard, do Resnais, ao lembrar de filmes com tema semelhante.
- Um texto divertido sobre um assunto festivo, pra contrapor: Don Carlone Reichenbach escreveu sobre sua experiência ao vir assistir ao desfile das escolas de samba!... Agora, viajar de Cometa, Don? Não cometa este equívoco! Pô, a viação Cometa, além de ser um horror, é do João Havelange, que é um horror ao quadrado!
Daniel Caetano

19.2.04

Mestre dos mestres

O Le Monde anunciou hoje a morte em um acidente de carro de Jean Rouch. Aos 86 anos e mais de 120 filmes na carreira, Rouch é um dos nomes mais essenciais para a existência de tudo o que nós nos acostumamos chamar de cinema moderno. Seu cinema-verité (que buscava a "verdade do cinema e não a verdade no cinema" - conceito rouchiano que se popularizou com o gênio explosivo de Godard) foi o momento mais crucial para tudo o que hoje se pode pensar sobre os pactos de encenação no cinema e sua relação de "representação da vida" para com o espectador. De Godard a Eduardo Coutinho, todo o cinema moderno deve muito à forma como Jean Rouch (um etnólogo decepcionado com a academia e com a frieza das pesquisas campais) ultrapassou os conceitos da ilusão e do real na construção do espaço cênico/narrativo e na descoberta do outro. A "super-verdade" buscada por Rouch em Os mestres loucos (1954) ecoa até hoje no que de melhor se faz no cinema dito "documental" em qualquer parte do mundo. O diretor do clássico (obrigatório) Moi, un noir passou as últimas décadas de vida à frente da sala da Cinemateca Francesa em Paris, sendo responsável pela programação e agitação cultural que a caracterizam. É difícil não ver simbolismo na morte de Rouch durante uma viagem pelas estradas da Nigéria, país essencial em sua obra, onde o cineasta encontrou/construiu alguns de seus maiores parceiros/personagens, descobrindo no improviso e na super-interpretação do cotidiano (e de seus rituais) um dos dispositivos mais ricos e instigantes com que o estatuto da imagem cinematográfica já se deparou. Com Rouch, o cinema documentário refez o caminho de volta ao seio da ficção narrativa e levou a ela o peso de sua câmera, o lugar do recorte emergencial - redescobrindo as "verdades" da ficcionalização, fazendo da encenação das identidades e do teatro do cotidiano um evento único, efêmero e muito além dos meros dispositivos de registro ou das fórmulas de representação "delicada" da monótona indústria "ficcional" ...Com Rouch, o documentário perdeu a sua empáfia e a ficção pôde dar um adeus definitivo à sua cínica ingenuidade. Grande Jean Rouch. Essencial Jean Rouch.
Felipe Bragança

17.2.04

Don Carlone!

Bem, a gente não tem intenção de divulgar endereços de blogs mil pela internet por um simples motivo: são mais de mil. É coisa demais, alguns muito engraçados, outros muito inteligentes, outros muito informativos e por aí vai. Abrimos exceções ocasionais para os blogs dos redatores da revista por razões óbvias - e quem quiser sempre pode divulgar o seu blog nos comentários das notinhas. Mas não é nossa intenção fazer uma listagem gigantesca dos milhares de blogs sobre cinema que rolam por aí - a idéia já foi considerada e, por razões práticas, descartada.
Isso dito, vamos furar a regra simplesmente porque agora é o caso: Carlão Reichenbach está mais uma vez botando seu bloco na rua, quer dizer, na web, e de cara está publicando dois blogs simultâneos. Quem acompanhou as fundamentais colunas que o Don Carlone manteve nos sites do Terra e do Cineclick sabe que a leitura é imperdível.
Ok, então tá aí. Um se chama Olhos Livres, o outro se chama Reduto do Carlão. Pelo que deu pra entender, o primeiro é feito de textos mil, sejam de autoria própria, de terceiros ou mesmo entrevistas, e o segundo está mais para album de família cheio de fotos (que, vindo de quem vem, a gente pode esperar de tudo).
Maneiro, maneiro mesmo. O Don Carlone só precisa agora decidir se quer escrever sobre si na primeira ou na terceira pessoa.
Daniel Caetano

