27.1.04

Embora os mais cínicos possam dizer que as quatro indicações ao Oscar apenas confirmam o que muitos diziam (que Cidade de Deus era um ótimo filme hollywoodiano), prefiro lembrar que todo filme feito no Brasil, com equipe e produção brasileiras, ainda mais com um brasileiro na direção, falado em português, é brasileiro sim, até a medula. Bobagem ficar medindo "quantidade de influência" externa em filme - filmes afinal são produtos do seu meio e tempo, então as influências que eles tenham também falam muito disso. Por isso tudo, parabéns sim ao Meirelles, que conseguiu a projeção que buscava para o seu filme. Para o cinema brasileiro, o Oscar não deve ser considerado tábua de salvação de nada. Mas, no quesito pessoal, parabéns ao Meirelles e seus técnicos indicados. Eles merecem.

********************
Falando em Oscar, sendo pouco mais que uma curiosa festa de quermesse (com o acaso que a quermesse tem alcance mundial), falamos pouco ou nada ele aqui na revista, porque afinal ele é sobre tudo, menos cinema. Querem uma prova? Entre os indicados a melhor fotografia não constam Encontros e Desencontros e Sobre Meninos e Lobos, dois primores de enquadramento, trabalho de luz, cores e claro/escuro. Mas, é claro, porque não é um prêmio à fotografia mais adequada ao seu filme, mais perfeitamente adaptada à proposta do realizador, mais expressiva, e sim à fotografia mais "bonita", ou seja, chamativa e auto-centrada. Mais alguma dúvida de porque não dá nem pra conversar sobre isso a sério?
(Eduardo Valente)

26.1.04

A nova edição de DVD/VHS é dedicada ao cineasta norte-americano Monte Hellman. Pouquíssimo conhecido no Brasil, Hellman, assim como Joe Dante (o último diretor que recebeu um foco de nossa seção), é um autor egresso da escola de Roger Corman que desenvolveu uma robusta obra no decorrer das décadas de 60 e 70 (incluindo a obra-prima Two-Lane Blacktop, recentemente exibido na TV por assinatura e criticado aqui). Ao contrário de Dante, porém, Hellman amargou longos intervalos de inatividade entre seus filmes e não foi capaz (ou melhor, não se interessou) de migrar para os estúdios – muito por conta do ritmo lento que ele imprime a suas narrativas e de seu estilo minimalista e inimitável. A obra de Hellman, descrita por um crítico americano como “o segredo mais bem guardado de Hollywood”, vem sendo redescoberta graças ao lançamento de seus filmes em DVD nos EUA (alguns poucos foram lançados em video e DVD no Brasil); aproveitamos o embalo para falar de alguns de seus filmes. Completando a edição deste mês, críticas de filmes de Abel Ferrara, Ron Shelton e Bruno Barreto, além de um texto sobre o lançamento do magnífico DVD duplo de Era uma vez no Oeste, de Sergio Leone. Em Fitas do Sótão, a presença de Cristopher Lee num clássico de Mario Bava recém-lançado em DVD no Brasil e em dois filmes de Jess Franco, como Fu Manchu (um deles filmado no Rio de Janeiro). Boa leitura!
(Fernando Verissimo)

14.1.04

Votação dos melhores de 2003!
Aí, pessoal: é mais do que hora da listinha de melhores do ano passado. Estão todos convidados a mandar suas listas (com cinco filmes), para que a gente tenha a lista dos nossos leitores para a próxima edição. É só escolher os cinco prediletos entre os lançamentos no Rio de Janeiro e mandar para o e-mail da revista, contracampo@yahoo.com.
(Daniel Caetano)

12.1.04

Buenas,
Sganzerla morreu, como cineasta foi gigante e seus filmes são nossos. E agora passamos brevemente por período em que a mídia flerta morbidamente com seu nome (com muitas besteiras sendo escritas por aí, como acontece nessas horas). Podemos torcer então para que daí venham apoios que ajudem à preservação dos seus filmes - e acompanhar os documentos e depoimentos que podem surgir.
A revista novae publicou aquilo que está divulgado como "a última entrevista de Sganzerla" - e vale ler engolindo em seco o clima mórbido, porque uma entrevista recente de mister Sganzerla, com suas idéias sobre a disposição de criar, sempre seria coisa muito valiosa.
(Daniel Caetano)

10.1.04

Os Deuses de 2003
Nada mais hilário e coerente. Em 2003 tivemos Jim Bush Carrey explodindo hidrantes, levantando as saias das mulheres nas ruas e soltando umas bombazinhas no Oriente Médio, só pra testar seus poderes. Só de brincadeirinha, pra mostrar que é o tal. Em vez de acabar com a fome, por exemplo, preferiu mudar todo o sistema solar pra oferecer estrelas à sua amada. Em compensação aqui, na aridez do solo e dos postos de trabalho, Antonio Lula Fagundes da Siva afirmou que nunca trabalhou tanto, mas tava cansado, de saco cheio. Suas barbas brancas refletiram o quanto é difícil fazer chegar comida às cidades do Fome Zero e resolver de vez a reforma na Previdência. Pensar num número de crescimento do PIB dá uma preguiça... Melhor mesmo é escolher uma cidade do litoral do Nordeste e descansar um pouco. Os bonés dos sem-terra ajudam muito a evitar insolações.
(Érico Fuks)

Sessão Cineclube
Bem, estamos de volta ao Odeon com a nossa querida Sessão Cineclube, parceira do Grupo Estação com o pessoal aqui da revista. Só tem uma coisa: mudou o dia. Não adianta choro nem vela, que o programa predileto de sábado mudou-se para as quartas-feiras. Na próxima semana já recomeçamos, com a exibição de As Férias do Sr. Hulot, do Tati. A programação das próximas semanas pode ser conferida aqui no PG, assim como no site do Estação ou nos tijolinhos dos jornais do Rio.
(Daniel Caetano)

9.1.04

Rogério Sganzerla (1946-2004)
O mais original, engraçado, surpreendente, agressivo, inteligente, provocador, criativo, brilhante...
Muito já se falou de Rogério Sganzerla aqui na Contracampo, e não foi por acaso. Pra se ter idéia da importância dele pra essa revista, foi pensando na oposição entre Tudo É Brasil e Central do Brasil que o Ruy e o Bernardo resolveram criar a Contracampo, já se vão cinco anos.
Dessa estranha arte muito se pode fazer e imaginar. Poucos nos mostraram tantas novas possibilidades, quase nenhum outro pôde compreender tantas, e nenhum outro com tamanho talento. Soube tirar o seu Cinema da loja de brinquedos.
Nesse momento de tristeza, resta-nos agora o silêncio.
(Daniel Caetano)