16.2.04

Saiu no Globo (12/02) o que nos bastidores já se constatava: que a promessa da Prefeitura do Rio de colocar R$ 3 milhões para dar condições ao Arquivo Nacional de cuidar das matrizes expelidas da Cinemateca do MAM, feita publicamente nos jornais em 2002, não passou de um aceno sem fundamento e enamorado pelo marketing de ocasião. Ver a Prefeitura colocar milhões em uma única edição do Festival do Rio (um festival particular, que cobra ingressos caros) e se negar a implantar uma Cinemateca Carioca - com um orçamento que nem de longe se aproxima dos padrões megalômanos de nosso prefeito - vem confirmar o amor incondicional dessa famigerada administração pelos holofotes e fogos de artifício. Quando as películas foram para o Arquivo em 2002 já era óbvio que o Rio precisava não de um novo improviso, de um novo "MAM", mas de um verdadeira Cinemateca Carioca, mantida pelo patrimônio cultural da cidade e voltada para ser referência da memória cinematográfica brasileira. Mas o que dizer de uma prefeitura que tem como proposta retumbante de solução (e símbolo da vocação do Rio para o cinema) uma tal "cidade do cinema" que seria construída no cais do porto, ao lado das águas da Baía de Guanabara? (Será que alguém avisou a eles que a umidade faz mal aos filmes?...)
A ignorância - aliada ao desinteresse da cúpula do Piranhão (antes que a coisa virasse capa de caderno cultural, é claro...) e à rapidez com que o Arquivo Nacional se dispôs a cumprir o urgente papel de "guarda improvisada" - fez com que projetos mais embasados (e os profissionais mais habilitados, vale lembrar...) para a preservação e difusão da memória cinematográfica da cidade fossem simplesmente "arquivados". Um ano depois: o que temos agora? Matrizes em condições precárias, guardadas em um prédio que não foi preparado devidamente para recebê-las, esperando uma promessa vaga + uma política municipal de cultura espelhada num desejo tupiniquim de broadway e efêmeros refletores + projetos consistentes para nossa cinemateca, engavetados por mais uma década ou duas (?) = a certeza de que daqui a uns vinte anos nossa memória audiovisual vai ter se perdido em mais algo em torno de 40% a 60%. Transformar o Arquivo Nacional em um novo sarcófago de filmes foi a solução mais cruel e mais farsante que se poderia ter tido para a crise da Cinemateca do MAM - além de ter perdido o mínimo de organização que o Censo Cinematográfico (bancado pela BR) trinha conseguido trazer ao acervo de matrizes do museu.
(Felipe Bragança)

Olha, dar o link do JB em duas notas seguidas... bem, digamos que seja para nós coisa inesperada aqui no nosso Contrablog. Mas há uma reportagem-entrevista com Diler Trindade publicada no B esse domingo que merece a leitura. Pra pensar na vida, digamos assim.
(Daniel Caetano)

14.2.04

O reconhecimento é tardio, mas necessário: parabéns ao Jornal do Brasil (JB), que passou a chamar de "opinião", não mais de "crítica", aquelas anotações e dicas do seu "suplemento cultural" (a Revista Programa) sobre os filmes que entram em cartaz no Rio de Janeiro. Arroubo inesperado de honestidade jornalística, onde se admite que opinião, afinal, todo mundo pode dar. Crítica é que são elas, ainda mais no espaço destinado para tal.
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Enquanto isso, no Globo, o exército cada vez maior e menos interessante de opinadores (entre os quais sobressai sempre Jaime Biaggio - que, reconheça-se, tem opinião para dar e o faz com estilo inconfundível) continua escrevendo "críticas". E, pior, se elas nada influem no sucesso ou fracasso de um Senhor dos Anéis ou Xuxa, cada vez mais ditam quantas semanas um filme fica em cartaz nos circuitos menores, e até mesmo se eles entram em cartaz na cidade. Nefasta relação "cultural", devia pelo menos ser assumida oficialmente, com um pequeno salário sendo pago aos opinadores pela programação dessas salas.
(Eduardo Valente)

2.2.04

Avisamos a todos que a votação dos melhores do ano pelos leitores da revista termina na sexta feira desta semana, dia 6. Não deixem de votar mandando suas listas para contracampo@yahoo.com, a eleição está apertadíssima!
(Eduardo Valente)